Jazz em Agosto 2025: Ritmo e energia para todos (Patricia Brennan Septet)

Jazz em Agosto 2025: Ritmo e energia para todos (Patricia Brennan Septet)

A edição deste ano do Jazz em Agosto encerrou com grande animação; o septeto de Patricia Brennan com laivos orquestrais e a herança mexicana da sua mentora tocou e encantou completamente, numa magnífica noite de Verão.

Texto: João Morales

Fotos: Petra Cvelbar – Gulbenkian Música

Logo no arranque o anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian foi completamente contaminado. Um arranque pujante, um toque latino subjacente, uma dimensão orquestral que daria mostras, várias vezes ao longo da noite, de estar perfeitamente trabalhada. O septeto da vibrafonista Patricia Brennan (que passou pelo festival em 2023, no projecto Amaryllis, de Mary Halvorson) foi uma apoteose acertada para o festival. E não deixa de ser assinalável, num certame que se pauta pela apresentação regular de propostas bem radicais e disruptivas, o encerramento seja feito (e com todo o sucesso) com uma formação que nos trouxe um Jazz abrangente, acessível e essencialmente físico.

Na bagagem traziam o álbum Breaking Stretch (do qual arrancaram com “Five Suns”), considerado pela prestigiada DownBeat como disco do ano de 2024, a mesma publicação que considerou Patricia a vibrafonista do ano. Nascida no México, começou a estudar música com quatro anos (tocando percussão com o seu pai, acompanhando discos de salsa, ouvindo muito Jimmi Hendrix na companhia da mãe). Ainda antes de se mudar definitivamente para os , já tinha tocado com com Yo-Yo ma ou Paquito D’Rivera, bem como algumas orquestras de nomeada. Entretanto, já se cruzou com a já referida Mary Halvorson, Michel Formanek, Reggie Workman ou Wadada leo Smith, entre outros nomes.

O segundo tema foi o que dá nome ao disco. Tudo começa com o trompete  de Adam O’Farrill (b. 1994, originário de uma família amplamente ligada à música, distinguido em 2019 e 2021, pela mesma DownBeat com o Downbeat Critics Poll for Best Rising Star Trumpeter e os dois saxofones (Mark Shim, em tenor; Jon Irabagon, em alto e sopranino) num discurso entrelaçada, potente e decidido, uma dinâmica que quase poderia fazer as sonoridades que povoavam o jazz de Chicago pela década de 60. De facto, Irabagon aí nasceu, mas em 1978. Integra os incomparáveis Mostly Other People do the Killing (de Peter Evans) e já tocou com gente tão diversa como Wynton Marsalis, Bill Laswell, Dve Douglas ou Barry Altshul. Já Shim (n. 1973 na Jamaica, mas que foi viver para o Canadá com apenas oito anos) tocou com Hamiett Bluiett, Elvin Jones, Greg Osby ou a Mingus Big Band.

“555” começa com Patricia exibindo a sua mestria e segurança, acompanhada essencialmente pelo baterista Dan Weiss e pela pujança de Shim, a que se juntam depois os dois outros sopros, Irabagon agora em sopranino. Sucedem-se riffs marcantes, a dimensão orquestral está bem, patente, mas há quase quem “subtexto” de jazz-rock. Patricia volta a fazer distinguir o seu som, agora dando passagem a um primeiro de vários solos marcantes do percussionista, Keisel Jimenez. Weiss e Jimenenez foram uma vertente importante da noite, tendo mesmo protagonizado um pqueno dueto, já perto do final. Weiss integra os Starebaby, um super-grupo, com Craig Tborn, Matt Mitchell, Bem Monder e Trevor Dunn, que cruz o Jazz com outras linguagens, enquanto o cubano Jimenez já integrou agravação de mais de meia centena de álbuns, de diversos géneros musicais.

“Mudanza (States of Change” foi um primeiro momento em que Patricia falou sobre as suas origens, a sua ida para os EUA, a nostalgia que toda essa situação lhe causa. A emoção desse contexto voltaria a ser evocada, até quando nos desafiava a dançar.  Mais uma vez, a “tour de force” dos três metais a desempenhar um papel primordial e a reforçar a densidade das composições.

“Palo de Oros (Suit of Coins)” começou com o contrabaixista a mostrar os seus dotes, sozinho. Kim Cass tem recebido inúmeros elogios pela sua originalidade, n forma como aborda o seu instrumento, ele que começou a tocarcom 10 anos, estudou com George Garzone, Jose Morris ou Joe Mnaeri e já tocou com Matt Michell ou John Zorn.

Mais uma vez, é uma avalanche de ritmo, aquilo que nos espera, primeiro conduzida por Patricia, depois por Mark Shim e, novamente, com Jimenez a tomar conta das atenções. Aliás, outro dos momentos altos da noite é quando, durante um solo do percussionista, conta com uma cortina de fundo sonora absolutamente orgânica, ou seja, os ruídos naturais (animais) do jardim circundante.

“Sueños de Coral Azul (Blue Coral Dreams”) prossegue a viagem interior de que Patricia já nos falara, novamente demonstrando um bem gerido equilíbrio entre os solos, a orquestração e a intenção de manter alguma condução sobre os destinos de cada composição. E o anunciado último tema, “Los Otros y Yo (Th Other Selves” é uma apoteose merecida, com solos vários e plenos de dedicação (Patricia, O’Farrill, os dois saxofonistas, o tal diálogo de percussionistas), até um final grandioso. Ainda houve um encore (com um trompete ao jeito de Jon Hassell, talvez dispensável) mas foi apenas uma gentileza, estava tudo entregue e partilhado. Saímos do recinto com energia renovada. 

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest
Share on whatsapp
Subscrever
Notificar-me de
guest

0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

    Subscritores do blog

    Recebe notificação dos novos conteúdos e partilhas exclusivas. Faz parte da nossa Comunidade!

    Categorias do Blog

    Leituras da Sofia

    Apneia
    tagged: currently-reading
    A Curse of Roses
    tagged: currently-reading

    goodreads.com

    2022 Reading Challenge

    2022 Reading Challenge
    Sofia has read 7 books toward her goal of 24 books.
    hide