Opinião: Escrito na Água, de Paula Hawkins

Escrito na Água

Escrito na Água
Paula Hawkins

Editora: TOPSELLER

OPINIÃO: Melhor do que A Rapariga no Comboio. Sendo a autora que é, depois de um bestseller estrondoso como foi a sua obra de estreia, esta é a primeira conclusão a que se chega ainda antes de se terminar Escrito na Água. Descolando das comparações com, por exemplo, Em Parte Incerta, ou outra obra do género, Escrito na Água confirma duas coisas.

Que independentemente do cerne da narrativa, Paula Hawkins tem uma escrita que nos envolve e nos prende, mesmo quando já desconfiamos do final muito antes de este chegar (o que não é necessariamente mau, pois tudo continua suficientemente intenso para nos levar a querer confirmar – ou não – as nossas desconfianças); e a segunda é que me parece que Paula Hawkins veio para ficar e que tem todas as ferramentas literárias, pela técnica e pelo estilo, para continuar a deslumbrar os seus leitores. 

Confesso que toda esta história me causou um certo fascínio, não só pela forma como a escritora estruturou a teia de personagens e as interacções, mas principalmente por me ver tão focada e tão expectante pelo desenvolver da trama. O tema, que mistura um certo misticismo popular com um tema bastante sério – suicídio -, acaba por ser um dos grandes culpados pela fome constante de se saber mais.

Existem obras que apelam ao nosso emocional e enquanto as lemos vamo-nos abstraindo da camada estrutural subjacente à história, mas Escrito na Água é o oposto. É um apelo ao nosso lado analítico e dedutivo, sendo quase matemática a forma como olhamos para o enredo e vamos tentando descortinar quem fez o quê quando e porquê. A isso ajuda o facto de termos à volta de uma dezena de narradores, tendo assim várias perspectivas dos acontecimentos, sem nunca sentirmos que existe uma repetição dos acontecimentos.

Duas mulheres morrem, “no poço das mulheres problemáticas”, com dois anos de diferença. Nel, a mais recente “afogada”, é o elemento catalisador da discórdia e da insegurança por entre os habitantes daquele pequeno lugarejo, tão bem caracterizado através das suas gentes. Nel estava determinada a contar a história das mulheres que morreram naquele lugar, desde o registo da primeira à última.

Os factos conhecidos levam-na a querer contar as suas histórias, mas esse é um trabalho que nunca ficou completo. Nel morreu, sem se compreender porquê, já que quem a conhecia de perto dificilmente veria sentido no seu suicídio, mas ao mesmo tempo achavam que seria uma forma “romântica” de chamar à atenção e assim perpetuar a sua fama de destabilizadora.

Jules, a sua irmã, não tem muita dificuldade em acreditar nesta última hipótese, ao mesmo tempo que coloca tudo em causa. A sua relação problemática com Nel teve um forte impacto na forma como desenvolveu a sua personalidade e é extraordinário como Paula Hawkins conseguiu cruzar narrativas presentes e passadas, transformando-as e dando-lhes uma nova forma ao olhar do leitor e dos próprios protagonistas. E isto não acontece só com Jules, mas com vários outros. 

Não me surpreendeu a resolução que se deu sobre as várias mortes ao longo do tempo naquele poço. Aliás, até achei inteligente da parte da autora, mas ao mesmo tempo senti-me um pouco melancólica pois houve uma altura em que esperava uma causa a roçar quase o místico. Devo-me ter tornado demasiado Nel ao longo do livro! Honestamente não me quero alongar muito mais neste texto, porque Escrito na Água é aquele livro que recomendo sem qualquer tipo de receio.

Tem capítulos curtos, personagens tão diferentes quanto empolgantes, mistério e acção quanto baste, e ainda uma forte dose de reflexão sobre até onde estamos dispostos a chegar por aqueles que julgamos amar. Existe uma irracionalidade adjacente a algumas emoções que por vezes cria, na própria pessoa, uma espécie de dissociação, fazendo com que por vezes se olhe para certos factos como se tivesse sido outra pessoa. Porém, os fantasmas raramente desaparecem. Boas leituras! 

PS: Neste texto não falo da grande parte das personagens, porque é-me difícil fazê-lo sem revelar demasiado. Acho mesmo que podem tirar um grande gozo do livro, por isso se vos for oportuno peguem nele e mergulhem nestas águas! 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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