[Crónica Joel Portugal] Quiro quê? – Uma crónica sobre Quiroprática

Recentemente em conversa com a Sofia, surgiu a oportunidade de colaborar numa crónica, abordando a Quiroprática e um pouco do meu dia a dia. Sucintamente, a Quiroprática é uma área da saúde de primeiro contacto, que avalia, diagnostica e trata patologias e/ou disfunções do foro neuro-músculo-esquelético (NME). Mais um palavrão médico? Eu ajudo… são todos os problemas de saúde que estão relacionados com nervos (incluindo espinal medula e meninges), músculos, tendões, ligamentos, ossos e cartilagens. 

A Quiroprática só trata isto?

Passo a explicar com detalhe a visão de Saúde que a Quiroprática preconiza.

O amplo modelo de cuidados de saúde Quiropráticos é de holismo (observar o paciente na sua globalidade). Neste modelo, a saúde é vista como um processo complexo no qual todas as partes e sistemas do corpo se esforçam para manter o equilíbrio homeostático contra um ambiente dinâmico de mudança interna e externa. O corpo humano é percebido como sendo imbuído com uma habilidade inata (inteligência inata), aquando do nascimento, para responder a mudanças no seu ambiente interno e externo. Os pioneiros de saúde viram isso como prova do poder de cura da natureza, vis medicatrix naturae. Este conceito enfatiza os poderes recuperativos inerentes do corpo, na restauração e manutenção da saúde e na importância da participação ativa do paciente no tratamento e prevenção de doenças. A presença de uma capacidade inerente dentro do organismo para influenciar a saúde e a doença tem sido descrita por muitas disciplinas de cuidados de saúde diferentes. “Algo” tem que dar vida a um organismo tão complexo. Esse “algo” está bastante documentado na literatura científica. A Medicina alopática ou convencional chama a isto de Vis medicatrix naturae, a cultura Hindu chama-a de Prana, a cultura Chinesa de Chi, a Japonesa de Xi, Freud de Libido, Reich de Orgone Energy, Bergson de Élan Vital, Pert de Molecules of Emotion e a Quiroprática chama de Inteligência Inata. Várias palavras para uma matéria só. 

O vasto leque de cuidados Quiropráticos providenciam cuidados de saúde holísticos e colaboram com o paciente para optimizar a sua saúde. 

Embora a principal contribuição da Quiroprática para a saúde geral, seja através da avaliação e do tratamento de distúrbios NME, é comum também aconselharem os pacientes sobre outras questões do estilo de vida, como dieta, nutrição, exercícios e controle do stress.

A prática contemporânea da Quiroprática, enfatiza a avaliação e tratamento conservador de distúrbios NME e na importante relação entre o funcionamento do sistema NME e o bem-estar geral e a saúde. A disfunção ou doença do sistema musculoesquelético, sob qualquer forma, é vista como tendo o potencial de criar disfunções do sistema locomotor que podem levar ao comprometimento do funcionamento do indivíduo. Este modelo é apoiado pelo princípio subjacente que enfatiza a importante inter-relação que existe entre estrutura e função do corpo humano.

Além de se especializar no tratamento com ajustes mecânicos (manipulativos) dos distúrbios das articulações da coluna e extremidades, é comum que os Quiropráticos incluam outros procedimentos de tratamento na orientação do paciente e na promoção da saúde em geral. Terapias comuns aplicadas incluem aconselhamento alimentar, suplementação nutricional, terapias manuais e exercícios.

Muitas vezes o sistema NME é de facto um componente do corpo clinicamente negligenciado, apesar de distúrbios relacionados com este sistema, serem comuns e representarem quantidades significativas de tempo perdido no trabalho e lazer. 

Por tudo isto eu acredito que merece plena consideração e avaliação sempre que os pacientes são atendidos, independentemente da queixa que os levou a procurar cuidados de saúde. 

O sistema NME deve ser visto como uma parte do corpo na sua globalidade e sujeito à mesma avaliação diagnóstica intensiva que qualquer outro sistema do corpo. Este sistema está envolvido em tantas alterações de função que exige tal atenção e não deve ser desconsiderado no diagnóstico, mesmo quando o problema inicial parece removido do sistema NME.

