Fotografia Luís Macedo |
Ontem comemorei 27 anos! Por ser a 1 de Junho, escolhi duas pessoas muito especiais para fazerem a playlist da quinzena no antes e no depois. A primeira foi a da querida Raquel Lains, que terminou no último dia de Maio e agora até dia 15 temos a do Hugo Ferreira, uma pessoa que não só é muito especial como representa algo que muito respeito e admiro. Conheci o Hugo por causa da Omnichord Records e desde Janeiro de 2014, altura em que os Les Crazy Coconuts actuaram pela primeira vez, em acústico, num evento meu, que mantemos contacto. Quis o acaso que o meu envolvimento não só com a Omnichord Records como com a própria cidade de Leiria se tornasse algo muito próximo de uma segunda família. Como quem não quer a coisa vi-me a conhecer e a apreciar cada uma das bandas e a evolução das mais jovens tem sido uma delícia de acompanhar. Por trás está o Hugo Ferreira, incansável, lutador e de uma cultura musical invejável. Esta é uma daquelas playlists que guardamos e revisitamos vezes sem conta. Em mim guardo uma gratidão enorme por tudo o que o Hugo faz e pelas influências tão positivas. Por esta altura, de certeza que o BranMorrighan não era o mesmo sem ele e restante comitivia leiriense. Prova disso foi os The Allstar Project terem actuado no 6º Aniversário do blogue no Musicbox (eu só os venero, mais nada) e é também o dia de amanhã – mais uma noite de concertos no Musicbox com música 100% de origem leiriense. Uma grande honra sentir-me parte de todo este conjunto de pessoas maravilhosas. Quem quiser, é só aparecer no Musicbox a partir das 21h30. Temos Surma (Débora Umbelino, ex-Backwater and the Screaming Fantasy), Twin Transistors e os maravilhosos Les Crazy Coconuts! É dançar até mais não! Obrigada, Hugo, pela tua amizade, carinho e apoio tão importantes!
Quando a Sofia Teixeira, do Blog BranMorrighan me desafiou a fazer uma playlist a única ideia que tive foi ir buscar algumas músicas que, de certa forma, me marcaram e me levaram a querer fazer e ir a cada vez mais concertos e, depois, a lançar discos. Sem pegar nas datas FADE IN e nos lançamentos Omnichord Records ( que foram e são tantas coisas boas e me dizem muito mas podiam soar a promoção/publicidade), preferi ir vasculhar o passado. No dia do 27º aniversário da autora do Blogue, aqui fica uma lista de vinte e sete momentos. Amanhã alguns iam ser diferentes, mas… uma playlist é mesmo isto.
1. Beach Boys – God Only Knows
O primeiro vinil que me lembro de ter pedido aos meus pais e que realmente rodei até à exaustão era uma colectânea dos Beach Boys. Trauteava todos os temas do alinhamento, mas o “God Only Knows” foi seguramente o que me mais me marcou e ainda hoje continuo a ouvi-la como uma das mais bonitas canções alguma vez feitas.
2. Bjork – Violently Happy (MTV Unplugged)
Uma cassete gravada com o concerto que a Antena 3 tinha transmitido rodou até não poder ter mais remendos na fita. O disco de estreia da Björk tinha sido uma pequena revolução mas a forma com foi adaptado para o unplugged da MTV superava qualquer expectativa.
3. Nick Cave & The Bad Seeds – Loverman
Na adolescência, não era devoção, era doença. Acho que o primeiro e-mail que criei foi para poder fazer parte da mailing list Loverman, dedicada a todas as notícias e coscuvilhices sobre o Nick Cave. Os concertos de 1994 em Lisboa e Porto em que se apresentou o disco “Let Love In” foram absolutamente incríveis. Desde os Birthday Party à fase mais baladeira de “Boatman’s Call”, Cave tem sido um nome incontornável na música que ouvi e oiço.
4. The Young Gods – Kissing The Sun
Numa fase em que mundo e meio vibrava com o grunge, eu não entrei facilmente no movimento (ainda que me tenha arrependido profundamente de ter vendido o bilhete que tinha para ver os Nirvana em Cascais – mas na altura doze contos era uma proposta irrecusável). Em vez do grunge, no que toca a descargas intensas refugiava-me frequentemente no Cave e nos Young Gods.
