PS: Isto era para ser um post único, mas animei-me e começou a ficar longo demais…
O dia em que assinei a escritura foi o dia de véspera de ir parar às urgências, que veio a tornar-se o início da caminhada para me tornar num cyborg. Para quem me segue no Instagram, já sabem onde estou a querer chegar com isto, certo? Aquele inquérito foi só uma forma de ordenar o que vos iria contar das minhas peripécias dos últimos meses. Para minha desilusão (eheh) vocês escolheram o dia em que assinei a escritura em vez d’o dia em que me tornei um cyborg, mas a verdade é que por obra dos astros os dois acontecimentos ficarão para sempre ligados, mesmo que por mera coincidência.
Mas comecemos pelo início. O dia em que assinei a escritura foi quase um ano depois de ter assinado o contrato de promessa compra e venda. COMO ASSIM??, pensam vocês e pensam muito bem. Entre um dia e outro muita coisa aconteceu. Talvez tenha de dividir isto em duas entradas, mas deixa lá ver onde a minha boa disposição (e o copo de Rosé com tacinha de batatas doces fritas) nos leva.
Recuemos no tempo. No dia 14 de Dezembro de 2020 cheguei a Portugal, depois de uma temporada nos Estados Unidos a fazer um pós-doutoramento. Ainda tinha contrato até Agosto de 2021, mas decidi voltar mais cedo e iniciar um novo desafio em Portugal em Janeiro de 2021. Dito isto, como devem imaginar, enquanto estive nos EUA perdi o apartamento que arrendava em Portugal por apenas 360€ — um belo sétimo andar de 70m2 cujos únicos defeitos eram o frio gelado de Inverno e o calor sufocante no Verão, umas paredes que me obrigavam a estar a par da vida sexual da minha vizinha, e uma senhoria que mo tentou vender cheio de problemas de humidade já com buracos nas paredes por um preço exorbitante.
Quando chego a Portugal, ano e meio depois, os preços duplicaram, onde era barato passou a custar os olhos da cara e como sou uma sortuda do caraças, tive o privilégio de poder ir viver novamente com os meus pais. Como sou altamente desportista, ou não tivesse acabado um cyborg (faz hoje seis semanas), volta e meia dava umas longas caminhadas pela cidade. Numa dessas caminhadas encontrei um prédio em construção, já com fachada completa, e pensei porque não? Gravei o número que estava na barraquinha perto da construção e marquei uma visita. Na verdade, quem conseguiu marcar foram os meus pais, porque as vezes que telefonei não me atenderam… Engraçado como mais tarde o banco Santander, o meu banco desde os meus 17 anos, iria reagir da mesma maneira — ignorar-me por completo.
Quando visitei o apartamento, por dentro só havia paredes em cimento, as divisões já delineadas. Nada de chão posto, paredes pintadas, móveis, absolutamente nada. Eu, que agora tenho uma ilha, vi apenas as marcas no chão. E é esta a história que tenho para vos contar — apaixonei-me por paredes de betão, apaixonei-me por uns tetos mais baixos do que estava habituada, por uma pseudo vista para o rio (na diagonal, claro está, que os andares de cima já tinham sido todos vendidos). Hoje em dia é o meu lar e onde me sinto tão ridiculamente feliz. Mesmo tendo-me tornado num cyborg, o que não estava nada nos planos.
Continuando… Era o único T2 disponível, este pedaço que me viria a custar os olhos da cara. E sabem que mais? Já estava reservado. Contrato de promessa compra e venda agendado para dali a uns dias. Vocês não imaginam a minha tristeza. Tristeza essa que, no fundo, era um pouco irracional. Malta, paredes de betão. Foi isso que eu visitei. E, no entanto, fiquei desolada. Quando o fim-de-semana passa e sou contactada pela construtora a dizer que o contrato de promessa compra e venda ficou suspenso, entrei em euforia. Precisava de uma pré-aprovação de crédito, de perder amor às minhas poupanças que demoraram mais de uma década a ganhar forma, e tudo isto para ontem porque “há muita procura, quem se chegar à frente primeiro é quem fica com o apartamento”.
