Amanhã, dia 10 de Abril, às 22h, na ZdB 🙂
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São uma autêntica, não uma mera novidade, estes Drinks. Fazem música dura, com osso, mas que também sabe ser sinuosa, delgada. Feita de canções pequenas, portáteis, quase tangíveis, mas, também, aberta a desvios, a fugas, a metamorfoses. Formados por Tim Presley (White Fence) e a galesa Cathy Le Bon, lançaram há quase dois anos esse discretíssimo Hermits on Holiday. Aqueles mais atentos perceberam o que tinham diante dos ouvidos: um disco consciente de um legado, de uma herança. Que legado, que herança? Falamos de uma série plural de nomes: os Byrds, os Captain Beefheart, os X, os Tall Dwarfs, e mais recentemente os Yo La Tengo ou os Deerhoof. São todas (sem dúvidas) bandas irredutíveis a categorias e classificações, mas ouse-se dizer que há qualquer coisa que as liga. Um gosto comum pela beleza das canções irregulares ou imperfeitas (basta pôr a tocar a “Laying Down Rock”), por acordes que falam com outras melodias, por um desempenho cujo fim é o puro prazer de tocar (ouçam a frenética e borbulhante “Cannon Mouth”).
Não se cometa a injustiça de falar aqui de indie-pop ou de música de guitarras. Os Drinks estão carregados de história, não para nela se enredarem, mas a fim de continuar. São uma banda deste tempo. E há, a propósito, dois traços em Hermits on Holiday muito reveladores dessa condição. Um apreço pelas canções que não os impede de virá-las do avesso, de as animar de modo imprevisto, como em “Cannon Mouth (que se desdora em vários ritmos) ou mesmo de as transfigurar em “Time Between” (que avança num crescendo de gravidade); e uma capacidade de irmanar os sons das guitarras, da percussão e dos teclados em nome da composição. De alguma forma, é como se retomassem as possibilidades deixadas em suspenso pelos nomes acima mencionados e daí fizessem o seu caminho, espontâneo, livre. Portanto, indiferentes aos que vêem a história da música pop e do rock como um processo determinado pela tecnologia ou as inovações técnicas. Os Drinks fazem a sua história e esta noite vão cantá-la. Ouçamo-la, pois também será a nossa. JM