5. Sonic Youth -Bull in the Heather & 6. Velvet Underground – Venus In Furs
Em tempos lembro-me de alguém dizer que o pop-rock moderno assentava muito em duas escolas, a dos Velvet Underground e a dos Sonic Youth. Não sei se é verdade ou não, mas para mim faz sentido na modalidade de assistir frequentemente às aulas das duas.
7. Tindersticks – City Sickness
Os três primeiros discos dos Tindersticks são autênticas obras-primas. Não sei se depois eles perderam o fulgor ou se eu me tornei mais casmurro mas o resto da carreira, ainda que tenha momentos muito interessantes, não consegue ombrear com uma trilogia de luxo que rodou e continua ainda hoje a rodar muito por casa e pelo carro.
8. Morphine – Honey White
Quando entrei para Coimbra a primeira banda que não conhecia e pela qual me apaixonei foram os Morphine. Um trio sem guitarras a fazer rock.. Era bom de mais para ser verdade. Para além da admiração ficou a memória de dois dias passados a acompanhar o gentil Mark Sandman, aquando da sua última passagem por Portugal. Mais tarde Dana e Billy ainda voltaram como Twineman, mas a discografia de Morphine e as suas prestações ao vivo foram marcos incríveis na história do rock.
9. Tricky – Black Steel
Chegamos à fase Massive Attack, Tricky, Portishead, Morcheeba e Lamb e ao trip-hop que nos assaltou nos anos noventa bem medidos e nos ofereceu horas de contemplação sem fim. Mas entre os vários nomes referidos (todos com alguns discos brilhantes) o irrequieto Tricky sempre levou a melhor na minha balança emocional. Tive um dos melhores momentos de sempre no Coliseu de Lisboa aquando da apresentação de Maxinquaye em 1997.
10. Jay Jay Johanson – It Huts Me so
Ainda na ressaca do trip-hop e numa atmosfera de crooner à lá Sinatra ou Scott Walker, o menino sueco que apenas fez um trabalho de final de curso e passou a ser levado ao colo (e bem) por muita imprensa especializada e acabou por abrilhantar a inauguração da primeira FNAC em Portugal. Gostava tanto daquele disco de estreia que acabei por lhe roubar o nome para nickname no mIRC (onde o canal #xfm se tornara num local de discussão e de descoberta, mais tarde exportado para o Forum Sons).
11. Beck – New Polution
O Beck foi, durante muito tempo, um dos autores que mais acompanhei quase com um fervor religioso. Coleccionava tudo o que lançava, acumulava concertos, descobria tradição e novas tendências, tudo ao mesmo tempo e sempre com um extreme bom gosto.
12. dEUS – Feel Off The Floor, Man
Eu já tinha ficado abalado com o “Worst Case Scenario” mas o “In a Bar Under The Sea” foi um dos discos que mais ouvi e com os quais mais me identifiquei. O concerto de apresentação na Aula Magna foi absolutamente mágico e nem o constante ir abaixo do PA impediu que tocassem este tema emblemático (numa quarta tentativa).
13. Pulp – This Is Hardcore
Demorei a pegar em Pulp e creio que comecei a ouvir só depois das fixações que tinha por Smiths, Stone Roses, Blur, Suede ou Divine Comedy. Mais precisamente, quando os vi no Imperial ao Vivo. Depressa suplantaram as referências anteriores na minha lista de preferências. Os Pulp elevaram o nível da Brit pop a um patamar incrível.
14. Radiohead – Idioteque
Crescer no meio alternativo dos anos noventa significa, quase sempre, ter um carinho muito especial pelos Radiohead e pela sua capacidade de reinvenção (sobretudo na triologia “Ok Computer”, “Kid A” e “Amnesiac”). O caminho entre o concerto quase secreto de antecipação no Paradise Garage e a febre dos Coliseus foi marcante.
15. Serge Gainsbourg – Bonnie & Clyde
SG Gigante. Começou na chanson, passou pelo jazz, pelo pop orquestral, pelo rock, pelo reggae e acabou no disco sound. Com uma carreira tão peculiar quanto genial, Serge Gainsbourg, na minha humilde opinião, gravou e compôs algumas das mais belas canções de expressão francesa do século passado.
