Grandes livros para gente pequena
Muita gente lá vai repetindo que festeja o Natal “por causa das crianças”. Assim sendo, não faria sentido deixá-los de fora, na hora de escolher livros para oferecer. Por isso aqui ficam sete sugestões de livros dedicados a ”leitores de palmo e meio”… e não só. Nem todos são recentes? Certo, mas são todos tão actuais!
João Morales
As Palavras que Fugiram do Dicionário
Sandro William Junqueira (textos) e Richard Câmara (ilustrações)
Caminho
64 págs
14,90 euros
Os dicionários servem para descobrimos o significado das palavras. Mas quando as palavras ganham novos entendimentos, ou quando são termos que não encontramos no dicionário, temos de lhes dar razão de existir. As palavras que Fugiram do Dicionário é um excelente exercício de afectividade, pela língua portuguesa e pela sua flexibilidade.
Sandro William Junqueira escreveu estas novas e bastante originais entradas num dicionário emocional e Richard Câmara ilustrou – de forma primorosa – os objectos, animais e conceitos que compõem esta lista surpreendente. Um livro que alia a diversão e a comoção.
Um pequeno exemplo: sabe o que é um “alfabelo”? «Existem no mundo lugares muito desarrumados, de mobília, de barulhos, de vontades. O alfabelo é a pessoa que organiza alfabeticamente a beleza. Para que seja mais fácil encontra-la no meio das coisas feias».
Octocuecas
Susy Senior (texto) e Claire Powell (ilustrações)
Minutos de Leitura
32 págs
12,30 euros
As cuecas são fundamentais, mas nem sempre são iguais. Encontrar roupa é tarefa confusa? Depende de quem a usa. Cores e formatos de igual serventia? Cada um usará o que mais aprecia!
Este é um livro que parte de uma situação hilariante, a procura por uma peça de roupa trivial, para explorar a noção da diferença e da convivência entre seres diferentes. O texto é debitado em verso, ampliando as suas potencialidades de leitura em voz alta e reforçando a ligação com os ouvintes de palmo e meio que ainda não consigam fazer, eles mesmos, uma leitura autónoma.
Um polvo que não encontra cuecas para si, recorre à Internet. E, vão. A solução será a loja gerida pelo cavalo-marinho, com roupa ata todos. O reino animal é o cenário perfeito para explorar o tema. Afinal, imaginem só a complicação de encontrar cuecas… para um ser que não tem pernas.
O Secador de Livros
Carla Maia de Almeida (texto) e Sebastião Peixoto (ilustrações)
Caminho
40 págs
12,90 euros
A família Bronca tem um amor desmesurado pelos livros. Ao longo dia, em todas as acções rotineiras, contam com eles para preencher a sua imaginação e alimentar o espírito. O pior é que, assim, estão expostos às agruras do dia-a-dia, em todas as tarefas que cada membro da família tem de desempenhar.
A solução é criar uma máquina capaz de fazer retroceder as mazelas que os livros sofreram, para continuarem a dar o melhor de si e nos tornara todos melhores. Porém, nem tudo corre pelo melhor…
Uma parábola divertida e incisiva sobre a convivência com os livros e a força que eles podem ter na nossa existência. Ao mesmo tempo, uma história divertida e muito bem contada à volta das relações humanas. O rigor das ilustrações e o humor (sábio) das palavras convivem aqui na perfeição, criando uma narrativa com diferentes camadas de entendimento.
Páginas de Livros Infantis Rejeitadas
Nuno Markl (textos) e Marisa Silva (ilustrações)
Objectiva
96 págs
13,90
Arrisco-me a dizer que muitas das piadas que constituem este livro vão recolher uma apreciação igual, ou ainda maior, entre os leitores de idade adulta.
Ao desmontar diversas histórias tradicionais, Markl aposta num humor com uma pontinha de provocação, trazendo estes episódios icónicos do mundo da Fantasia para o mundo concreto de todos os dias, com o problemas e condicionantes que gerem o quotidiano das pessoas normais. É como se nos desvendasse os bastidores da existência destas figuras de lendas e contos infantis.
Assim, percebemos a importância do programa de lavagem certo para a roupa do Capuchinho Vermelho; entramos na intimidade e dilemas existenciais da Carochinha; descobrimos a solução laboral encontrada pelo Pequeno Polegar; percebemos a importância da Arquitectura no mundo de Rapumzel.
As tonalidades das ilustrações de Marisa Silva são magníficas e apelativas, sublinhando a dimensão de fábula, num desenho que parte dos clássicos.
A Viúva e o Papagaio
Virginia Woolf
Porto Editora
48 págs
6,60 euros
A senhora Cage recebeu uma carta, avisando-a da morte do irmão e de uma herança por receber. Quando chegou a Rodmnell, o que encontrou foi uma velha casa e um papagaio que repete insistentemente “não está ninguém em casa!”. A casa acaba por arder, mas o animal mostra-lhe onde o falecido tinha escondido a sua fortuna e a velhota fica a viver com o seu novo amigo com penas.
Menos divulgado que os seus romances introspectivos, este conto de Virginia Woolf (escrito originalmente para o diário dos seus sobrinhos) tem sido alvo de diversas interpretações, mas mantém a qualidade da escrita da autora de livros marcantes como Orlando ou Mrs Dollway.
E há passagens que, lidas depois de conhecido o desfecho da vida da autora (que se suicidou, entrando no mar com as algibeiras cheias de pedras) tornam-se arrepiantes: “Como hei-de conseguir encontrar o caminho? Se a maré estiver alta, afogar-me-ei nas águas profundas e a corrente arrastar-me-á até ao mar sem ter tempo de dizer Ámen”.
A Mulher de Ferro
Ted Hughes
Ponto de Fuga
160 págs
14,40 euros
Ted Hughes, poeta de valor, ficará para a História da literatura para a juventude graças à escrita de O Homem de Ferro, publicado em 1968. Vinte e cinco anos mais tarde, deu vida à sequela natural, com A Mulher de Ferro.
A narrativa assume um clima de distopia, ambientada num mundo desolador, ameaçado de destruição. O medo global não passa já pelos arsenais nucleares e pela divisão bipolar que significou o período conhecido como Guerra Fria. Agora, o perigo advém de uma industrialização desenfreada e economicista que consome os recursos naturais e ameaça os ecossistemas.
Com uma mensagem notoriamente actual, a narrativa, fortemente simbólica e, à semelhança do livro de 1968, ilustrada com as magníficas xilogravuras de Andrew Davidson, faz eco das preocupações ambientais do autor. Lúcidas e preocupantemente antecipatórias do drama ecológico dos nossos dias.
Há Incêndio na Floresta
Margarida Rocha (texto) e Hélder Barbosa (ilustrações)
Trinta Por uma Linha
32 págs
12,50 euros
O tema, infelizmente, não podia estra mais actual, depois das imagens que nos entraram pelas televisões nos anos mais recentes. E as crianças também vêem televisão.
A aventura começa com um conjunto de amigos à conversa, no sossego do bosque onde vivem. O Ouriço-Cacheiro, a Lebre, a Raposa, a Toupeira e o Esquilo relaxavam à sombra do velho amieiro quando viram surgir as labaredas de um incêndio e o medo tomou-lhes conta das reacções. Começaram por fugir, apavorados. Porém, incentivados pela coragem da raposa, perceberam que não podiam ficar impávidos, à espera da destruição.
As libélulas foram fundamentais no combate ao incêndio, as toupeiras usaram o seu saber para abrir valas no solo. Todos juntos, enfrentaram o inimigo comum. E venceram. Depois, lançaram sementes à terra e deram nova vida à floresta.