Fotografia retirada de http://bethgibbons.net |
O meu pai tem sete filhos de quatro mulheres diferentes. Naturalmente, alguns dos seus genes terão passado pelo óvulo e formado este ser que vos escreve. É que, sem querer ser bronco ou machista, tenho de dizer à boca aberta que adoro mulheres – e se estas fizerem música de algum tipo, melhor ainda. (Não peço às mulheres para me adorarem de volta; conhecendo-me, isso ser-lhes-ia impossível. Fiquemo-nos pelo platonismo da coisa.)
Por adorar mulheres, houve uma banda da qual me enamorei durante algum tempo, antes da vergonha me impedir de continuar a escutá-la – e depois da vergonha, porque a vergonha é imbecil quando se fala de coisas de que gostamos, veio o mais completo desinteresse. A banda eram os Nouvelle Vague, e surgiram na minha vida quando andava a “largar” o metal, na busca de outros sons que não os extremos. Não me lembro do que mais gostava; se das vozes das vocalistas (cujos nomes perdi no tempo, e nem sequer me apetece googlá-los), se da toada bossa nova da coisa ou se do facto de interpretarem temas que eu conhecia de outras lides, seguindo uma roupagem inteiramente distinta – algo que, nos anos formativos de um melómano, ajuda, e bastante.
Enamorado, ao ponto de os ter ido ver à Aula Magna, em 2007 (cumpre-se uma década em Dezembro), na companhia da Cátia, provavelmente a única pessoa com a qual me dava naqueles primeiros anos de faculdade e antes de lhe pôr uma pausa e, posteriormente, regressar (não à Cátia, à faculdade. À Cátia, nunca mais a vi e não aconteceu absolutamente mais nada nessa noite para além de uma dancinha durante a “Too Drunk To Fuck”, sinónimo de que uma coisa é ter genes e outra muito diferente é ter sucesso).
Mas falava de mulheres, não é? Se os Nouvelle Vague são uma nota de rodapé no diário de bordo dos vastos anos que perdi e perco a ouvir música, já os Portishead são uma daquelas bandas às quais nos referimos, bem, como daquelas bandas. O interesse era, naturalmente, diferente; lembrava-me de “Sour Times” (sim, “Sour Times”, e não “Roads” ou “Glory Box”) a rodar na MTV e de me fascinar com aquela aura noir, numa época em que eu ainda nem sabia o que era noir, mulheres ou os Portishead; 1994, 1995, 1996 foram anos de Mega Drive, Sega Saturn e trabalhos de casa. E falava de mulheres, por isso falo de uma das minhas primeiras paixões: Beth Gibbons, pois claro.
A mesma Beth Gibbons que, três meses após o supracitado espectáculo na Aula Magna, pisou o palco do Coliseu de Lisboa para, em “Sour Times”, apontar o seu dedinho na direcção do público justamente quando cantou: Nobody loves me, it’s true… Not like you do, levando centenas e centenas de corações a disparar (nem todos masculinos). A mesma Beth Gibbons que, sem que ninguém o previsse – por ser mulher e, especialmente, ser Senhora –, desceu depois do palco e veio ter com esse mesmo público, deixando-se ser acarinhada como se num concerto punk. Eu, que estava nas grades, não lavei a mão direita com a qual lhe fiz uma festinha no cabelo durante, sei lá, umas duas horas (foi o tempo de chegar a casa depois do concerto). Foi à altura o meu momento mais íntimo com uma mulher. Seja como for, não preciso de ter sete filhos. Basta ter sete irmãos…
Paulo André Cecílio