O Despertar de Cthulhu
H. P. Lovecraft (ilustrações de François Baranger)
Saída de Emergência
72 págs
27,70 euros
O ambiente e o estilo remetem imediatamente para o universo do autor: «Se afirmar que a minha imaginação, um pouco extravagante, concebeu imagens simultâneas de um polvo, de um dragão e de uma caricatura humana, não estarei a ser infiel ao espírito do objecto. Uma cabeça carnuda e tentaculada encimava um corpo escamoso e grotesco com asas rudimentares, mas era o aspecto geral, na sua totalidade, que o tornava mais chocante e assustador. Atrás da figura, estava uma vaga sugestão de um fundo arquitectural ciclópico».
Este é um dos contos fundamentais de H. P. Lovecraft, texto seminal na construção de toda a sua iconografia, e demonstração superior da sua capacidade de prender o leitor ao livro, ao mesmo tempo que o suga para o seu interior, obrigando-o a conviver com as horrendas e minuciosas descrições que definem a verosimilhança da escrita de um dos pais da literatura de terror.
Francis Thurston encontra nos documentos herdados do seu tio-avô diversas referências a um culto ancestral que envolve criaturas terríficas, sacrifício, artistas acossados pela loucura após contacto com seres inclassificáveis e uma horda de seguidores de um deus pagão, adormecido e paciente, cuja eclosão poderá estar eminente.
O tom da narrativa é convincente, fornecendo-a pausada e bem articulada, emergindo o leitor num mundo fantasmagórico que ganha espessura a cada voltar de página, explorando a auto-sugestão e a imaginação, dando uso às capacidades literárias e narrativas de Lovecraft. Intenso nas descrições, sem descurar espaço para cada um visionar a sua própria aventura, possuidor de uma cadência ritmada que assegura uma leitura compulsiva e recompensadora.
Esta edição da Saída de Emergência para O Despertar de Cthulhu (conto escrito em 1926 e publicado dois anos depois) apresenta-se num formato de álbum (26,2 cm x 35 cm) com capa dura e eficazes ilustrações da autoria de François Baranger (artista com ampla experiência no mundo do cinema e dos videojogos), autonomizando o conto numa peça de colecção, ideal para os apreciadores deste autor conservarem em grande destaque um dos textos axiais da literatura de horror de todos os tempos.
João Morales