Facto – a Música Portuguesa atravessa uma das fases mais férteis de sempre. Qualidade e diversidade não lhe faltam, o difícil é conseguir acompanhar a velocidade com que trabalhos novos vão sendo editados e lançados. O facto de hoje em dia ser fácil produzir sem a necessidade de um estúdio, ajuda a que muitos projectos independentes vejam a luz do dia. Os equipamentos caseiros têm cada vez mais qualidade e esta mudança dos tempos nota-se também no tipo de música que tem vindo a ser produzida. A música electrónica, por exemplo, começa a ser vista sob uma nova perspectiva e muitos preconceitos têm sido desfeitos.
É complicado avaliar um ano que foi tão recheado em lançamentos e dos bons. Fazer tops então é praticamente impossível e serão sempre de uma grande injustiça. Dado que o Morrighan é um blogue pessoal e dado que muito do meu trabalho é baseado em valor humano, as escolhas que aqui vão ser feitas são baseadas não só na qualidade, subjectiva aos meus gostos pessoais, do trabalho, como também na postura. Só este ano fiz mais de 70 entrevistas, a grande maioria pessoalmente, conheci mesmo muita gente, e quero registar esse lado positivo que ter um blogue tem.
Também a nível de concertos e festivais o ano foi muito rico, mas aí é fácil – Festival Vodafone Paredes de Coura e Fusing for the win. Não pude ir ao Milhões de Festa nem ao Bons Sons (por estar no Fusing), mas desconfio que teriam sido duas experiências também elas muito boas. Estive num dos dias do Alive, o último, e tirando o primeiro concerto no palco principal, dos You Can’t Win, Charlie Brown, a restante noite foi passada no secundário. Também valeu muito a pena!
Mas vamos aos discos! Este ano tivemos N lançamentos muito, muito bons. Seria impossível percorrê-los a todos, mas vou deixar aqui uma lista dos que realmente me marcaram (ou seja, aqueles que me vêm automaticamente à cabeça.:
Top LPs Nacionais
1. Diffraction/Refraction, You Can’t Win, Charlie Brown
2. Forgetting is a Liability, Mr. Herbert Quain
3. 8, Sensible Soccers
4. A Bunch of Meninos, Dead Combo / 1975, Xinobi
5. Keep Razors Sharp, Keep Razors Sharp
6. Search for Meaning, Lotus Fever
7. No True Magic, a Jigsaw / How can we be joyful in a world full of knowledge, Bruno Pernadas
8. Canções Mortas, Coelho Radioactivo / Cornerstone, Brass Wires Orchestra
9. The Waiting, Yesterday / Time for T, Time for T / A Mountain and a Tree, Imploding Stars
10. Savage, Moe’s Implosion / Enteléquia, O Abominável
Sim, alguns foram ouvidos em igual medida, por isso ficam par a par. Deixo algumas menções honrosas, pois o ano foi mesmo fértil em discos, a: Donkey, Nobody’s Bizness / Black Bombaim & la la la ressonance / Hook, Killimanjaro / True, The Legendary Tigerman / Pesar o Sol, Capitão Fausto / The Sky Over Brooklyn, João Martins / Mambos de Outros Tipos, Throes + The Shine / We Play With Time, Twisted Freak / Penelope, Sequin / White Haus, White Haus / Um Mundo Quase Perfeito, Pedro e os Lobos / B Fachada, B Fachada / Norton, Norton / Badlav, Jibóia / #batequebate, D’Alva / V, Azevedo Silva / This is Los Waves So What, Los Waves.
Top EPs Nacionais
1. Ouija, azul-revolto
2. There’s Always Something Related to It, Tales and Melodies
3. 5 Monstros, Tio Rex
4. Soothing Edge, For Pete Sake
5. Bare, Gobi Bear
Menções honrosas a: Boundaries, Holy Nothing / The Sunflowers / Porcelain Love, Miss Titan / The Stone John Experience, Stone Dead / Vermelho Donzela, Bad Pig.
Para mim, o artista do ano de 2014 só podia ser um – Noiserv.
