Hoje apresento-vos mais um autor português. Desta vez é alguém mais conhecido que já tem algumas obras lançadas e que tem vindo a ter cada vez mais sucesso. para além de autor, David Soares é também tradutor. Foi com alegria que recebi uma resposta positiva do autor, quando lhe propuz fazer este trabalho de divulgação. Desde já um muito obrigado pela sua disponibilidade. No final da “entrevista” apresentaria as suas obras e deixarei os links associados ao autor. Passemos então ao que interessa.
Sobre David Soares dito pelo próprio:
Sou um escritor de literatura fantástica, cujos livros podem ser inscritos nos géneros do Horror ou da fantasia negra. Gosto de contar histórias um pouco mais negras, um pouco mais complexas do que aquilo que, de maneira geral, se pode ler dentro desses géneros hoje em dia. Comecei a minha carreira há dez anos como autor de banda desenhada, mas, em paralelo, sempre publiquei trabalhos em prosa. Na verdade, a banda desenhada não é um género: é uma linguagem que pertence ao espectro das linguagens narrativas e a minha abordagem à banda desenhada sempre se cumpriu mais pelo lado da escrita que pelo lado do desenho. Ganhei dois prémios para Melhor Argumentista Nacional, com os meus trabalhos em banda desenhada, e o meu álbum “A Última Grande Sala de Cinema” ganhou uma bolsa de criação literária, atribuída pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas e pelo Ministério da Cultura. Tenho trabalhos de BD publicados em França e em Espanha. Continuo a escrever banda desenhada, embora a minha vontade de desenhar tenha desaparecido. Neste momento, as histórias que quero contar pedem para ser escritas na linguagem do romance, mas isso não significa que, daqui a uns tempos, não volte a escrever um livro de contos ou a desenhar uma história ou a escrever um novo livro de ensaios (como fiz com o título “Sobre BD”, um livro de ensaios sobre banda desenhada). Gosto de saber que tenho essa versatilidade de poder escolher muitas linguagens diferentes para trabalhar.
Estilo e Ritmo de Escrita:
Gosto de escrever histórias detalhadas, com muitas camadas. As minhas histórias são cruzamentos de ideias e, em virtude disso, é impossível manter um registo superficial, mesmo que o desejasse. Em essência, vou concebendo a história na minha cabeça; quando ela já não aguenta mais o peso, começo a escrever; de modo geral, a fase de descarregamento da ideia para o papel costuma ser rápida. Nessa altura, tenho uma ideia muito bem definida da história: ou seja, não invento à medida que vou escrevendo – o que faço é escrever aquilo que já imaginei. Como também desenho não tenho dificuldade nenhuma em visualizar ambientes e personagens e isso ajuda-me a evitar falhas de continuidade ou omissões. O que faço é sentar-me ao computador durante a tarde e ler em voz alta o que escrevi no dia anterior: gosto de ler em voz alta, porque isso permite-me compor o texto de um modo eufónico. Acho que quem trabalha com palavras tem essa responsabilidade: a de criar um texto que soe bem, que tenha personalidade. Depois de fazer essa revisão, e mudar o que não gosto, começo a escrever coisas novas. Quando acabo um livro deixo-o a repousar durante uns dias, antes de relê-lo e fazer acertos. Tento escrever todos os dias.
Influências:
Nunca sei o que responder sobre as possíveis influências, porque elas, em última análise, são tantas que não consigo escolher uma, em particular. Acho que as maiores influências advém das leituras que eu faço; na sua maioria livros de história, de divulgação científica, sobre temas herméticos ou ocultos. Leio pouca ficção, porque para escrever os meus livros preciso de recolher tanta informação que fico sempre com pouco tempo para ler as histórias escritas por outros. Mas as influências, sejam de livros ou de outras fontes, só funcionam se as soubermos amalgamar numa composição muito própria e, para que isso aconteça, é preciso termos uma voz autoral bem definida. Alguns livros que li nos últimos tempos e que me impressionaram: “Observatory Mansions” de Edward Carey; “Fifth Business” de Robertson Davies; “Laura Warholic or, The Sexual Intelectual” de Alexander Theroux. Depois há livros que adoro, como “Darconville’s Cat”, também de Alexander Theroux, “New Grub Street” de George Gissing, “The Third Policeman” de Flann O’Brien, “Gravity’s Rainbow” de Thomas Pynchon, “The Handmaid’s Tale” de Margaret Atwood, “The Sheep Look Up” de John Brunner.
