Entrevista a Luís Costa, Músico Português (You Can’t Win, Charlie Brown e So.ma)

Isto da internet pode ter muita coisa má, mas o que é certo é que se tornou num meio rápido de chegar às pessoas, de conhecer umas quantas novas e ainda de acompanhar os nossos artistas, escritores, etc., preferidos. Existe uma banda portuguesa da qual não me canso – os You Can’t Win, Charlie Brown – e foi através dela que conheci o Luís Costa, o seu guitarrista. Amizade virtual para cá, concertos para lá, acabei por criar uma empatia muito grande com ele, pois é um músico cuja postura admiro e respeito. Com a criação de uma nova rubrica aqui no blogue, que eu já queria há muito, as Playlist da Quinzena, achei que poucas/nenhumas pessoas seriam mais indicadas para a estrear. Nesse sentido, quis que ficassem a saber um pouco mais sobre ele, percebendo-se assim o porquê da minha escolha. 

Fotografia por Sofia Teixeira

Fala-nos
um pouco sobre ti e como te iniciaste no mundo da música:

Essa
pergunta dava pano para mangas mas vou tentar resumir ao essencial… comecei a
tocar relativamente tarde, só aos 17 anos é que tive a minha primeira viola,
muito por influência das minhas bandas preferidas da altura: Nirvana, Pearl
Jam, Guns N’Roses, etc. Tive aulas de guitarra e solfejo durante 4 ou 5 meses
logo no início, depois a partir daí fui-me desenvencilhando sozinho. Na altura
uns colegas da minha turma tinham começado uma banda há pouco tempo e comecei a
andar muito com eles, ao ponto de ganhar a alcunha de “o
electricista” por estar sempre a ajudar nos concertos. Eventualmente lá
ganhei coragem para formar a minha própria banda, e foi o início de um longo
percurso que ainda estou a palmilhar.


Hoje em
dia, as pessoas conhecem-te mais como o guitarrista de You Can’t Win, Charlie
Brown, mas também fazes parte de outro projecto – So.ma! Como é que foste parar
a ambos os projectos?

Bom, eu
comecei pela guitarra mas desde o início que sempre tive muito interesse na
bateria, aproveitava sempre as pausas nos ensaios para ir dar umas batucadas.
Antes dos YCWCB toquei muitos anos como baterista numa banda chamada Madcab,
que acabou por entrar em hiato por falta de disponibilidade dos seus membros.
No início dos Charlie Brown ainda toquei bateria nalgumas músicas, mas depois
entrou o Tomás e fiquei definitivamente confinado aos instrumentos de corda.

Basicamente
a saudade da bateria e do rock foi-se acumulando, e como mantive sempre
contacto com a malta dos Madcab, a determinada altura resolvemos marcar uns
ensaios só para o gozo. Apesar de os primeiros ensaios terem sido bastante
deprimentes (parecíamos uns velhos a tocar glórias do passado!), haviam algumas
ideias que tinham ficado penduradas com o final dos Madcab e que nos pareceu
que podiam resultar num contexto diferente. Decidimos então que era melhor começar
um projecto novo em vez de estarmos a ressuscitar a antiga banda, até porque o
tipo de som que tínhamos em mente era muito mais directo e agressivo, e foi
assim que nasceram os So.ma.


Em YCWCB
és guitarritsta, mas em So.ma és baterista. Tens preferência por algum destes
instrumentos? Como é que é o teu envolvimento, como músico, com cada um deles?

Tenho de
confessar que dá-me muito mais gozo tocar bateria do que guitarra… sempre
tive mais interesse pelo lado técnico da bateria, a guitarra para mim tem sido apenas
um meio para um fim (compôr). Mas cada instrumento tem o seu espaço, e cada um
se adequa melhor a determinados sentimentos que queres transmitir. A bateria é
claramente o ideal para expressar raiva e frustação, não há nada melhor para o
stress do que malhares sem dó nem piedade num objecto inanimado! Por outro
lado, na guitarra é mais fácil de transmitir melancolia, tristeza, alegria, etc.
Daí procurar sempre conciliar os 2 instrumentos, tanto quanto possível.


Fotografia por Vera Marmelo

De todos
os concertos com ambas as bandas, houve algum que te tenha marcado de alguma
maneira?

Vários, sim.
Dos YCWCB, acho que teria de escolher o concerto nas comemorações do 25 de
Abril deste ano. Não pelo concerto em si, mas porque foi um daqueles momentos
em que “caí na real” e me apercebi de facto da dimensão que a banda
ganhou. Tocámos lado a lado com algumas das minhas bandas portuguesas
preferidas de sempre (Linda Martini, Dead Combo, Norberto Lobo) para uma Praça
do Comércio completamente repleta de gente, foi o realizar de um daqueles
sonhos de adolescência que parecia tão plausível quanto ir à Lua.

Com os
So.ma, a melhor recordação é a do primeiro concerto, no Musicbox. Tocámos 4 ou
5 temas e duvido que tenha passado os 15 minutos de duração, mas tínhamos anos
de saudades de rock acumuladas! Foi uma descarga tão grande e tão intensa que
lembro-me perfeitamente de estar quase a vomitar na última música, depois do
concerto precisei de uma meia-hora para me recompor.



