Escritos Aleatórios #25

“Já aceitei que o tempo há-de passar e com ele levar todo este turbilhão de sentimentos. Também já aceitei que fiz tudo o que podia e não podia para tentar marcar a diferença, para tentar que não houvesse um real desperdício do potencial de mim e de ti, de nós, que tanto nos tem transtornado. Que ambos temos consciência de que isto é algo que nunca poderia dar certo, não alivia em nada a opressão que sinto no peito, a profunda tristeza que me assalta e a solidão que se instala.

São os demónios do que nunca seremos que me atormentam, que gozam comigo e não me deixam dormir à noite. Por vezes penso que vou enlouquecer, perder-me nos devaneios do que uma vida sem ti me poderá fazer. Caio no esquecimento de que há mais para além de nós; não quero mais, quero-te a ti. Nos momentos mais febris, sinto-me capaz de uma loucura só para te ter a sorrir de novo para mim, para te ter nos meus braços mais uma vez, para que possamos adiar o inadiável mais uns momentos.

Nunca antes tinha sentido tal desassossego da liberdade de que somos dotados. Quem disse que ser livre era fácil? Porque apesar de sermos livres de tomar as nossas próprias decisões, jamais seremos livres das consequências das mesmas. Mas então que liberdade madrasta é esta? Oh, eu sei, claro, a liberdade está lá, mas com ela vive a responsabilidade. A responsabilidade do que somos, do por que lutamos, dos nossos sonhos e desilusões.

O meu sonho és tu, a minha desilusão sou eu, e lutar por ti tornou-se uma responsabilidade demasiado pesada. São as bagagens do passado que insiste em ser presente, mesmo que um presente oco, opaco, vazio e sem futuro. Condeno-me a viver sozinho, neste isolamento assombrado por tudo aquilo que não fui capaz de conquistar, por tudo aquilo que nem ousei sequer ambicionar. Condeno-me a uma vida de amores não vividos e paixões não sentidas. Tudo porque não te soube amar quando mais precisei, quando mais precisaste, quando podíamos ter passado do éter à substância. Uso a minha liberdade para me prender, para não mais te fazer sofrer.”

Morrighan 07/10/2013 – 08:27

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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