Não lançou nenhum disco, mas lançou um DVD a comemorar os 10 anos e foi dos artistas que mais concertos deu em 2014. É impossível não admirar a postura de David “Noiserv” Santos, com a sua filosofia “Do it yourself” e sempre disponível para fazer mais e melhor.
Em relação ao projecto que mais evoluiu em 2014 – First Breath After Coma
Vi-os pela primeira vez em 2013, mas em 2014 tive a oportunidade de os ver umas quantas vezes, a última no dia 27 de Dezembro de 2014. A evolução é mais que notória, tornaram-se uma banda de divisão superior, a querer morder os calcanhares das grandes bandas de post-rock, criando um género próprio, cantado, com faixas mais curtas, mas nunca menos intensas. Recomendáveis a qualquer altura do ano e em qualquer palco.
Fotografia de Daniel Fernandes |
A Cena ao Vivo – Sensible Soccers
É claro que o 8 está em todos os tops e mais alguns! Para além de ter sido, efectivamente, um dos melhores álbuns de 2014, não é tanto em estúdio que me fascinam, mas ao vivo. A energia que criam enquanto tocam é inexplicável. São pessoas simples, que adoram o que fazem e cuja paixão pela música conseguem transbordar para quem os rodeia. Os sorrisos são contagiantes e o som é electrizante, fazendo o corpo mexer a seu belo prazer. Nota 10.
Banda que merece todo o meu respeito pela sua carreira – Primitive Reason
Foi em 2014 que conheci pessoalmente, e entrevistei, os Primitive Reason, mais propriamente o Abel e o Guillermo. Foi empatia à primeira vista e não só, um respeito que poucos conseguem impor tão naturalmente como respirar. Artistas no completo sentido da palavra, impressionaram-me pela simplicidade e pela solidez com que voltaram ao meio musical depois de alguns anos parados. 20 anos não são para toda a gente, mas isto ainda não é nada para aquilo que querem fazer.
Existem outros projectos que tenho de, obrigatoriamente, referir. Bella Mafia, Pernas de Alicate, Les Crazy Coconuts, Nice Weather For Ducks, The Allstar Project, Bússola, Moullinex, Dear Telephone, Tiago Sousa, João Lobo e Nome Comum. Foram artistas com os quais fui trabalhando ao longo do ano e que me deu um gosto enorme falar sobre eles. Refiro-os aqui porque espero em 2015 ter boas notícias de cada um deles! Vamos ver o que este ano nos trás.
Para terminar estes destaques, deixo só mais umas notas. Não gosto muito de bate-bocas pela web, mas estou cansada da desinformação, e respectiva propagação, que muitas vezes existe por aí. Quero, principalmente, congratular quem continua a lutar pela música portuguesa, independentemente do que as massas dizem. É impossível falar de 2014 sem referir, por exemplo, a Raquel Lains. Uma promotora exemplar no que toca à divulgação dos seus artistas e também na promoção que fez do Fusing. Outro destaque é, obviamente, o movimento Leiria Calling, que não se resigna e luta pela descentralização de atenções, com toda a qualidade leiriense saudável, a fervilhar, e a recomendar-se mais do que nunca. Também a ZigurArtists, netlabel, tem a minha admiração, seja pela postura, seja pela forma como também tratam os seus artistas. Gente jovem que também não se conforma.
É sempre complicado não ferir susceptibilidades, mas quando olho para 2014 são estas as coisas que me vêm à cabeça. Claro que trabalhei com mais pessoas, às quais agradeço de coração toda a atenção despendida, claro que espero vir a conhecê-las melhor e que tenho grandes esperanças e expectativas para 2015, mas é de 2014 que falamos e aqui ficam as minhas memórias mais sinceras.
No lado mais negativo, ficam algumas bandas que a certa altura poderiam estar no top, mas que passaram para as menções honrosas só porque realmente gostei do seu trabalho. É que quando estamos horas a trabalhar sobre certos artistas, seja em texto ou em fotografia, e depois nem um obrigada se recebe, bem, até à próxima! Venha 2015 e com ele muita coisa boa!