E agora
aquela pergunta complicada… Que músicos de referência tens? Tanto na bateria
como na guitarra? Existe algum projecto musical que tenha tido um impacto
diferente na tua vida?

Bom, é de
facto complicado porque tenho a certeza que todos os músicos e bandas que ouvi
até hoje me influenciaram de alguma maneira. Mas suponho que a banda que teve
uma influência mais directa no facto de querer tocar guitarra foram os Nirvana.
Naquela altura o Kurt Cobain era o meu ídolo, e lembro-me perfeitamente de ver
o videoclip do Lithium e pensar “Este gajo é o tipo mais cool do mundo,
também quero fazer isto!”… infelizmente ainda não tive oportunidade de
partir uma bateria ou guitarra, mas quando for rico é a primeira coisa que
farei! 😉

A nível de
bateria houve 2 músicos que me fizeram querer mudar de instrumento: o Dave
Grohl dos Nirvana e o Jimmy Chamberlin dos Smashing Pumpkins. O Jimmy ainda
assim acho que foi o que me influenciou mais, tem uma finesse incrível e
pormenores técnicos maravilhosos.


Fazer
música a tempo inteiro, é um sonho que ainda trazes contigo ou já aceitaste que
terás sempre de ter um emprego fixo constante, fora a música?

Não, esse é
um sonho que já deixei de ter há muito tempo. E não digo isto num sentido
negativo, de todo. Simplesmente consegui arranjar um bom equilíbrio entre a
minha vida profissional e a música, e isso dá-me uma estabilidade que é muito
importante nesta fase da vida. Para além disso o facto de não depender
financeiramente da música dá-me liberdade total para só fazer aquilo que gosto
e com que me identifico, sem ter de estar preocupado em fazer compromissos para
pagar as contas no final do mês.


Imagino
que o t
eu tempo seja sempre apertado, mas consegues ter outros hobbies? O que é
que adoras mesmo fazer que não dispensas nem por nada?

Infelizmente
não, entre o trabalho, música e vida familiar, não me resta tempo para mais
nada. Tento fazer um bocadinho de desporto ao fim-de-semana só por motivos de
saúde, mas mesmo isso às vezes é condicionado por concertos fora de Lisboa.



E hábitos
de leitura, tens? Autores ou obras de que queiras falar um bocadinho?

Até tenho
vergonha de dar esta resposta num blog tão virado para a escrita, mas não pego
num livro há largos anos. O último que tentei ler foi o “Um grande
salto” do Nick Hornby, mas nunca o cheguei a terminar pelos motivos que
mencionei na pergunta anterior. Houve no entanto uma fase da vida em que li
bastante, ali no final da faculdade e primeiros anos de trabalho, quando ainda
vivia em casa dos meus pais. Dos livros que li nesse tempo, alguns dos meus
autores preferidos eram o Nick Hornby, Irvine Welsh e o Maestro António
Vitorino D’Almeida (autor dos únicos dois livros que me fizeram rir sozinho às
gargalhadas, o “Coca-Cola killer” e “Tubarão 2000”).


Fotografia Luís Costa

Sei que
és um grande defensor dos animais e que és completamente apaixonado pelo teu
cão. De onde veio esse sentimento de protecção?

Desde
pequenino que sempre adorei animais e cães em particular, mas os meus pais
nunca me deixaram ter um porque era alérgico aos pêlos. Sempre disse que quando
tivesse a minha própria casa iria ter um cão, e cumpri a minha promessa
(curiosamente, ganhei imunidade alérgica aos pêlos pela exposição diária a
eles).

O sentimento
de protecção acho que é inevitável quando tens um Ser que é completamente
dependente de ti para tudo na vida; imagino que seja o mesmo sentimento que os
pais têm pelos filhos. Infelizmente Portugal está extremamente atrasado em
relação a outros países Europeus no que toca a leis de protecção animal, e
apesar de termos dado um (pequeno) passo importante recentemente ainda há
muitíssimo por fazer e uma realidade tenebrosa que vai demorar décadas a mudar.



Que
experiência de vida é que já viveste que gostasses de partilhar com as pessoas?

Tenho 37
anos por isso felizmente já tive oportunidade de viver muitas experiências na
vida que recomendo, não dá para fazer uma listagem completa aqui… mas pegando
num caso recente, fiz este ano uma road-trip pela Islândia que foram as
melhores férias da minha vida, vi paisagens incríveis que nunca pensei ver.
Recomendo vivamente a quem puder!


Perguntas rápidas

Prato
preferido: sou um tipo simples: bife com batatas fritas!

Bebida
preferida: café

Pessoa que
admiras: Muitas, mas se só puder escolher uma, então que seja a minha mãe.

Local que
queres visitar que ainda não visitaste: Nova Iorque

Sítio onde
queres tocar que ainda não tocaste: nunca pensei muito nisso, mas talvez o
Olympia em Paris

O que é que
foi o teu pequeno-almoço? Torrada, pastel de nata e meia-de-leite.

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  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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