O Mundo à Beira de Um Ataque de Nervos
Matt Haig
Editora: Porto Editora
Opinião Razões para viver: http://www.branmorrighan.com/2016/04/opiniao-razoes-para-viver-de-matt-haig.html
OPINIÃO: Ler Matt Haig é sempre sinónimo de levar com uma dose de realidade pura e dura. Não tendo nada a ver um com o outro, a verdade é que sempre que leio Matt Haig lembro-me de Mark Manson. Este último tem um discurso muito mais duro e, até, sarcástico, mas a verdade é que ambos atacam questões pertinentes sobre a saúde psicológica de cada um. Depois de um livro arrasador, Razões para viver, a Porto Editora volta a editar Matt Haig com o livro O Mundo à Beira de Um Ataque de Nervos. No primeiro mergulhámos intensamente sobre a vida pessoal do autor, revivendo com ele a passagem do abismo da vontade de suicídio à vontade de voltar a viver. Neste segundo constatamos como é que o mundo extremamente online em que vivemos actualmente pode ser um factor de risco para recaídas, ou até mesmo caídas, psicológicas.
Para quem já possa ter experienciado ataques de ansiedade, ataques de pânico, ou viva num sobressalto ansioso mais ou menos constante, este é mais um livro que nos faz sentir que não estamos sozinhos nesta luta. E dado ter o cunho bastante pessoal de Matt Haig, quer nos identifiquemos completamente com a sua postura quer não, as questões que levanta e as estratégias que apresenta são extremamente válidas. Cada um tens as suas sombras e cada um encara a ansiedade de maneira diferente, dando-lhe diferentes formas consoante os tormentos. O Mundo à Beira de Um Ataque de Nervos reforça como o facto de estarmos todos conectados como nunca, nos torna também mais solitários do que nunca.
Nem de propósito, há pouco tempo vi um documentário sobre o efeito das redes sociais nas atitudes das pessoas. O documentário ilustrava, com casos reais, como muita gente simulava vidas que não tinham qualquer reflexo na vida real. Adolescentes deprimidos que se levantavam da cama e criavam cenários hipotéticos (como uma rapariga toda maquilhada pronta para sair com amigos ou um rapaz a fazer uma pose qualquer de masculinidade) para logo a seguir a tirarem uma fotografia e postarem no Instagram, voltarem para os seus pijamas, sofás/camas, completamente abatidos. Também recentemente li outra publicação que estudava como é que esta constante observação da vida dos outros e das (supostas) conquistas alheias aumentavam o sentimento de depressão e até tendências suicidas.
Dito isto, acho que quem se sente afectado por estas circunstâncias de pressão online deve ler este livro. Eu própria tenho fases em que não suporto estar nas redes sociais. No meu caso pouco tem a ver com a vida dos outros, mas antes com o facto de a certa altura começar a sentir a tal pressão em estar online, em postar nas redes sociais, etc. etc., para ser dada como viva/válida perante os outros. Matt Haig passou/passa pelo mesmo. O que não faz sentido nenhum. Matt Haig chega a ilustrar uma situação em como um comentário que fez no Twitter, inicialmente completamente inofensivo, se tornou num incêndio grotesco que lhe tirou completamente o sono e o arrastou para um estado de ansiedade brutal.
Um dos maiores conselhos de Matt Haig, que eu suporto a 100% é ousarem andarem desligados das redes sociais. Para além de não fazerem publicações, pura e simplesmente não vejam feeds nenhuns. “Ah e tal, mas também vejo notícias, etc.” Seleccionem os sites de notícias que mais visitam e visitem-nos directamente em vez de ser através de uma rede feed de sítios da internet sem terem de cair numa rede social. Existem livros de auto-ajuda e depois existem livros de autêntica ajuda. O Mundo à Beira de Um Ataque de Nervos, de Matt Haig, é um dos que vale a pena.