O livro que mais gostou de escrever e porquê:
O livro que cada escritor mais gosta é sempre o mais recente, por isso, até o próximo romance estar terminado, respondo que o meu trabalho preferido é “O Evangelho do Enforcado”.
O que nos espera no futuro:
Mais livros, claro. Ficção e também um livro de ensaios sobre um tema que vou manter em segredo, por enquanto.
Dicas e Conselhos a jovens que querem ser escritores:
Se querem mesmo ser escritores têm de fazer escolhas e perceber que se trata de um ofício solitário e exigente. A ideia do escritor boémio é um mito. Eu, pelo menos, quase nunca saio de casa e passo os dias sentado a ler e a escrever. Quem quer ser um bom escritor tem que ler sobre tudo: não pode ter preconceitos e amarras de pensamento. É o único conselho que eu posso dar: leiam muito – sempre. (Acordem mais cedo para ler, se for preciso.) Senão, nunca irão escrever bem. Andem a pé, sozinhos, e pensem sobre o que leram. Isso também é muito importante: não se limitem a devorar palavras – pensem sobre elas e criem as vossas próprias ideias. Questionem o mundo. Sejam cépticos. Reúnam o máximo de informação possível do assunto sobre o qual querem escrever e aprendam. Toda a gente é capaz de garatujar letras no papel ou teclar, mas poucos sabem escrever. Sejam exigentes e pensem se, de facto, têm algo para contar, porque às vezes existe mais o fascínio de se querer ser escritor do que a vontade real de querer dedicar a vida às letras. Pensem nisso e sejam honestos: não se tentem enganar, porque isso só leva à desilusão. Vejam o trabalho de quem já publica e perguntem: “Sou capaz de competir com isto?” ou “Que posso eu dizer que esta pessoa não tenha dito?” São perguntas importantes. Se acham que têm aquilo que é preciso, então façam-no: nunca percam tempo com coisas inúteis.
Passo agora à apresentação das obras de David Soares:
A Sombra Sobre Lisboa
David Soares e outros Autores
Sinopse: O que aconteceria se o fabuloso imaginário de Howard Phillips Lovecraft – considerado o maior escritor de terror fantástico de sempre – fosse aplicado à cidade de Lisboa, às suas colinas inclinadas, becos escuros e prédios seculares?Guiados pela imaginação de autores tão diferentes como Rhys Hughes, António de Macedo, David Soares, João Barreiros ou José Manuel Lopes, entre outros, somos convidados para um passeio ao longo da história milenar de Lisboa e dos seus segredos mais obscuros. Entrelaçando artefactos, criaturas e intrigas lovecraftianas com factos e personagens históricas da nossa capital, o resultado é uma obra original, simultaneamente divertida e perturbadora, verdadeiro tributo não só a Lovecraft mas também à cidade de Lisboa. Prepare-se para descobrir que horrores presenciaram os fenícios na foz do Tejo… O que levou a que os mouros invadissem a península… Que monstros encontraram as caravelas durante os descobrimentos… Qual a verdadeira razão para o terramoto de 1755… Que estranhos cultos combateu Eça de Queiroz… Qual a verdadeira razão para a interrupção das obras do metro da Baixa… E muito mais!
Sinopse: Uma vila assombrada por um misterioso visitante, vestido de negro, que traz consigo matilhas de cães. Uma alma prisioneira num corpo imprevisto que se transforma em algo que não deveria existir. Uma criatura fantástica que descobre a sua identidade com a ajuda de um inabilitado.Associando fantasia, realismo mágico e horror, David Soares convida-nos para uma viagem que não voltaremos a esquecer.
