Opinião: Jesus Cristo Bebia Cerveja de Afonso Cruz

Jesus Cristo Bebia Cerveja
Afonso Cruz

Editora: Objectiva

Opinião: Antes de se pegar em qualquer livro deste autor, é preciso respeito. É preciso respeito porque pura e simplesmente sabemos que, independentemente da obra que colocamos nas nossas mãos, vamos estar perante uma obra de arte. Afonso Cruz tem-se revelado uma maravilhosa novidade nas minhas estantes e se tinha adorado A Boneca de Kokoshka, é certo que venerei Jesus Cristo Bebia Cerveja.

A sabedoria vem com a idade, com a velhice, e suspeito que nos come os órgãos pois quanto mais sabemos das coisas, mais o fígado se queixa, mais os rins têm insuficiência, mais o coração pára. A sabedoria come tudo.”

Espero sinceramente que o autor se encontre de boa saúde pois este grau de sabedoria para a sua idade é algo notável. Entramos na sua história de mansinho, sem percebermos muito bem onde nos leva ou que sentido é que aqueles primeiros capítulos fazem. Quando damos por nós já estamos de tal maneira enredados na narrativa que dei por mim muitas vezes nas minhas próprias reflexões sobre as palavras do autor.

– O amor não se compra.

– Mas paga-se caro.

Rosa é uma rapariga do campo, das terras alentejanas, que se vê deparada com uma avó enferma, com a morte a sussurrar-lhe ao ouvido. Com uma infância particularmente burlesca, Rosa tornou-se numa adolescente, posteriormente mulher, diferente, marcada. Quando o professor entra na sua vida, começa a experienciar novas sensações – boas e más -, deixando o leitor muito reticente quanto ao que está para vir. A sensação de tragédia é iminente.

De cada vez que deixamos de ser percebidos, morremos.

De facto a morte é um tópico que nos acompanha ao longo de toda a obra. Aliás, a própria cerveja vem do cereal que morre, formando o malte e dando origem à bebida dos pobres. Como pode Jesus ter bebido vinho na última ceia, quando vinho era a bebida dos ricos e eles eram pobres? Ora aqui está algo que dá que pensar… A forma como o autor aborda este tema e as perspectivas que nos dá sobre o mesmo são fenomenais.

Tal como é possível não pisar a merda, é possível dar a volta ao impossível.

Eu amei este livro. Se ainda não o tinham percebido pela quantidade de citações nesta opinião, fica agora aqui explicitamente dito. Jesus Cristo Bebia Cerveja é uma obra profunda que mistura temas como a morte, a religião, o amor e a efemeridade. O enredo, as personagens e estas temáticas foram os ingredientes perfeitos para uma obra que merece ser lida por toda a gente.

Como Valter Hugo Mãe disse e muito bem, Afonso Cruz é aquele autor que temos vontade de impingir a toda a gente quanto mais não seja por via da força física! Mas eu sei que não é preciso recorrer a tal porque é impossível ficar indiferente à sua escrita. Para mim foi uma leitura que me provocou diversas emoções díspares. No fim, confesso que até fiquei um pouco letárgica no bom sentido, se é que isso é possível.

Penso que quem lê Afonso Cruz uma vez, não mais o deixará de fazer e estará sempre ansioso pela próxima obra. Eu sei que eu estou. Muito, muito bom.

ENTREVISTA a Afonso Cruz: https://branmorrighan.com/2013/01/entrevista-afonso-cruz-escritor.html

OPINIÃO A Boneca de Kokoshka: https://branmorrighan.com/2012/12/opiniao-boneca-de-kokoschka-de-afonso.html

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Anónimo
Anónimo
11 anos atrás

Ainda não li NADA deste autor, mas todas as críticas aos seus livros são excelentes… estou cada vez mais curiosa!

Unknown
Unknown
11 anos atrás

Um excelente livro recortado da análise ao comportamento humano. Narrativa com um ritmo vivo e fresco onde os personagens dançam num tricô perfeito de simplicidades, ironias e verdades nuas.

Unknown
Unknown
11 anos atrás

Um excelente livro recortado da análise ao comportamento humano. Narrativa com um ritmo vivo e fresco onde os personagens dançam num tricô perfeito de simplicidades, ironias e verdades nuas.

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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