Fotografia Caetana Menezes |
Já muitos te conhecemos pelos You Can’t Win Charlie Brown, mas agora assumes um novo alter-ego “TIPO”. Antes de mergulharmos em “Novas Ocupações”, disco que sai Sexta-feira, deixa-nos conhecer um pouco melhor o Salvador Menezes, transversal a estes dois projectos. Como é que surge a música na vida? Sei que a tua formação académica é bem diferente.
A minha mãe sempre incentivou os filhos a ouvir música. Tínhamos várias cassetes do “Cante com a Disney”, outra dos Tiny Toons onde havia duas músicas dos They Might Be Giants (banda que adoro hoje em dia). Também me lembro de uma altura em que via todos os dias o “Jesus Christ Superstar” que tínhamos gravado também em cassete. Só comecei a tocar um instrumento pelos 14 anos, quando o Afonso, o Tomás e eu decidimos fazer uma banda. O Afonso já tocava guitarra e piano, então o primeiro a comprar uma bateria seria o baterista e o outro era o baixista. Fiquei eu o baixista. A partir daí tive várias bandas sempre com eles dois, até chegarmos aos You Can’t Win, Charlie Brown.
Desde que iniciaste o teu percurso com os You Can’t Win Charlie Brown muito mudou na tua vida pessoal, incluindo teres sido pai. Foram todas estas mudanças que catalisaram a tua vontade de criar um projecto paralelo?
A principal razão para ter começado TIPO foi por insatisfação pessoal e profissional. Sentia que tinha de fazer qualquer coisa nova para fugir da minha rotina diária.
Quando ouvimos este disco sentimos o seu cariz bastante pessoal que contrasta com o nome “TIPO” que escolheste para o projecto. Foi uma tentativa de te tentares distanciar do mesmo?
Eu vejo TIPO como um projecto musical em que por acaso sou só eu que faço parte. Há vários exemplos que também o fazem como Nine Inch Nails, Aphex Twin, Atlas Sound ou Bon Iver. Em Portugal temos por exemplo Noiserv, The Legendary Tigerman, Benjamim e Monday. Talvez dê mais distância sim, é um alter ego onde podemos ser outra coisa se quisermos.
Já com ele gravado há algum tempo, como é que te sentes em relação a este primeiro trabalho? O que é que foi mais importante para ti, explorar sonoridades novas ou apenas dar uma textura às emoções que pretendias expor?
Ainda não sei bem o que pensar, mesmo tendo o disco pronto há alguns meses falta sair cá para fora. O meu trabalho está feito, fi-lo o melhor que consegui e estou contente com o resultado (uns dias mais que outros). Agora é perceber se há aceitação de quem ouvir a música e esta é a parte que me põe mais ansioso, porque já não depende de mim. Para mim o importante é fazer música, sem entrar em facilitismos ou fórmulas. Tento não repetir ideias que já tive, quer em TIPO ou You Can’t Win, Charlie Brown. Se o fizer é porque já não tenho nada de novo para dizer.
Que tema te custou mais a compor e porquê?
Os que me custaram mais foram todos os temas que ficaram de fora. Porque não consegui resolvê-los e tive de os pôr de lado. Do álbum talvez tenha sido a “Acção-Reacção”, foi a primeira música que compus para o projecto e era a folha em branco, tudo era possível. Era importante que me desse algumas direcções para onde ir a seguir.
Novos Ofícios é um tema muito especial. Fala-nos sobre ela e o seu vídeo.
Esta música é a mais pessoal de todo o álbum e tem inspiração numa situação que estava a acontecer a uma pessoa muito próxima na altura em que a escrevi. Fala principalmente sobre a maternidade e tudo o que isso implica na vida de uma mãe, aliada ao facto de estar descontente profissionalmente. O coração que se ouve é da minha filha, na segunda ecografia pedi ao médico para gravar um bocado do batimento cardíaco – a partir dessa pulsação compus toda a canção. A letra surgiu naturalmente. Os som ambiente foi gravado no dia e local onde essa pessoa decidiu demitir-se (eu acompanhei-a).
Para o vídeo sabia que queria uma ideia simples, de execução rápida e barata. Nos meus dois singles anteriores a vídeo é bastante importante para a música e até pode distrair um bocado. Desta vez queria que a canção brilhasse. Então pedi a máquina emprestada do meu amigo Luís Costa, fui para o telhado de minha casa e filmei. O som ambiente no vídeo é o captado na altura da filmagem, não é o mesmo do single do álbum.
Quão importante é para ti a estética visual do disco e dos singles que vais lançando?
É importante porque dá uma imagem daquilo que a música poderá fazer sentir. A estética visual, se for bem feita e pensada de acordo com o que o single ou o disco significa, ajuda o ouvinte a situar-se no ambiente do álbum. Como por exemplo a capa do “Carrie and Lowell” do Sufjan Stevens, retrata claramente todo o espírito do álbum.
De Acção-Reacção para Jugoslávia nota-se uma coerência bastante grande. Intencional?
Sabia que queria manter a linguagem conceptual do primeiro vídeo mas adaptada a esta canção. Lembrei-me que podia ser interessante se estivesse virado de cabeça para baixo, mas na filmagem esse factor não fosse imediatamente perceptível. A partir daí era jogar com a gravidade “invertida”. Outra ideia conceptual determinante para o vídeo foi o facto de ser gravado num take único – com todos os defeitos e factores desconhecidos que poderiam advir dessa única tentativa. O resultado foi um vídeo caótico que mostra aquilo que a canção quer transmitir musicalmente e liricamente.
Estando o disco cá fora, já com dois concertos marcados, tens algum objectivo concreto para este trabalho?
O objectivo acho que é sempre o mesmo para todos os projectos de música. Divulgar com vários concertos pelo país e que a música chegue ao maior número de pessoas possível. Depois é compor outro álbum e voltar a fazer o mesmo. Isto em loop até já não fazer sentido.
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