16. Tom Waits – Way Down In The Hole
Se em vez do francês escolhermos o inglês o meu herói de serviço chama-se Tom Waits. Por todas as razões e mais algumas, mas sobretudo pela música. E pelos concertos. Nunca paguei tanto para assistir a ninguém ao vivo e tive que embarcar para Berlin e Dublin, mas provavelmente foram os seis melhores concertos a que assisti.
17. Chico Buarque – Construção
Se formos para a língua portuguesa há sempre um Chico (na versão português do Brasil) que escreve como muito pouca gente, criando letras absolutamente imbatíveis e, não raras vezes juntando música e/ou orquestrações irrepreensíveis. O resultado é um banho de bola ara tanto cantautor que está entusiasmado a tentar criar canções.
18. Sigur Rós – Staráflur
Os Sigur Rós apareceram que nem um furacão. Depois de conhecermos o “Von” (e o de remisturas) e sabendo que iam lançar um disco novo marcámos pela RUC um concerto para o Teatro Académico de Gil Vicente. Marcámos a data, definimos o cachet, tudo ok a um ano de distância. Depois assina-se contrato, dizíamos… Entretanto o disco cresceu depressa demais e da editora independente Fatcat passaram para a multinacional PIAS que olhou para o calendário e disse “Coimbra quê? Se vão a Portugal, têm que ir a Lisboa!”. A data estava marcada mas acabou por ser no CCB e, como “vingança”, colocámos os TRANS AM nessa mesma altura, no Jardim da Associação Académica de Coimbra. Foi um festão mas estive vários anos sem conseguir ouvir Sigur Rós. Mais tarde, quando fui à Islândia, encontrei o Jonsi num bar (lá é normal encontrar-se toda a gente) e, depois de desabafar ele pagou uma rodada e apresentou-me um grupo de amigos em que estavam Sin Fang, Borko ou Olafur. Ainda bem que era Julho e a noite não chegou cedo. Pazes feitas e quando voltaram a Portugal, estava lá.
19. Mr Bungle – Ars Moriendi
Mike Patton, outro herói. Correu quase todas as linguagens musicais sempre com uma criatividade e exuberância ímpares. Faith No More, Mr Bungle, Fantômas, Tomahawk, Peeping Tom, Mondo Cane, mil e uma colaborações com nomes que vão de John Zorn a Bjork ou Dan The Automator e a criação da sua própria editora fazem de Patton um dos maiores. E ainda tem tempo para dar voz a filmes e tratar de mais uma série de aventuras. Mr. Bungle ao vivo ocupa, a par dos Arcade Fire e dos Flaming Lips, o meu pódio de Paredes de Coura.
20. The Walkmen – The Rat
Um dos meus críticos musicais de eleição e referência foi Miguel Esteves Cardoso e, depois das aventuras na Kapa e no Independente faz um retiro e volta, passado uns bons anos, a escrever para o Blitz. A primeira crónica, salvo erro, era de uma página e inteiramente dedicada a um único tema que ele julgava perfeito e explicava porquê. Subscrevi por inteiro. Deixo a vénia a este “The Rat”.
21. Gonzales – Supervillan Music
Gonzales é um dos tipos com mais piada do mundo da música. Exímio pianista clássico, apaixonado pelo hip hop, produtor de nomes como Daft Punk, Gonzales é magia e ironia num mercado que parece tantas vezes cinzento. Ele bateu o record do Guinness de duração de concerto de piano, ele protagonizou alguns dos momentos mais caricatos nas batalhas de piano do canal televisivo arte e há pouco tempo resolveu cruzar os dois universos (aparentemente antagónicos) num disco em que faz rap acompanhado por uma orquestra. Já por cá passou três vezes (entre Lisboa e o Fundão). Temos saudades.
22. Mão Morta – A poesia
Foram a banda nacional que mais me marcou pela postura e pela música. Se a carreira tinha seguido um caminho relativamente linear até “Vénus em Chamas”. Creio que a partir daí os Mão Morta se reinventaram e iniciaram uma nova fase que lhes permitiu fazer vários desvios temáticos extremamente bem conseguidos dos quais se destacam os concertos de homenagem a Heiner Müller e ao Conde de Lautréamont. Neste último há “Poesia”.