A Conspiração dos Antepassados
Sinopse: Na tradição dos melhores thrillers, David Soares convida-nos a espreitar debaixo do véu e a vislumbrar a mais assustadora conspiração da História: um livro assinado por Francisco d’Ollanda, o maior artista português do Renascimento, é cobiçado por uma seita disposta a tudo para o obter. Que terrível segredo terá nas suas páginas para justificar tanto sangue?
Fernando Pessoa, o ilustre poeta português, é convidado por Aleister Crowley, o mágico inglês, a entrar numa aventura cheia de mistério, acção e suspense para descobrir esse segredo que, afinal, talvez tenha a ver com D. Sebastião, e a verdadeira razão porque os portugueses foram derrotados em Alcácer-Quibir.
Do exotismo da Tunísia às ruelas húmidas de Londres, das mandíbulas da Boca do Inferno ao coração da Quinta da Regaleira, A Conspiração dos Antepassados é uma viagem inesquecível. Misturando verdade, lenda e magia, David Soares apresenta-nos algo nunca visto na literatura portuguesa: um romance cuja meticulosa pesquisa vai agradar aos estudiosos de Fernando Pessoa, e cuja energia e emoção vai encantar os fãs de uma grande aventura.
Um Passeio por Lisboa Triunfante [eBook]
Sinopse:Apresentação do companion pelo autor:
Este trabalho serve para apresentar os temas de Lisboa Triunfante. […] Tentei não introduzir informações que contivessem elementos passíveis de prejudicar a leitura, mas tive a preocupação de escrever um texto que esclarecesse os leitores familiarizados com o livro. Penso que este companion passou a recruta com distinção: tanto pode ser lido por quem já conhece o romance, como por quem ainda o vai descobrir. Sem querer esfregar a cara dos leitores na mesma trincheira feita de referências históricas e literárias na qual estive quase a perder, senão a vida, o juízo nos últimos oito meses, não quis deixar de partilhar alguns dos ferimentos que vão marcar o meu corpo e a minha psique até eu morrer. Os calibres dos projécteis estão, claro, todos listados na bibliografia de Lisboa Triunfante.
Trata-se de um livro sobre muitos assuntos e a cidade que lhe dá o nome apresenta-se mais como o palco onde esses dramas são representados que como o tema principal, apesar de todos os capítulos aprofundarem diversos episódios da sua história. As personagens principais são dois arquétipos que permeiam a cultura ocidental: o Trapaceiro e o Tentador, aqui representados pelas figurações mais comuns de Raposa e Réptil. Fica a advertência que a informação contida nas páginas seguintes não circunscreve a totalidade das temáticas presentes no livro, sob o risco de desvendar pormenores importantes à leitura.
Este companion é, também, um diário de memórias. Passo mais tempo a viver nesta Lisboa Imaginária que na Lisboa que posso observar pela minha janela. Sendo assim, este não é apenas um mapa de um livro.
É um mapa de um lugar real.
(No mínimo, real na minha cabeça.)
É um mapa da imaginação.
Lisboa Triunfante [capa da Raposa]
Sinopse: Lisboa Triunfante é um romance épico sobre a rivalidade entre duas figuras misteriosas, cuja contenda milenária se cruza com a história da capital portuguesa. Desde as origens pré-históricas de Lisboa até aos anos turbulentos que antecederam a implantação da República, passando pela elevação da cidade a capital do Reino por Afonso III e pela construção enigmática do Mosteiro dos Jerónimos, a galeria de personagens que dão vida a Lisboa Triunfante contém figuras como Frei Gil de Santarém, D. João V e Aquilino Ribeiro. Reunindo elementos de romance histórico e fantástico, este é o livro definitivo sobre uma Lisboa mágica, que possui tanto de reconhecível quanto de maravilhoso. Lisboa Triunfante é um triunfo da imaginação.
