Moullinex no Capitólio – Quando a música toma forma de activismo pela liberdade de expressão e direitos humanos

Fotografia @nashdoeswork

O Halloween é uma altura que permite sempre a cada pessoa expressar a sua individualidade. É uma noite que invoca a mitologia das bruxas, do dia dos mortos, mas que também permite que cada um tome a liberdade de incorporar um personagem ou, quem sabe, expressar-se verdadeiramente sem receio de represálias. No passado dia 31 de Outubro, no Capitólio, a noite tornou-se numa experiência memorável nos dois sentidos. Não só houve quem aparecesse vestido a rigor, como o ambiente relaxado e bem disposto, transbordava a liberdade.

O grande anfitrião, Moullinex. Em 2017 lançou o seu último disco, Hypersex, e recentemente lançou um EP com remisturas do mesmo. Sigo o trabalho de Luís Clara Gomes desde o primeiro disco, Flora, e tem sido com fascínio que tenho visto o seu projecto crescer. Moullinex é, hoje em dia, um organismo vivo. Encheu o palco do Capitólio de músicos e não se fez de rogado na manifestação da sua visão pela partilha de amor, de solidariedade e, ainda mais veementemente, a sua partilha de aversão à repressão e à ditadura. À primeira vista, dada a produção magnífica de todo o espectáculo, toda a actuação pode ter sido considerada como ousada, mas a verdade é que foi também uma actuação corajosa. 

Fotografia @nashdoeswork

À banda em palco, com percussão, teclados, baixo, guitarra, bateria e por vezes flauta, juntou-se ainda Igor (mais conhecido como Ghetthoven), incorporando na perfeição o grande mote da noite – mais do que liberdade de expressão, liberdade de individualidade com tudo o que isso implica. Pensando bem, nas suas mais diversas formas (da música ao vestuário, passando pela tecnologia da projecção e ainda o jogo de luzes) a noite do Capitólio foi uma espécie de activismo em que a música teve o poder de unir os presentes, desfazendo preconceitos e represálias.

Fotografia @nashdoeswork
Fotografia @nashdoeswork

As músicas de Hypersex podem não ser completamente frescas, mas não é todos os dias que temos a oportunidade de assistir a um concerto com a magnitude que presenciámos. Não só, mais uma vez, pela presença entusiasta e marcante de Ghetthoven, mas também porque pudemos assistir a Da Chick, Marta Ren e Fritz Helder darem os seus contributos nos devidos temas. Houve espaço para mandar Bolsonaro ir bugiar, para Ghetthoven e Moullinex descerem ao público dançando e interagindo com o mesmo, danças coreografadas em palco, toda uma euforia contagiante. 

Fotografia @nashdoeswork

Já com mais de uma hora de concerto, o encore tornou-se inevitável. E talvez também tenha sido dos momentos mais especiais. Luís Clara Gomes assumiu o piano em Flora, tendo a bela flauta a acompanhá-lo, num momento arrepiante. Xinobi, que tanto acompanhou Moullinex na estrada no passado, também subiu ao palco, primeiro a assumir o baixo, depois a guitarra. O concerto fecharia com Family Affair, tema da Discotexas Band, com todos em palco, convidados incluídos, fazendo o Capitólio vibrar de loucura, da boa. Não pude ficar para o resto da festa, mas tenho a certeza (pelas fotografias que já vi pela internet) que deve ter sido uma comemoração daquelas! 

Fotografia Daniel Azevedo

Não posso terminar este texto sem destacar o belo trio que abriu a noite, os Meera! Com apenas dois singles editados, a verdade é que deram um belíssimo concerto, incitando o público presente, e aquele que ia chegando, a dançar e a partilharem a sua energia com eles. Se já conhecem Jonny Abbey, reconhecerão, certamente, pelo menos duas das três caras de Meera. Um dos aspectos mais fascinantes agora em Meera é precisamente ter Cecília na voz e a “comandar as tropas”. A verdade é que os três transbordam de cumplicidade e era evidente a felicidade que sentiam em cima de palco. No que toca à música de dança, Portugal está realmente muito bem servido e acredito que isto ainda é só o início. Pelo menos boas referências não lhes faltam, ou não teria sido o concerto de Moullinex exemplar. 

Entrevista a Luís Clara Gomes em 2014http://www.branmorrighan.com/2014/06/entrevista-luis-clara-gomes-moullinex.html

Outras fotografias da noite por @nashdoeswork




Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on whatsapp
Subscrever
Notificar-me de
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

    Subscritores do blog

    Recebe notificação dos novos conteúdos e partilhas exclusivas. Faz parte da nossa Comunidade!

    Categorias do Blog

    Leituras da Sofia

    Apneia
    tagged: currently-reading
    A Curse of Roses
    tagged: currently-reading

    goodreads.com

    2022 Reading Challenge

    2022 Reading Challenge
    Sofia has read 7 books toward her goal of 24 books.
    hide