O Covil dos Lobos (Blackthorn & Grim #3)
Juliet Marillier
Editora: Planeta
OPINIÃO: Já todos sabem que adoro Juliet Marillier. Aliás, os mais atentos e os que seguem o blogue há mais tempo (daqui a quatro meses já faz nove aninhos) sabem que o Bran, do BranMorrighan, muito se deve ao seu livro O Filho das Sombras (o segundo da trilogia de Sevenwaters). Uma conjugação enorme de factores e simbologias levaram a que desse o nome que dei ao blogue, mas anterior a isso era a minha admiração pela escrita da autora. Confesso, depois da Trilogia de Sevenwaters (muito antes de ter passado a saga com seis livros), cada livro que li seu foi sempre numa expectativa meia ofegante.
Quando temos um livro, ou uma série de livros, que nos marca profundamente, estamos sempre à espera que venha um próximo ou, quem sabe, um melhor ainda. Os livros de Blackthorn & Grim não tiveram em mim o mesmo impacto que os de Sevenwaters, mas uma coisa é certa, prenderam-me do início ao fim e encantaram-me de uma forma ímpar que já se tornou característica de Juliet Marillier.
O Covil dos Lobos vem fechar as histórias dos protagonistas Blackthorn e Grim, ou assim parece. Foram longas jornadas de aventuras, de corações apertados, alguns sorrisos no rosto, muito desespero, mas acima de tudo muita esperança. A arte de contar histórias de uma forma forte e aveludada ao mesmo tempo não é para todos, mas a escritora australiana já nos habituou à sua capacidade, literalmente, fantástica de nos conquistar com os os universos tão mágicos e as emoções tão reais que se fazem sentir ao longo de cada capítulo. Gostei muito de Blackthorn desde o primeiro livro, mas penso que concordarão comigo quando digo que o percurso de Grim também foi, todo ele, extraordinário.
As personagens femininas de Juliet Marillier são sempre admiráveis e pontos de referência, mas as personagens masculinas que escolhe destacar têm sempre algo de diferente ao que estamos habituados e fazem com que o fascínio se instale. Existe sempre um equilíbrio muito bonito entre o feminino e o masculino nas suas obras. Aqui, em especial, estamos perante dois parceiros que, ao contrário de séries anteriores da autora, têm um peso adicional.
A sua faixa etária e tudo o que passaram/tiveram, atribui-lhes uma maturidade e uma noção do que o que lhes rodeia um pouco mais real, mais dura. Não se descobre que a vida pode ser dura, partimos do princípio que existe um nível de maldade acima do imaginável e o caminho agora é em direcção a algum apaziguamento.
De forma semelhante ao que aconteceu nos dois livros anteriores, para além destes nosso dois protagonistas tão queridos, conhecemos outros protagonistas paralelos, Cara e Bardán, que estão envoltos num mistério indecifrável, mas também ele cheio de sofrimento e de amor. As histórias dos quatro acabam por se entrelaçar num grande puzzle. O puzzle não foi difícil de resolver e penso que muitos leitores chegarão às conclusões certas muito antes de elas serem dadas como certas, mas nem isso tira a vontade de continuar a ler. Pelo contrário, ficamos na ânsia de confirmar as nossas expectativas.
Antes de me despedir não posso não deambular um pouco pelas emoções que esta trilogia, mas especialmente este livro, me fez sentir. Blackthorn é uma fonte de inspiração para qualquer mulher. Viu a sua família ser assassinada, foi violada, agredida e humilhada, ficou cega de vingança, arriscou-se mil vezes, mas finalmente, também graças a Grim, voltou a ter um vislumbre de alguma paz e de uma possibilidade de um futuro minimamente feliz.
E depois tivemos Grim, sempre descrito de forma a o imaginarmos quase como um pequeno gigante desajeitado, enquanto só me dava vontade de o abraçar constantemente. Também ele tem um passado duro, também ele foi acorrentado e maltratado, humilhado ao ponto de não mais conseguir voltar a dormir uma noite que fosse, até partilhar a pequena cabana na Floresta dos Sonhos, com Blackthorn.
A forma como se foram complementando, como cresceram juntos ao longo destes três livros e como por fim conseguem encontrar alguma rendição deixou-me de lágrima no olho. Todas as histórias paralelas também estiveram carregadas de emoções fortes, enigmas sobrenaturais, um combate constante entre o dever e o querer. Gostei particularmente deste Bardán, o homem selvagem. Senti uma empatia imediata com ele. Fico a torcer para que as suas vidas (Bardán e Cara) tenham o desfecho que merecem.
Não sei porquê, tinha a ideia de que iam ser sete livros, talvez por causa da maldição dos sete anos, e não apenas três. Não sei se a autora vai voltar a escrever sobre este universo, mas se voltar é mais do que bem-vindo. Confesso que achei o fim um pouco apressado, todo o desfecho com o vilão algo limpinho demais, mas foi o que foi. É sempre bom poder sair deste universo durante uns dias, são sempre viagens maravilhosas.