“Nós somos bons a fingir que nada se passa. Que nada se passou. Que tudo permanece igual e que está tudo bem. Somos bons a disfarçar que continuamos constantemente com as mesmas merdas, que este ciclo vicioso teima em resistir a intervalos de tempo sem comunicação, a espaços temporais sem um vislumbre mútuo. Ainda assim é inevitável. Qualquer coisa faz lembrar o passado, um qualquer pormenor, seja palavra, toque ou olhar, desperta novamente todo o ressentimento e raiva, e é nos bastidores da tela, que apenas transmite harmonia, que o caos se desenvolve, frio, cru, que nos despe e nos confronta com tudo aquilo que não dizemos por inteiro, mas que sentimos como um todo.
Tornámo-nos insípidos e insignificantes um para o outro, já nem queremos saber do que o outro sente porque somos nós que acabamos por já nem sentir nada. No entanto, não temos a capacidade de despegarmos um do outro, deixarmos que cada um siga a sua vida aceitando tudo o que nos foi proporcionado e resignando-nos ao que achámos que seríamos, mas que nunca se concretizou. Temos medo da solidão, do que desaparecermos da vida um do outro poderá causar a longo prazo. Somos como ímanes que se repelem, mas ao mesmo tempo como lapas que não despegam. Masoquistas, é isso que somos. Preferimos uma relação medíocre à liberdade, tornámo-nos escravos um do outro, escravos emocionais e carentes, sempre prontos a receber pingas sem sabor ou migalhas sem consistência. Sim, masoquistas, de algo que nunca foi nem nunca será, mas que ambos desejávamos que fosse.”
Morrighan 19/10/2013 – 01:56