Questionado sobre a sua mais recente obraO Diletante e a Quimera, Pedro Medina Ribeiro aceitou responder a meia dúzia de questões. Este autor foientrevistado pela primeira vezaqui no Morrighan em 2010 aquando da publicação do seu primeiro livro de contosA Noite e o Sobressalto. Para quem ainda não conhece o escritor, recomendo-o vivamente. Fiquem então com este seu regresso ao nosso espaço. Obrigada Pedro, pela simpatia e disponibilidade.
Olá Pedro! Já fizeram 3 anos desde a primeira vez que te entrevistei aqui no Morrighan e que também publicaste a tua primeira obra. No mês passado tivemos finalmente o prazer de ter a possibilidade de ler algo teu através da publicação de O Diletante e a Quimera. Fala-nos um pouco sobre esta tua mais recente obra.
O Diletante e a Quimera é uma aventura. Na verdade, são duas histórias passadas em Itália: a história de um pintor do início do séc. XVII chamado Sandro Bellocchio, inspirado em Caravaggio, e a história, escrita na primeira pessoa, de um professor de Arte (um americano snob e opinioso, que, sendo quase antipático, acaba por se tornar numa personagem com carisma). As duas histórias tocam-se por causa de um objecto e de um quadro.
A aventura tem elementos de fantástico, mas também episódios de alguma comicidade que, como notaste na tua crítica, servem de contraponto à tensão criada nas passagens mais negras. Por outro lado, gosto de pensar que o livro é mais do que uma aventura e que convida o leitor a partilhar algumas das reflexões que se fazem, por exemplo sobre a natureza da Arte.
O que é que te motivou a escrevê-la? Onde foste buscar a inspiração e as ideias?
Pode dizer-se que O Diletante e a Quimera começou há dez anos, quando li um livro sobre Caravaggio. Caravaggio foi um artista excepcional, com contribuições importantes que revolucionaram a forma como se pintava. Influenciou Rembrandt, Vermeer ou Rubens, mas acabou por cair no esquecimento logo após a sua morte, e só no séc. XX voltou a haver interesse pela sua pintura. Pois bem, Caravaggio era um homem violento, que levava uma vida libertina e sem regras. Esteve preso várias vezes e em 1606 teve de fugir de Roma por ter assassinado um jovem. Ele próprio apareceu morto em circunstâncias misteriosas.
Para além dos aspectos aventurosos da sua vida, “fascinou-me” o facto de alguém com tamanha sensibilidade e inteligência poder ter tais comportamentos. De facto, é fácil esquecermo-nos de que artistas cujo trabalho admiramos (sejam compositores, pintores, escritores) são ou foram homens e mulheres com defeitos, e que, com grande probabilidade, ficaríamos decepcionados se tivéssemos a possibilidade de privar com eles.
Foram três anos de uma longa espera. O que fez com que fosse preciso tanto tempo para voltarmos a ler algo teu?
Eu escrevo devagar. E só escrevo quando me apetece, o que nem sempre sucede. Releio muitas vezes e paro para reflectir sobre a história. Também o facto de metade do livro se situar no séc. XVII trouxe dificuldades acrescidas, pois, com frequência, tinha de interromper a escrita para procurar informações. De resto, acredito que não deve haver pressa em publicar.
O Diletante e a Quimera está num registo bastante diferente de A Noite e o Sobressalto. Consideras que o teu estilo de escrita mudou ou apenas quiseste fazer algo de diferente?
Parece-me que a maior diferença entre os dois livros é que A Noite e o Sobressalto é um livro de contos, enquanto que O Diletante e a Quimera é um romance. O conto é um género particularmente difícil em que autor está obrigado a uma grande contenção (escrever um bom conto é, de resto, um desafio estético muito exigente). No romance pude experimentar um ritmo diferente, oferecendo às personagens a possibilidade se entregarem a reflexões mais ou menos demoradas, ou oferecer descrições que não caberiam numa narrativa mais curta. Penso que são essas as diferenças que notaste e não tanto uma mudança do meu estilo de escrita.
A Noite e o Sobressalto é um livro de contos, ao contrário d’O Diletante e a Quimera. Qual dos dois formatos preferes?
Foi importante a experiência de escrever um romance. Foi um exercício difícil com que aprendi muito e que me deu confiança necessária para de futuro me “atirar” a outras tarefas ambiciosas. Mas continuo a ver-me como um contista e, em suma, irei continuar a escrever nos dois formatos.
Qual a tua opinião sobre a evolução do mundo editorial português face aos autores portugueses nos últimos três anos?
Não tenho estado suficientemente atento para te poder responder.
Tens projectos em mente para um futuro próximo?
Enquanto escrevia O Diletante e a Quimera fui tomando nota de ideias que gostaria de desenvolver. Agora vai sendo altura de olhar para tudo isso e decidir o que vale a pena aproveitar.