A euforia e o ânimo já se encontram por todo o lado em Lamego. A sétima edição do TRC Zigurfest está a começar e tornou-se imperativo roubar uns minutos à organização, mais propriamente ao Afonso Lima, para ficarmos a saber mais sobre como é que o festival surgiu e qual tem sido a sua evolução. Desde ontem que na ZONA já há movimento e a partir das 16h de hoje já temos o Museu de Lamego a vibrar também. Horários no final da entrevista ou toda a info aqui.
Ainda te lembras como surgiu a ideia de criar o TRC Zigurfest?
Diria que há dois momentos: um prévio a tudo, que era quase um desejo antigo de cada um de nós poder realizar na nossa cidade natal, Lamego, um festival que acolhesse estilos de música dos mais diversos – de artistas que queríamos ver, mas não havia quem os programasse em Lamego. E houve várias tentativas de concretizar; outro é quando é feito o convite/desafio pelo director do Teatro Ribeiro Conceição para fazermos acontecer um festival dentro desse espectro de programação em 2011. Isto era de tal forma uma ideia comum, praticamente ainda não verbalizada, que perante o convite unimos esforços para fazer a primeira edição do TRC ZigurFest por percebermos que este era o espaço para podermos explorar essas nossas ideias.
Que tipo de impacto é que consideram que o festival tem tido em Lamego?
O primeiro impacto diria facilmente que será o de colocar Lamego num circuito nacional para a cultura mais emergente. Isso é importante para as camadas mais jovens a residir em Lamego não se sentirem excluídas no acesso a este tipo de cultura. Nós costumamos dizer “quem nos dera enquanto estávamos no secundário que houvesse um festival assim em Lamego”. Depois porque coloca também Lamego visível para públicos que lhe eram menos comuns. Lamego tem um turismo muito ligado à arte sacra e ao Douro (enquanto destino), mas tem muito mais para oferecer. Sentimos que conseguimos atrair um novo público a falar de Lamego, pelo menos a nível nacional, e de que somos um motivo válido e recorrente para se falar em Lamego quando se fala em atividade cultural a nível nacional.
Nos últimos anos o festival tem crescido e ganho prémios tanto nacionais como internacionais. Que balanço é que fazem deste crescimento?
A nível de nomeações, prémios ou selos, isso sentimos honestamente que é uma consequência do nosso trabalho contínuo. É ótimo ter reconhecimento. Mas para medirmos o crescimento preferimos olhar para a quantidade de pessoas que se envolvem na realização do evento; nos artistas que já sentem que vir tocar a Lamego ao TRC ZigurFest é um bom passo na sua carreira musical; no público que, sendo desafiado a novas propostas, encontra identificação nas nossas propostas; nos lamecenses emigrados que já regressam à cidade fazendo coincidir com o festival; no envolvimento do comércio local, da diocese e de outras instituições; nos sorrisos e na troca de afeto e não deixam indiferente quem vem a Lamego experimentar o TRC ZigurFest.
Quais os maiores contributos que o festival traz para a música portuguesa?
Quando começámos ainda não haviam muitos palcos para quem queria dar os primeiros passos para tocar ao vivo. A distância que ia de começar a fazer musica até estar num festival era, para a maior parte dos músicos, enorme. Conjuntamente com os vários festivais que têm surgido um pouco por todo o lado contribuímos claramente para reduzir essa distância. No nosso caso, penso que a nossa diferenciação prende-se também por querermos sempre fugir ao óbvio. Isso faz com que alarguemos o espectro de artistas e estilos representados, permitindo ao público uma experiência diversificada e aos próprios artistas conhecerem esta conjugação circuitos diferentes.
Com um número cada vez maior de festivais em Portugal, ainda por cima sobrepostos, o que é que destaca, na vossa opinião, o Zigurfest dos outros?
Queremos dar palco à nova musica portuguesa, e aí claro que teremos coincidências com outros programadores. No entanto, mantemos uma dose grande de risco e por isso procuramos programar artistas e conjugações menos óbvias, como por exemplo, a sequência de fecho de sábado: Pega Monstro, Chalo Correia e GPU Panic. Se vierem a Lamego poderão ver como esta inusitada sequência funcionará incrivelmente.
Noutro ponto, o local e o momento também é algo diferenciador, o ZigurFest ocorre numa cidade repleta de história, numa época que coincide com as festas populares – a romaria de nossa senhora dos remédios. Isto permite um choque cultural extremamente interessante, aproveitando todo o lado mais popular das festas da cidade, mas também podendo ver concertos de música menos óbvios, numa espécie de palco alternativo das festas.
Todos podemos concordar com o festival não é apenas sobre música, mas que também envolve arte contemporânea e outras expressões artísticas. Consideram que este é um festival aberto a todo o tipo de arte?
A todo o tipo de arte seria um statement perigoso. 🙂 Nós realmente queremos ter uma componente de arte contemporânea forte no âmbito do TRC ZigurFest. Desde os espetáculos dos músicos, à cenografia isso é cada vez mais um complemento necessário a um festival que se pretende afirmar na vanguarda. Nesse sentido, temos de estar com a mente aberta para conseguirmos continuar a captar quais são as novas formas de expressão artística.
Este ano vão para o segundo ano de ZONA – residências artísticas. Que feedback é que têm obtido?
O feedback mais interessante é que temos público, essencialmente da região, à procura do que temos para oferecer nas propostas da ZONA, e que manifestamente querem que isto possa acontecer mais vezes em Lamego. Adicionalmente, os workshops anunciados com menos de uma semana estão prestes a esgotar (estamos neste momento a 2 dias de se realizarem).
Por outro lado, para nós também foi muito bom, termos tido mais de 30 candidatos ( e de muito boa qualidade) para a open call, que na verdade teve uma duração curta. Isto tudo deixa-nos bastante entusiasmados para as próximas edições.
O que é que melómanos e amantes de arte podem esperar da edição de 2017 do TRC Zigurfest?
Uma programação desafiante, várias descobertas de novos talentos, ou talentos menos conhecidos, num ambiente familiar onde a proximidade, o entusiasmo e o gosto pela descoberta são constantes. A melhor recomendação é que venham experimentar o TRC ZigurFest.