Hoje é um bonito dia para Grandfather’s House. É o dia em que editam Diving, o seu mais recente disco de longa duração, que é também o meu trabalho preferido deles. Tem andado a rodar em loop no carro e estou bastante ansiosa de os poder ver ao vivo novamente. Vi-os pela primeira vez, e única, penso, em Paredes de Coura há um ou dois anos. Na altura gostei imenso da energia deles, mas acho que este disco traz-lhes uma certa negritude que lhes parece cair como uma segunda pele, sublime. Penso que a primeira faixa do disco é a grande carta de apresentação para esta nova realidade da banda. Com o grande mestre Adolfo Luxúria Canibal a assumir a voz, naquela tonalidade poética, cáustica, que parece vir das profundezas do ser, evocando demónios, mas também rasgando caminho em direcção à redenção. A atmosfera instrumental está muito bem conseguida e conjugada com a voz do Adolfo, e aquele último eco de vozes em que de repente ouvimos uma voz feminina, faz-nos pensar “este disco promete”. Não só prometeu, como cumpriu. A partir de hoje vou publicando as letras de cada faixa para que possam ir memorizando e cantarem com eles nos concertos em que se cruzarem. Boas audições!
Fui ontem visitar a terra que tantas vezes nos viu
Onde o sabor do desconhecido me pareceu ora amargo, ora doce
Mesmo assim, tomei-o como se nada fosse,
Dormi do novo nos seus braços
Em tudo posso ver para trás
Nas pedras, nas folhas, no barulho que o vento faz
E como se num voo, ouso erguer-me e esquecer-me
Que em tempos assim o fiz…
Hoje tenho tanto, tanto frio
Sempre quero ouvir quem o mandou
Hoje tenho mesmo tanto frio
Sempre quero ouvir quem me deixou
Sobre os escombros que restam nas minhas sombras, cambaleando
Sobre o esqueleto ciumento das lembranças
Sobre o esqueleto que ficou, mas não pode voltar
Sobre a palpitação, a intenção…
De provar o sangue das feridas que vi abrir
Em tudo posso ver a desilusão
Quando pela voz do vento,
Ouço a melodia que me chamou, me sugou e que já passou!
Oh, se passou pelas minhas mãos sujas!
Hoje tenho tanto, tanto frio
Sempre quero ouvir quem me falou
Hoje tenho mesmo tanto frio
Sempre quero ouvir quem me lembrou
Fui ontem e não voltei
Em tudo posso ver o que deixei
Fui ontem e muito antes
Cair sobre a cama que me quase me viu morrer
Sempre quero partir
Sempre quero partir
Sempre quero seguir…
Em frente
Hoje tenho tanto, tanto frio
Sempre quero ouvir quem me falou
Hoje tenho mesmo tanto frio
Sempre quero ouvir quem me lembrou