Apesar de terem as mesmas raízes, Wicca e Druidismo são duas vertentes pagãs diferentes. Embora este blog esteja mais virado para o druidismo, irei, oportunamente, falar também um pouco mais sobre Wicca (religião criada por Gerald Gardner). Hoje deixo-vos as principais diferenças entre ambas pela voz de Claudio Quintino Crow e pela minha.
Para mais esclarecimentos, basta enviarem-me um e-mail.
Diferenças e Semelhanças
“O druidismo é uma religião politeísta, isto é, honramos diversos deuses e deusas. Não existe o conceito de deidade única, mas temos a Natureza como sagrada e mãe de toda a vida, embora ela não seja uma deidade específica, ela é a fonte de toda a vida, de onde tudo veio e para onde tudo vai, inclusivé os deuses e deusas.”
Para melhor traçar as diferenças e semelhanças da wicca e do druidismo, vamos examinar alguns detalhes de ambas as religiões:
Origens da Wicca:A Wicca chega até nós através de Gerald Gardner. Gerald Gardner fazia parte da Ancient Order of Druids juntamente com Ross Nichols. Quando este último surge com novos estudos sobre a origem do druidismo, Gardner decide criar a nova religião Wicca. A influência celta da Wicca deve-se então em grande parte à amizade entre Gardner e Ross Nichols (criador da O.B.O.D. – Ordem de Bardos, Ovates e Druidas) e à época em que ambos eram membros da A.O.D. em Inglaterra. A original da Wicca é então fácil de verificar porque é bastante recente.
Origens do Druidismo:Depois de muita influência de ordens semi-maçónicas da Inglaterra nos sécs. XVIII e XIX, o druidismo de então era uma mescla de entidades filantrópicas, sociedades secretas e clubes de cavalheiros. Num dado ponto, ao final do séc. XIX, existiam centenas de ordens que se entitulavam ‘druídicas’ sem ter nenhum conteúdo propriamente ‘druídico’. Na década de 1960, Ross Nichols será o responsável pela grande mudança ao deixar a A.O.D. e fundar a Order of Bards Ovates and Druids (O.B.O.D.), dando muito mais ênfase aos aspectos mágicos, históricos e celtas.
Naquela época, as muitas descobertas arqueológicas, antropológicas e etnográficas das crenças e práticas dos antigos celtas permitiram resgatar muitos elementos originais da espiritualidade celta a tantos séculos perdidos. Até este ponto a A.O.D até reclamava os druidas como monoteístas, coisa mais que provada ser falsa.
Até aqui, o que ambas têm em comum?Ambas têm raízes celtas e enquanto o druidismo renasceu por volta do século XX, a Wicca “nasceu” nesse mesmo tempo. Tudo frudo de uma troca bastante compulsiva de factos entre dois amigos “ocultistas”Até aqui, o que ambas têm de diferente?O ênfase na magia cerimonial da wicca e o ênfase no resgate da espiritualidade celta do druidismo.
Crenças e práticas da Wicca:
Gardner apresenta a wicca como “o resgate da religião celta que havia sobrevivido oculta no interior da Inglaterra, transmitida oralmente por famílias de bruxos”. Para criar esse “mito”, Gardner mistura diversos ingredientes:
1.Os cunning-folk, bruxos tradicionais do interior da Inglaterra que transmitiam os seus conhecimentos de forma fechada e faziam magia “positiva”;
2.Os rituais sazonais celtas (apresentados a Gardner justamente por Ross Nichols nos anos da A.O.D.);
3.As teorias (já descartadas) de Margaret Murray que afirmavam que por toda a Europa existira antes do cristianismo um culto unificado e centralizado na figura de uma Deusa da Natureza e de seu complemento masculino;
4.O ênfase nos aspectos mágicos desse suposto “culto à fertilidade”, envolvendo diversos elementos de magia sexual – simbólica ou não – possivelmente herança do contacto entre Gardner e Aleister Crowley.
5.A parte ritualística da wicca também tem grande influência da maçonaria e da magia cerimonial.
Desses elementos, tiramos a base das crenças Wiccanas:
- a herediariedade e o peso da iniciação;
- a Roda do Ano;
- o mito de uma Deusa Única e seu Consorte;
- o Grande Rito e os festivais de fertilidade;
- o círculo ritual, o formalismo, os instrumentos mágicos e as graduações.
Crenças e práticas do Druidismo:
Ainda que alguns grupos e ordens druídicos afirmem possuir uma herança directa dos druidas celtas de 2.000 anos atrás, o facto é que o druidismo actual é também ele uma mistura de diversos elementos:1.As crenças originais celtas (600 a.c. – 500 d.c.) resgatadas através dos estudos dos sécs. XIX e XX;
2.As influências do cristianismo celta que se desenvolve nas ilhas da Grã-Bretanha e da Irlanda antes da imposição do cristianismo de Roma (500 d.c. – 1000 d.c.);
3.As crenças pagãs dos normandos após a invasão das ilhas pelos vikings (800 d.c. – 1000 d.c.);
4.O cristianismo místico e a maçonaria que moldaram o Renascimento Druídico do séc. XVIII;
5.O ocultismo do final do séc. XIX;
6.O Reconstrucionismo Celta do final do séc. XX;
Neste aspecto, o que une a wicca e o druidismo?A ligação com a natureza; a visão dessa natureza como sagrada e como fonte de tudo; a percepção de que as energias da Natureza estão por trás de todos os processos da vida; o uso de círculos como espaço sagrado; o trabalho com os 4 Elementos como base mágica.
