“Sinto-me a ser consumida. Por um fogo que não vejo, que não sei de onde vem. Sinto-me a arder de algo que não sei descrever. É como um burburinho, que começa no peito e alastra-se pelos braços, pelas pernas, chega a cabeça e explode, num turbilhão de sussurros que não ouso ouvir. Sei o que são. Segredos não pronunciados, desejos não consumados, anseios que não ouso pronunciar. Gostava de conseguir exorcizar esta sinestesia que teima em não me abandonar.
Quero fundir-me em ti. Quero que mergulhes em mim e me faças esquecer tudo. Quero que me possuas, que me leves para outro nível de desapego de mim mesma. Sei que me queres. Que esta electricidade que passeia por nós se torna cada vez mais difícil de resistir, de abandonar sem consumar. Não te amo, mas é em ti que me quero perder, é de ti que quero o sentimento de posse e de possibilidade. Leva o que quiseres de mim, desde que me dês aquilo que quero. O mais singelo acto de redenção. Não quero cuidados, não quero mimos, mas quero fogo, quero que todo este fogo que tenho em mim encontre o seu apogeu, se satisfaça e me dê tréguas por algum tempo.
Olho-te, seduzes-me, tento-te. Podemos falar do que quisermos, mas mesmo que não tenhamos consciência disso, estamos a pensar no mesmo. Nos lábios que não se tocam, no toque que mesmo não acontecendo faz o sangue ferver. Corpos suados, exauridos, rendidos. Imagino-te a aproximares-te de mim, a olhares-me nos olhos. Sinto-me a perder o controlo. Quero-te e vou ter-te. Puxo-te para mim e beijo-te! Sinto o teu resfolegar descompassado, mas rapidamente as tuas mãos estão nas minhas costas, nas minhas pernas, a puxar-me para ti.
Preciso disto. Quero isto. Dá-me o que quero. Sem perguntas. Sem justificações. Apenas fode-me com paixão, como se fôssemos os únicos seres vivos à face da Terra.”
Morrighan