23. Belle Chase Hotel – Nimaroi
Os Belle Chase Hotel foram o minha primeira grande paixão consumada, a primeira que eu adorava e com que privava e que me possibilitou andar na estrada por várias datas, assistir a ensaios, reuniões, gravações de temas e de vídeos, conhecer Joe Gore, (o guitarrista de Tom Waits que veio produzir o segundo disco). Esta “super banda” criou alguns dos temas que mais me entusiasmaram. Músicos absolutamente incríveis. Escolher um tema é complicado mas, assim de repente, quando a propósito de Nimarói do Mia Couto e sobre esse homem que nadou com todas as forças até chegar à ilha das mulheres o JP se sai, naquela melodia lindíssima, com um… “I’m the cleaning lady of the broken hearts. I’m the Virgin Mary of the psychopaths. I’m god’s only witness that they fall apart When they touch the fire of the ancient stars”.
24. Danae – Meu Mar
Era uma festa de despedida para Erasmus e na cozinha estava, sozinha, uma menina e moça cabo-verdiana a tocar e cantar algumas músicas que me conquistaram de imediato. Fiquei ali uns dez minutos até que chegou alguém e acabei por meter conversa e saber que os temas (letra e música) eram seus. Desafiei-a, logo ali, a ir à Rádio Universidade gravar uma maquete. Depois foi só convencer o Pedro Renato (dos Belle Chase Hotel) a tratar dos arranjos, produção e encontrar banda de suporte (com outros elementos dos Belle Chase). Foi a primeira vez que senti que estava a ajudar a juntar as pessoas que mais gostava para fazer um disco. Saiu pela Nortesul e, inexplicavelmente, não conseguiu chegar como devia ao grande público mas está cheio de momentos absolutamente deliciosos.
25. Sean Riley & The Slowriders – Harry Rivers
Outro concerto de aniversário da RUC que pretendia juntar durante uma semana um músico sueco (Ernesto, que tinha acabado de lançar um disco interessante que cruzava o blues e a electrónica) com Pedro Renato (outra vez o suspeito do costume) e fazerem um espectáculo único e irrepetível. Quando o fui buscar ao Aeroporto ele trazia apenas a sua mochila e confessou que não tocava nada mas tinha trazido um cd para fazer playback. Vi a vida a andar para trás e já estava metade da lotação do Teatro vendido. Pedi a outros músicos de Coimbra para se juntarem (entre os quais Filipe Costa e Bruno Simões) E estes últimos – colegas de programa de rádio e amigos do Afonso Rodrigues – aceitaram também o desafio para para darem corpo a alguns temas maravilhosos que o Afonso andava a gravar quase às escondidas e fazerem uma primeira parte surpresa. Nessa primeira apresentação de apenas quatro temas de Sean Riley ( preparada apenas nessa semana ) senti que estávamos perante um caso sério de composição e interpretação. Continua a ser até hoje uma das minhas formações favoritas no panorama nacional.
26. The Allstar Project – Por Mais Alguns Euros (Tribute to Ennio Morricone and Sergio Leone)
Na génese da fundação da Omnichord está uma banda de Leiria que influenciou decisivamente toda uma geração de novos músicos e que vai, no próximo ano, comemorar quinze anos de carreira. Lançaram discos seminais e proporcionaram alguns dos melhores concertos a que assisti, onde o som e a imagem se cruzam com uma intensidade avassaladora. No seio do pós-rock, os The Allstar Project têm tudo para ser uma referência mundial. Curiosamente, ainda nunca lançaram qualquer disco desde que a editora começou. Para o ano deve haver finalmente novidades e, como recordação, aqui fica uma abordagem revisitada que fizeram de uma homenagem a Ennio Morricone e Sergio Leone (originalmente incluída no seu primeiro Ep “Berlengas Connection”).
27. Sufjan Stevens – Should Have Known Better
Para o final, um tema do disco que vai, garantidamente, ser um dos meus favoritos de 2015. Outro nome que teimei em começar a gostar e que achava sobrevalorizado e tal… ainda estou boquiaberto com o regresso de Sufjan Stevens.