Fotografia Nuno Luz
Facebook da banda: https://www.facebook.com/bateria.gk/ |
Olá leitores. Antes de passar ao testemunho na primeira pessoa pelo João Gândara, aproveito para vos contextualizar. Bateria é o nome de um projecto musical, do qual o João faz parte, sediado em Leiria e desenvolvido em parceria com a Embaixada da República da Indonésia, que visa a criação de um grupo de instrumentistas dedicados à prática de gamelão Gong Kebyar, por forma a promover o estudo da música e das práticas musicais relativas ao gamelão, em Portugal. Neste momento o João encontra-se na Indonésia e a partir de hoje vamos ter alguns diários de bordo que nos vão dar a conhecer não só o que é um gamelão, mas também um pouco da sua aventura por lá. Muito obrigada, João, por teres aceitado partilhar connosco esta tua aventura! Acho que vamos todos ficar um pouco mais ricos culturalmente 🙂 E assim começa…
Descrever uma Bateria é uma coisa que não lembra a ninguém, pois cada um tem a sua. A minha tem quatro anos, montou-se em Leiria mas quanto à sua nacionalidade nem sei bem o que vos diga… é um grupo de gamelão Gong Kebyar (santinho!). É isso mesmo: soa a asiático. Passo a explicar…
Ora, um gamelão é um tipo de orquestra muito difuso pelo sudeste asiático, mais propriamente na Indonésia, em que dos demais (e há mesmo bués) destaco aqueles como maior importância e exposição: o javanês e o balinês. Falamos de instrumentos feitos de madeira, bronze, bambu, e provavelmente de outros materiais cujos nomes nem se conseguem dizer. São tambores, gongos verticais e horizontais, metalofones, flautas, e às vezes cordas. Por muito que tenham certas parecenças físicas com os instrumentos ocidentais, ao tocar a conversa é outra. A exigência técnica de interpretação é tão distinta como a função dos instrumentos dentro da massa orquestral. Podia estar aqui com uma conversa super cagona a dizer que é o tipo de música extra-europeia que mais influência teve na música ocidental – a começar logo por Claude Debussy em finais do séc. XIX – que não vos mentiria, nem sequer um bocadinho.
Então e porquê o nome Bateria? É pá, vê-se que vocês não percebem nada de Indonésio! Toda a gente sabe que se pegarmos no verbo “bater”, e acrescentarmos o sufixo “-ia”, obtemos o substantivo colectivo (imaginem só!) “bateria”. Em Indonésio, o verbo “bater” diz-se “gamel”, e se pegarmos no sufixo “-an” e o juntarmos a “gamel” obtemos o substantivo colectivo “gamelan”. É óbvio que se um indonésio visse uma “bateria” jamais lhe chamaria “gamelan”, tal como nós nunca chamaríamos “bateria” a um gamelão. Se virmos bem, uma “bateria” é um conjunto de instrumentos – tarolas, pratos, timbalões, bombos… – tal e qual como um gamelão – que tem jublags, gangsas, kantils, reyongs, e outros instrumentos com nomes que nem vale a pena escrever. Espantoso, não é?
O nosso maior esforço é fazer deste conjunto de instrumentos e deste nome catita mais do que aquilo que são. Porque é aqui que a “bateria” se torna muito diferente em português. A “bateria” também é um conjunto de pessoas que batem nuns instrumentos. A Bateria, por sua vez, é aquele grupo de malta com uns instrumentos exóticos, que faz uma série de actividades em que se exploram os paralelismos culturais entre Portugal e a Indonésia: são concertos, exposições, conferências, actividades com crianças e com pessoas com deficiência, traduções literárias e até ensaios, imaginem só!
Neste momento, a Bateria acabou de aterrar na Indonésia a convite da Embaixada da República da Indonésia em Lisboa, e participar num programa de estudos no ISI de Yogyakarta, que é como quem diz, a universidade das artes. Infelizmente ainda não podemos ir todos mas já não há-de faltar tudo!
Para já, vamos deixando aqui as nossas histórias da vida na indonésia!
Sampai jumpa!
João Gândara