Mas calma… Claro que não me atirei de cabeça para o Oasis de betão! Armei-me em adulta. Pedi para visitar mais uma vez. Para ver os materiais. Para discutir as condições de entrada e do contrato. E como mulher forte e independente que sou, claro que não fui sozinha seus tolos, levei o meu pai de arrasto comigo. Queriam 20% de entrada. Ahahah conseguem imaginar? Eu, que sempre vivi de bolsa em bolsa, de contrato a prazo a contrato a prazo, 20%!!! Consegui, graças ao marido da construtora, que aceitassem 10%. Os primeiros 5% na assinatura do contrato, os outros 5% um mês depois. Estamos em Fevereiro de 2021. Estava previsto o prédio ficar pronto durante o Verão…
O dia em que assinei a escritura foi a 7 de Janeiro de 2022. Conseguem imaginar a dor? E os meus pais, santos, a aturarem todos os meus humores, a minha mudança de emprego, na sua casa. Agora, onde a emoção na verdade começou, foi em Outubro de 2021. Estou eu numa conferência em Lyon, finalmente a viver um bocadinho de vida pós-pandémica com amigos que não via há séculos, quando recebo um e-mail a dizer que a documentação da casa está pronta. Sabem o que quer isto dizer? Que finalmente há documentação suficiente para se pedir um empréstimo bancário e finalizar a escritura. Foram quase dois meses e meio de muito sofrimento. Vá, não diria sofrimento, mas talvez de muita vontade de dar chapadas a funcionários do Santander.
Até hoje, até hoje meus queridos leitores, o meu gestor de conta nunca me retornou as chamadas, nunca me respondeu ao e-mail que lhe enviei a dizer que ia avançar com a compra do apartamento, nada, niet, zero. E quando me dirigi ao meu antigo balcão físico do Santander fui recebida com desprezo. Ah, vejo que deu aqui uma má classificação a um colega online. E está tudo dito. É que esse colega, o meu gestor do balcão virtual (que ainda o é porque ainda não fechei a conta — a razão vem no post o dia em que a minha carteira desapareceu durante quase uma hora no Aldi) — fez-me perder dinheiro aquando da pré-aprovação do crédito para eu assinar o contrato de promessa compra e venda… Enfim, narrativa para outra altura.
A questão aqui é que não só fui mal atendida como recebi aquela narrativa do: Mas vai comprar sozinha? Sabe que vai precisar de fiadores… Ah não quer fiadores? Pois… Então e acha que sozinha consegue a taxa de esforço? Mas esta malta acha que sou acéfala? Posso não ser rica, mas que eu saiba não é preciso ter um doutoramento, ou sequer um mestrado ou licenciatura (por acaso tenho os três, mas isso são pormenores) para se saber fazer contas e avaliar se se pode suportar ou não uma dada dívida. E quem me dera que isto fosse conversa de apenas um misógino de um único balcão.
Estas pessoas deviam ter aulas de linguagem corporal, a sério. Ao menos podiam disfarçar a vilipendiação que lhes sai da boca. Como se soassem genuinamente preocupados, em vez de soarem apenas preocupados em humilhar quem se senta à frente deles e só quer boas condições para poder ter o seu próprio teto.
Resumindo e concluindo, os Heróis desta aventura toda são na verdade mulheres. Mulheres que trabalham no Doutor Finanças e na Caixa Geral de Depósitos. Mas hey, o post já está mesmo grande, continuo num próximo! Comentem e partilhem comigo as vossas experiências! Até já :))
Olá Sofia 🙂
Todo um processo, mas vai valer a pena vais ver!
Estas coisas dos créditos deve ir de mal a pior agora, mas infelizmente às vezes é a única maneira de adquirirmos determinados bens.
Não há nada como a nossa casinha! 🙂 E não há nada como a primeira! 🙂
Um beijinho
Comprei casa com 24 anos, tinha 600 contos na conta do Crédito Predial Português e os meus pais foram meus fiadores. Era o meu 2o ano de ensino e nunca pensei que tudo se complicasse: taxas astronómicas, colocações longe, contar trocos. Mas aquele banco tratou-me sempre bem!