Opinião: A Voz (Shadowfell #3), de Juliet Marillier

A Voz (Shadowfell #3)

Juliet Marillier

Editora: Grupo Planeta

Sinopse: Há um ano, Neryn nada tinha a não ser um Dom Iluminado que mal compreendia e o sonho vago de que a mítica base rebelde de Shadowfell pudesse ser real. Agora, é a arma secreta dos Rebeldes e a sua grande esperança de fazerem vingar essa revolta secreta contra o rei Keldec, que terá lugar no dia do Solstício de Verão. O destino de Alban está nas suas mãos. No entanto, para se preparar para a batalha sangrenta que a espera mais adiante, Neryn terá de procurar primeiro o ensinamento de mais dois Guardiães. Entretanto, Flint, o homem por quem se apaixonou, está no limite das suas forças enquanto espião na corte do rei e acumulam-se as suspeitas da sua traição.

A confiança dissipa-se de dia para dia quando a notícia da existência de uma outra Voz chega aos ouvidos dos Rebeldes: uma Voz leal a Keldec, que possui todo o poder de Neryn e nenhuma da sua benevolência ou autoridade arduamente conquistada. Nas vésperas da insurreição, Neryn terá de descobrir uma forma de reconhecer – e explorar – a fragilidade do seu adversário. Em jogo, está a liberdade do povo de Alban, a possibilidade de os Boa Gente saírem dos esconderijos e a oportunidade de Flint e Neryn se unirem finalmente.

Opinião: Andava a guardar a leitura deste livro como quem guarda um tesouro proibido. Quem segue o blogue há algum tempo, ou qualquer pessoa que conheça minimamente os meus gostos literários, sabe que Juliet Marillier é das minhas autoras preferidas de sempre. Descobri-a através da Trilogia de Sevenwaters e foi de lá que o Bran, do nome do blogue, veio. De certa forma, a minha relação com os livros desta autora são como uma longa caminhada em que através de lições dolorosas, cheias de dor, sacrifício e abdicação, também percorremos um percurso de rejubilo, de crescimento e de cura. A Voz, último livro da série Shadowfell, traz-nos o tão aguardado desfecho no que ao destino de Alban, e com ele de Neryn e de Flint, diz respeito.

Já percorremos este trilho antes, o dos mitos antigos em que seres místicos habitavam cada recanto com a sua singular magia, os quatro elementos representados, numa série de lendas que convergem maioritariamente no mesmo sentido – a fuga desses seres pela incompreensão e repressão humanas. Alban é regido por um tirano, alguém que, com o tempo e com a pessoa errada do seu lado, se tornou maquiavélico, intolerante, obcecado por um sentido de lealdade desmesurado. A cada Encontro, evento anual do Solstício de Verão, a violência e os castigos escalam cada vez mais e o povo está a chegar a um ponto de ruptura. A lealdade passou a obediência cega por medo, cada passado e cada palavra dados são calculados infinitas vezes, mas já se começam a dar alguns fenómenos de que talvez as coisas estejam prestes a mudar.

Durante demasiado tempo Flint teve de desempenhar um papel que ao mesmo tempo o corroía por dentro. Neste último volume, o seu papel enquanto o homem mais leal ao rei é levado ao limite e as consequências são brutais. Enquanto isso, Neryn também arrisca a sua vida propondo-se a viver numa duplicidade em que um passo fora da linha pode condenar todos a um terrível destino. É na esperança, na fé e no amor, que também os une, que reside a força que os continua a fazer mover. É este o talento supremo de Juliet Marillier, tecer estórias que atravessam momentos tão brilhantes quanto tenebrosos, cheios de perda, mas também cheios de um ímpeto feroz, de constante superação. 

Ler Juliet Marillier, para mim, é uma espécie de acto de redenção, de uma certeza que sairei renovada ao fechar o livro. A candura das suas personagens, o utilizar uma sabedoria antiga para criar enredos inesquecíveis, faz com que eu tenha sempre este desejo de guardar os seus livros para alturas em que sinta mesmo o “chamamento” para pegar neles e foi por isso que decidi, com alguma nostalgia, terminar esta série neste momento – porque precisava. E a opinião de um último livro de uma trilogia acaba por ser sempre um balanço de toda a estória, sendo que da minha parte está mais do que recomendada. Um grande bem haja para esta grande escritora e para a sua capacidade em, depois de enfrentar valorosamente o cancro, criar o mundo maravilhoso de Shadowfell. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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