[Diário de Bordo] A calma no meio da tempestade

a calma no meio da tempestade

Não sei bem como falar de 2021 sem dizer que, apesar de tudo, sinto uma certa calma no meio da tempestade. Ninguém vive dias fáceis. O não haver um fim à vista da pandemia, o não se saber ao certo quando e como se vai desconfinar, quando e se alguma vez vai chegar a hora de sermos vacinados, quando e se alguma vez vamos voltar a sentir algum rasto de normalidade e voltar a abraçar pessoas e a partilhar comida e bebida sem receios.

Ainda assim, tenho mantido uma serenidade – com altos e baixos, como todos nós – que me tem surpreendido. Não sei se ganhei o hábito de estar isolada, pois nos Estados Unidos da América estava isolada e sem amigos e família por perto e ao menos cá tenho os meus pais e o Bran; não sei se é de ter uma disciplina muito grande em termos de prática de yoga e caminhadas que me ajuda a manter a ansiedade controlada; não sei se é de ter uma fé estúpida que havemos de ficar todos bem e por isso não me resta mais nada a não ser ter paciência comigo mesma e com as adversidades que podemos controlar.

Claro que tenho de reforçar que me encontro numa posição muito mais confortável do que quando estava nos EUA. O facto de ter os meus pais e o Bran por perto, apesar de não ter conseguido visitar mais família nenhuma, proporciona-me uma âncora. Adicionalmente, desde que voltei a Portugal que mantenho um contacto muito mais frequente com outros amigos que, apesar de não os ver, nos EUA pouco falava. E quem tem bons amigos tem tudo. Sem dúvida que são uma extensão da nossa família e os meus, coitados, bem que me aturam. Apesar de maioritariamente andar calma, esse estado também se deve ao facto de poder falar e desabafar com essas pessoas quando me sinto a asfixiar.

O meu stress, maioritariamente, vem da minha actividade profissional. Trabalhar num hospital traz desafios acrescidos. Já não é só criar modelos e usar dados hipotéticos ou reais para testar esses modelos, sem uma implementação directa num sistema real. É criar modelos e usar dados reais de pacientes para uma potencial implementação a nível hospitalar. Não é que tudo o que tenha desenvolvido até hoje não tenha sido rigoroso, mas existe um peso acrescido quando os resultados da investigação científica têm um impacto directo na prática diária. É excitante, extremamente desafiante, mas também um nadinha atemorizador.

Ao mesmo tempo, ainda estou a terminar outros trabalhos que muito brevemente estarão prontos. Nessa altura falar-vos-ei mais sobre os mesmos! Posso dizer que o próximo que vai ficar disponível online está relacionado com o jogo do Ultimatum em grupos (já ouviram falar em teoria de jogos?) e em como o facto de o Proposer ser mais ou menos protagonista numa população estruturada pode fazer com que haja uma maior ou menor equidade nessa mesma população. Posso abrir o véu para vos dizer que sempre que penso neste trabalho lembro-me do dizer “Power to the people!“.

Já agora, têm curiosidade em saber mais detalhes sobre o que faço cientificamente? Gostariam que fizesse uma série de posts em que tento desmontar, em linguagem simples, as várias coisas que tenho estudado? Deixo-vos com a minha página profissional com a minhas publicações caso queiram deixar nos comentários um dos artigos que gostariam de ver explicados de forma simples e perceptível. Confesso que tenho tido muito gozo nos últimos projectos em que tenho estado envolvida!

Resumindo e concluindo, a calma no meio da tempestade deve-se, sobretudo, a poder contar com família, amigos e colegas para falar e desabafar, e com uma rotina de cuidados comigo própria consistente que me ajudam a respirar fundo e a enfrentar todos os desafios com esperança e alento. Achei importante partilhar isto convosco porque às vezes estamos tão enfiados em nós próprios – nos dias de hoje ainda mais – que às vezes são estes pequenos gestos simples, falarmos com alguém e ouvirmos alguém partilhar as suas inseguranças e atribulações, que fazem com que nos sintamos mais suportados.

Juntos somos certamente mais fortes e acho que para sairmos daqui com alguma sanidade mental temos mesmo de nos ir apoiando uns aos outros. Tal como tenho referido nas newsletters que envio exclusivamente para os subscritores (podes subscrever aqui), reforço que a prática de exercício físico é importante. Para quem não consegue mesmo, seja qual for a razão, sugiro tentar Yin Yoga (as aulas do Travis Eliot online são muito boas). Exercícios de respiração e meditação conseguem dar uma nova luz aos nossos dias. E, claro está, uma palavra amiga. Em ambas as direcções. Sermos ajudados é excelente, mas ajudar é igualmente recompensador.

Se quiserem falar comigo, se quiserem pedir sugestões de leituras, de aulas online, etc., por favor não hesitem. Agora ainda por cima já temos uma página com formulário de contacto. Façam uso da mesma sempre que quiserem e, claro, se se sentirem à vontade, deixem comentários! Sugiro também que desafiem umx amigx a lerem um livro em conjunto, a começarem um desafio de exercício físico qualquer, o que for. Vão-se divertir de certeza e o apoio mútuo vai motivar-vos a ambxs.

Ah! E não pensem demais se vão saber voltar ao normal ou não. Se, tal como eu, se perguntam se vão saber estar novamente com outras pessoas e se vão voltar a ser sociais como antes, como diz o meu terapeuta e bem: estamos todos em pé de igualdade. Portanto, nada de medos. Vamos andar todos cautelosos e às apalpadelas nos primeiros tempos, mas acredito que somos empáticos e pacientes o suficiente uns com os outros para correr tudo bem. Digo mais, isto é uma excelente oportunidade para os mais tímidos também se integrarem e crescerem socialmente se assim o quiserem. Estamos juntos!

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  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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