Neste aspecto, o que diferencia wicca e druidismo? A principal diferença é: o druidismo enfatiza a importância de toda a história e da relevância das suas crenças e práticas para os dias modernos, enquanto a wicca não atribui a mesma importância às origens históricas, preferindo enfatizar as origens “místicas”.
Além disso, enquanto a wicca tem como palavra-chave a “Vontade” (um princípio comum também a Thelema de Crowley), o druidismo tem como pedra de toque a “Inspiração” (Awen).
Essa diferença é responsável pelo abismo que separa as práticas mágicas dos dois caminhos, pois determina o modo como o praticante de um e de outro se relaciona com os elementos, a Natureza, as forças, as Deidades, etc. Enquanto o wiccano por princípio tenta “controlar” e “dominar” os elementos, o druida tenta “compreender” e inspirar-se” pelos processos da Natureza.
Isto posto, podemos dizer que, apesar da origem comum, a wicca e o druidismo possuem naturezas bastante diferentes nas suas crenças, práticas e abordagens, mas isso é uma simplificação, uma padronização de raciocínio que não corresponde ao todo das duas tradições. Actualmente, mais e mais druidas recorrem a práticas mágicas mais “wiccanas”, ao mesmo tempo em que wiccanos buscam aprimorar os aspectos filosóficos da wicca através dos ensinamentos “druídicos”.
É aqui que temos o ponto de convergência entre um caminho e o outro: não restam dúvidas que existe uma tendência de ambos se aproximarem, não só pelos pontos em comum, mas também porque as diferneças entre um e outro complementam-se nos aspectos carentes e/ou diferentes um do outro.
Isto não implica necessariamente a perda da identidade de um ou de outro – desde que haja seriedade e responsabilidade nesse processo.
Sabe-se que, actualmente, mais do que nunca, há um diálogo muito saudável entre alguns dos principais grupos druídicos e wiccanos em Inglaterra.
Respeitando-se a identidade e as diferenças, podemos realçar os pontos em comum e agir em conjunto – e este é o segredo de um bom casamento, de uma boa sociedade, de uma boa amizade! Afinal, uma vez que ambos são caminhos neo-pagãos, ou seja, tanto a wicca quanto o druidismo buscam a reinserção do ser humano num contexto de totalidade com o mundo em que vivemos, nada mais justo que ambos unirem-se em torno dos pontos em comum.
Espero que tenham gostado =)
Peço desculpa mas, Margaret Murray viu as origens das Wicca na Era Paleolítica. Ela a viu como uma linha mais ou menos continua até ao presente. Existia antes do cristianismo. Embora tenha sido posto em causa esta conclusão, ela depois apresentou muitas evidências tangíveis e muito material. Como um provável desenvolvimento damagia-religião, ( em vez da Bruxaria própriamente dita), suas teorias ainda são respeitadas. É originária da Bertania antiga e dos Nordicos.
Gardner fundou uma das linhas ou tradições da Wicca, a chamada Wicca Gardneriana, em 1950. Gardner iniciou- se em Wicca num coven Celta no final do anode 1930. Existem outras tradições como a A Wicca Alexandrina, Australiana, etc.,e existe uma vertente denominada A Wicca Celta Americana que descendem de Jessica Bell ( Lady Sheba). Este ramo segue as mesmas práticas dos Gardneriana só que fazem os rituais vestidos. “Livro Completo dos Wicca” – Raymond Buckland. Só relatei o que li. Desculpe.
Olá Maria Cecilia, muito obrigada pelo comentário! Sem dúvida muito pertinente. Já estou há algum tempo sem estudar o assunto, mas vou registar as suas referências para ficar a saber mais. Agradeço o contributo para o tópico 🙂
Obrigado. É sempre bom ter opiniões diferentes, pois leva ao debate e à aprendizagem. Aliás como o caminho na Wicca, estudo constante associado à Witchcraft. Aliás, para mim bruxa e Wicca não é a mesma coisa. Bruxas há muitas mas nem todas são Wiccas.
Eu quero agradecer a Sofia Teixeira pelo blog e o assunto em pauta sobre os wicca e Druidas. Eu tenho interesse nas canções desses povos. Canções dos Wiccas e dos Druidas alguém conhece alguma literatura?
Refiro-me ao hino dos Wiccas e os Druidas. Mais especificamente.
Isso pra mim é como um processo antecedente a Warcraft III, onde undead e night-elf são, respectivamente, Wicca e Druid
Acho que tô viajando.
Com certeza vou me aprofundar nas duas vertentes.