A Conspiração dos Antepassados
Sinopse:Na tradição dos melhores thrillers, David Soares convida-nos a espreitar debaixo do véu e a vislumbrar a mais assustadora conspiração da História: um livro assinado por Francisco d’Ollanda, o maior artista português do Renascimento, é cobiçado por uma seita disposta a tudo para o obter. Que terrível segredo terá nas suas páginas para justificar tanto sangue? Fernando Pessoa é convidado por Aleister Crowley, o mágico inglês, a entrar numa aventura cheia de mistério e suspense para descobrir esse segredo que, afinal, talvez tenha a ver com D. Sebastião, e a verdadeira razão porque os portugueses foram derrotados em Alcácer-Quibir. Do exotismo da Tunísia às ruelas húmidas de Londres, das mandíbulas da Boca do Inferno ao coração da Quinta da Regaleira, “A Conspiração dos Antepassados” é uma viagem inesquecível. Misturando verdade, lenda e magia, David Soares apresenta-nos algo nunca visto na literatura portuguesa: um romance cuja meticulosa pesquisa vai agradar aos estudiosos de Fernando Pessoa, e cuja energia e emoção vai encantar os fãs de uma grande aventura.
Sinopse:Nuno Gonçalves, nascido com um dom quase sobrenatural para a pintura, desvia-se dos ensinamentos do mestre flamengo Jan Van Eyck quando perigosas obsessões tomam conta de si. Ao mesmo tempo, na sequência de uma cruzada falhada contra a cidade de Tânger, o Infante D. Henrique deixa para trás o seu irmão D. Fernando, um acto polémico que dividirá a nobreza e inspirará o regente D. Pedro a conceber uma obra única. E que melhor artista para a pintar que Nuno Gonçalves, estrela emergente no círculo artístico da corte? Mas o pintor louco tem outras intenções, e o quadro que sairá das suas mãos manchadas de sangue irá mudar o futuro de Portugal. Entretecendo História e fantasia, O Evangelho do Enforcado é um romance fantástico sobre a mais enigmática obra de arte portuguesa: os Painéis de São Vicente. É, também, um retrato pungente da cobiça pelo poder e da vida em Lisboa no final da Idade Média. Pleno de descrições vívidas como pinturas, torna-se numa viagem poderosa ao luminoso mundo da arte e aos tenebrosos abismos da alienação, servida por uma riquíssima galeria de personagens.
E ainda temos as seguintes:
- Mucha
(BD. Kingpin Books, 2009) - As Trevas Fantásticas
(Contos. Polvo, 2005) - Sobre BD
(Ensaio. 2004) - A Última Grande Sala de Cinema
(BD. 2003) - Lisboa
(CD Audio. 2002) - Mostra-me a Tua Espinha
(Contos. 2001) - Sammahel
(BD. 2001) - Mr. Burroughs
(BD. 2000) - Cidade-Túmulo
(BD. 2000)
Links:
Blog Oficial do Autor
Página do Autor na SdE (Editora)
Um autor que descobri há pouco tempo e que me fascinou o primeiro e único livro que li dele.
Tenho para ler, talvez em Abril, o Evangelho do Enforcado.
Parabéns pela entrevista.
Olá!
Obrigado =)
O autor foi extremamente simpático e mostrou-se super disponivel.
Como isto é um blog e não uma revista ou jornal, achei importante focar-me nos pontos principais de quando queremos conhecer um novo autor. Muito mais se poderia falar até porque não explorei nenhuma das suas obras.
Quem sabe para um futuro próximo!?
Boas leituras =)
A entrevista está muito boa e interessante.
Só li um conto do autor, por isso não posso dizer se gosto ou não (pouca matéria para avaliar), mas espero num futuro próximo poder ler algo mais substancial.
Este autor desperta-me imensa curiosidade! A ver se o experimentare durante este ano 😉 (quero ler A Conspiração dos Antepassados e Lisboa Triunfante :P)
Está muito interessante, mas falta uma coisa, as BDs: "A última grande Sala de Cinema" e "Mucha" 😉
Tens toda a razão Rui! Tentarei actualizar o post o quanto antes. Que falha a minha!
Não é falha, a BD é um lado menos conhecido do David Soares 😉
E falta na lista de BDs – falha minha -, o "Mr. Burroughs".
Opss!! Este entrevista tinha-me passado despercebida 🙁
Tendo lido apenas "O Enforcado do Evangelho" atrevo-me a dizer que este autor é já um dos GRANDES autores que temos em Portugal.
Irei acompanhar a obra dele de perto. "A conspiração dos antepassados" está na minha mira 🙂
Beijinhos