Opinião: A sul de nenhum norte, de Charles Bukowski

A sul de nenhum norte

Charles Bukowski

Editora: Alfaguara

Sinopse: Uma colectânea de 27 contos. Um homem compra um manequim feminino pelo qual se apaixona perdidamente. Um escritor alcoólico e frustrado alcança o sucesso mas não se liberta do vício. Dois vagabundos partem para um assalto noturno e acabam transformados em assassinos. Bêbedos, escritores falhados, prostitutas, ladrões, pugilistas, bandidos: os personagens que povoam as páginas destes contos são velhos conhecidos do mundo narrativo de Bukowski. Um mundo pobre, sujo e feio, retratado com absoluta lucidez mas também com uma profunda compreensão e empatia. A América das ruas, dos bordéis, das salas de jogo, dos bares mais esquálidos e das pessoas mais esquecidas. A América que não conheceu o Grande Sonho e de que Bukowski foi sempre, talvez, a voz mais autêntica. Considerado por muitos como o melhor livro de Bukowski, “A Sul de Nenhum Norte” é o retrato cru e fulgurante dos americanos que desistiram da sociedade e até de si mesmos. Uma reflexão que Bukowski faz com particular genialidade e domínio literário na economia e alvos das suas palavras. 

OPINIÃO: Conheci Charles Bukowski através de algumas citações que conheci pela internet fora, ainda adolescente, naqueles amores e desamores, paixões e desesperos. “You have to die a few times before you can really live.” – “what matters most is how well you walk through the fire” (esta vai-me sempre lembrar um amigo querido que partiu há quase um ano) – entre tantas outras. Comecei então a explorar mais poesia do que prosa, talvez por ser mais imediata, e só me estreei como deve ser neste último tipo de narrativa com este livro de contos – A sul de nenhum norte. Não sou uma entendida do universo Bukowski, por isso se nunca leram, não se sintam culpados, eu não me sentia, nem sinto. Os livros, e principalmente os autores, chegam até nós quando têm que chegar. Se gostei? Já falamos sobre isso.

Peguei neste livro no início de uma viagem de avião que durou perto de três horas. Tinha levado uns três ou quatro livros comigo, mas decidi pegar neste em primeiro lugar. E entre as viagens todas ficou lido. Lembro-me da minha consciencialização de alguma surpresa ao constatar que tinha lido mais de metade do livro nessa primeira viagem, principalmente por ao longo de cada conto ter estranhado, ficado fascinada e até, por vezes, horrorizada com o que lia. Não obstante, dava por mim a querer continuar a explorar este universo mais ou menos constante, mas que de rotineiro tinha pouco. O mundo que Bukowski nos apresenta ao longo destes contos é um mundo sujo, decadente, mas ao mesmo tempo bastante humano, cru. Apresenta-nos um retrato de uma realidade que não me custa minimamente a acreditar que fez parte da sua vida e de muitos outros habitantes na América. 

Bukowski parece-me, claramente, o tipo de escritor que descarregava o que lhe ia na alma, sem filtros, sem querer saber do que os outros pensavam (quer dizer, mais ou menos), tentando, de forma mais ou menos obscena, consoante o seu estado de espírito, provocar algum tipo de reacção no leitor. E é claro que dificilmente alguém fica indiferente a este conjunto de pequenas narrativas onde o álcool, as drogas, o jogo (corridas de cavalo), o sexo (com constante recurso às prostitutas) e o trabalho precário imperam. A linguagem não tem qualquer pudor e o leitor mais conservador poderá até sentir alguma repulsa em certos cenários. No entanto, aqueles que se atreverem a deixar de fora todo e qualquer preconceito não deixarão de sentir um certo deslumbramento, um certo fascínio, quase doentio, pela forma hipnótica como acabamos por nos envolver com a sua escrita e as suas histórias. 

Foi isso que aconteceu comigo. Se gostei? Nem sei bem. Estou perante um daqueles casos que dei por mim a devorar o livro pela estreia no desconhecido. Houve vezes em que o achei genial, outras vezes em que o achei o narrador um autêntico anormal, mas acima de tudo senti que ele foi capaz de redigir com uma imagética extremamente forte relatos que poucos seriam capazes de admitir serem reais. Porém, com uma história de vida como a de Bukowski, será que poderemos realmente ficar assim tão surpreendidos? A conclusão é que só experimentando é que se sabe, por isso sim, leiam se tiverem oportunidade e tirem as vossas conclusões. Vão haver reacções para todos os gostos! Eu sei que depois da estranheza a coisa entranhou e agora quero ler mais prosa do autor. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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