Além disso, o sistema NME humano é responsável por mais da metade da massa do corpo e é o seu maior consumidor de energia. As grandes quantidades de energia exigidas por ele, têm que ser fornecidas através dos outros sistemas do corpo. Se o sistema NME aumenta sua atividade, um aumento na exigência é colocado em todos os outros sistemas do corpo para atender às novas e maiores demandas de energia. A quiroprática observa que a presença de doença ou disfunção dentro deste sistema, pode interferir com a capacidade de agir eficientemente, o que, por sua vez, requer um maior trabalho dos outros sistemas dentro do corpo.

Porque o sistema nervoso é altamente desenvolvido no ser humano e influencia todos os outros sistemas do corpo, desempenha um papel significativo na saúde e na doença.

Um conceito básico contínuo da Quiroprática, é que as anomalias na estrutura ou função podem ter um efeito sobre a saúde e a sensação de bem-estar do corpo. Os efeitos do sistema nervoso na capacidade do corpo combater doenças através da resposta imunológica demonstram esse conceito. (1)

O sistema nervoso também se comunica com o sistema endócrino para manter um estado de homeostase, definido simplesmente como equilíbrio fisiológico. Esta tendência do corpo suster um estado estável ou buscar equilíbrio apesar das mudanças externas, referidas por ponos por Hipócrates, é o tema subjacente no conceito original de Inteligência Inata de D. D. Palmer (Pai e percursor da Quiroprática), que influencia a saúde.

Procedimentos manuais e, especificamente, os ajustes Quiropráticos são aplicados para abordar distúrbios locais do sistema NME e para melhorar a função do mesmo. Uma consequência da melhoria da função do sistema NME, pode ser a melhor capacidade do corpo de se auto-regular, permitindo assim que o corpo busque a homeostase e uma melhor saúde. Na descrição deste processo por Haldeman, a terapia manipulativa melhora a função do sistema músculoesquelético, causando uma mudança na contribuição do sistema nervoso, que por sua vez pode ter um efeito positivo noutros tecidos do SMN, disfunção de órgãos, condições patológicas de tecidos ou num conjunto de sintomas (2). O mecanismo reflexo que suporta essas ideias foi de facto documentado, embora os efeitos da manipulação nesses reflexos ainda não tenham sido adequadamente avaliados e demonstrados.(3)

Agora que entendemos mais claramente a importância do sistema nervoso e tendo em conta que o sistema nervoso central controla todo o corpo humano, (funcionamento de órgãos, respiração, batimento cardíaco, emoções, pensamentos, capacidade cognitiva, músculos, etc.) é crítico dar-lhe bastante atenção e cuidado. 

Posso até dizer que todos nós vivemos a nossa vida através do sistema nervoso central. 

Escrevo esta metáfora informática sobre o sistema nervoso para terminar: Eu vejo o sistema nervoso como drivers para os computadores. Sem ele, não seria capaz de escrever este texto. 

Se esta metáfora lhe conseguiu esboçar um sorriso, então parabéns… Tem um sistema nervoso saudável! 

Referências:

(1) Brooks WH, et al: Neuroimmunomodulation: neural anatomical basis for impairment and facilitation, Ann Neurol 12:56, 1982. 

(2) Haldeman S: The clinical basis for discussion of mechanisms of 

manipulative therapy. In Korr IM, editor: The neurobiologic mechanisms of manipulative therapy, New York, 1978, Plenum. 

(3) Sato A: Physiological studies of the somatoautonomic reflexes. In Haldeman S, editor: Modern developments in the principles and practice of chiropractic, East Norwalk, CT, 1980, Appleton Century-Crofts. 

Coote JH: Central organization of the somatosympathetic reflexes. In Haldeman S, editor: Modern developments in the principles and practice of chiropractic, East Norwalk, CT, 1980, Appleton- Century-Crofts. 

Beal MC: Viscerosomatic reflexes: a review, JAOA 85:786, 1985. 30. The central connection: Somatovisceral/viscerosomatic interaction, 1989. In Proceedings of International Symposium, Cincinnati, OH, 

1989.

Joel Portugal

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