A Boa Sorte
Rosa Montero
Porto Editora
Porque a beleza ajuda a sarar a dor do mundo. Esta é uma das últimas passagens do livro, e tão bem que o resume. Mais do que sobre beleza e dor, A Boa Sorte é um romance cuja dicotomia, entre o bem e o mal, é a verdadeira protagonista.
Ao conhecermos Pablo, o personagem principal, conhecemos as vísceras da mente humana. É como que se através da sua história nos servíssemos dela para fazer paralelos em que as nossas reacções se assemelham, procurando algum refúgio na solidão dos nossos pensamentos. Para nos ajudar nessa viagem, temos Raluca, uma personagem que simboliza o extraordinário que é manter a alegria de viver após uma vida de trauma, a começar pela sua infância.
Confesso que nem sempre achei o livro ligeiro de se ler. Depois de já ter livro outros livros de Rosa Montero, A Boa Sorte, surgiu-me de início como algo que eu não compreendia bem. Misterioso, sim. Intrigante, sem dúvida. Porém, talvez tenha sido impaciente em querer perceber que trama rodeava Pablo. Se por um lado estava curiosa com aquele homem que a caminho de uma conferência decide sair numa paragem, voltar atrás para um piadeiro completamente escabroso, comprar um apartamento e ali ficar no meio da sujidade… Por outro senti falta de um diálogo interior que nos mostrasse um pouco mais.
Rosa Montero é uma escritora de pormenores e estes saltam à vida. Os personagens que rodeiam Pablo e Raluca são incarnações tão humanas de contrastes entre a avareza e a bondade, a violência surda e a velhice impotente. Há coisas difíceis de aceitar ao longo de A Boa Sorte. Temos descrições de relações familiares falhadas, de amor que deveria ser visceral, inexistente, de maldade patológica e da surpresa da ausência de carinho quando talvez fosse a reacção natural.
Ainda assim, há quem considere este livro uma história de amor. Penso que sim, que talvez o seja. Mais do que isso, penso que é um livro que despe a psique humana, expondo a necessidade que temos de amar e sermos amados, com tudo o que não conseguimos controlar pelo meio. Com mais ou menos suspense pelo meio, é este o percurso que vamos fazendo.
E se há coisa que Rosa Montero conseguiu neste romance foi semear esperança ao longo do mesmo. Nem sempre uma tarefa fácil, quando tudo parece antever um possível fim trágico. No entanto, e talvez por a vida real já poder ser tão trágica, a autora quis-nos deixar de sorriso nos lábios, mostrando um respeito pelo carinho que devemos ter pela vida e pelas segundas e terceiras oportunidades.
Tudo está bem quando acaba bem, e não há melhor consolo que uma boa história de redenção, mesmo que não seja pelo mesmo, mas só como uma tentativa de equilibrar o mal que já paira no mundo e que tantas vezes se aproxima de forma assustadora de nós. A Boa Sorte talvez não fique como uma história memorável, mas sem dúvida ajuda na construção da impressão digital que Rosa Montero deixa nos seus leitores: que o ser humano é imperfeito, complexo, mas ainda assim fascinante.
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