Fotografia Teresa Perdigão |
Já estava na altura do Duarte partilhar connosco as suas preferências musicais. O seu disco, a house in iceland, foi para mim um dos discos do ano e vai ser também convidado de honra no 7º Aniversário do blogue que se irá realizar precisamente dia 15 de Janeiro no Musicbox Lisboa! Ele e a sua Teresa são das pessoas mais simpáticas e queridas que conheci em 2015 e é para mim um orgulho enorme poder fazer um bocadinho parte da sua história enquanto músico. Apareçam dia 15, tenho a certeza que vai ser um concerto lindíssimo! Obrigada Duarte, pelas tuas escolhas. Estão a saber mesmo bem neste primeiro de Janeiro tão cinzento! Para seguirem o Duarte e toda a sua actividade artística já sabem, o clássico like na página de Facebook: https://www.facebook.com/mahoganysounds/ Como eu gosto mesmo muito do disco dele, deixo-vos também o link para tudo sobre o mesmo aqui: http://www.branmorrighan.com/search/label/Mahogany
Fool – Cat Power
Talvez um pouco carregada para começar a lista, mas aqui vai. Quando morremos não levamos nada connosco – os faraós estavam errados – e Cat Power lembra-nos deste facto de uma maneira ominosamente bela. Não sou grande fã das músicas mais orquestradas de Cat Power, mas fico rendido com aquelas em que se fecharmos os olhos somos transportados para um bar meio vazio, com fumo de cigarro no ar em que ela ocupa sozinha o palco com uns quantos copos de whiskey no sangue. Entre estas, Fool é rainha.
Will Is My Friend – Devendra Banhart
O que pode parecer fruto de uma bebedeira ou moca a altas horas da noite numa casa com músicos e equipamento de gravação, é uma das melhores faixas de Rejoicing in the Hands (2004). Na verdade, pelo meio de versos que parecem divagações aleatórias de alguém intoxicado, encontram-se prazeres simples e poéticos, como o sorriso de um limeiro, o som da brisa, e a certeza de que Will canta como John a caminho da Califórnia. Curiosamente, se ouvirem isto com o humor certo, tudo acaba por fazer sentido.
Cuba 1970 – Dead Combo
Acho que basta dizer que esta música tem uma pinta dos diabos. Quando comecei a ouvir Dead Combo foi, por feliz coincidência, a altura em que as palavras me escasseavam e os instrumentais fluíam com maior facilidade. Este álbum só saiu uns anos mais tarde, mas, como disse no início, esta música tem uma pinta dos diabos.
Você Diz Que O Amor Não Dói – Marcelo D2
“Cê já amou como se não houvesse amanhã, aquele amor que quando bate ‘cê perde o medo da morte?” Esta abertura diz tudo, parece-me (e aquele xilofone…).
Just Like You – Chromatics
Descobri esta música a ouvir a Radar, numa noite em que, por mais voltas que desse, não havia maneira de encontrar um lugar para o carro. Acabei por estacionar graças a uma pessoa daquelas que, por razões incompreensíveis, decidem sair de casa à uma da manhã num dia de semana. Apesar das horas e de estar estacionado, fiquei a ouvir a música até ao fim. O que posso dizer é que há algo de mágico em ouvir esta música a ver as gentes da noite da Praça do Chile. É como se estivesse no filme Taxi Driver.
Silence – Matisyahu
Esta música de Matisyahu dá para qualquer altura, qualquer humor. Em tempos em que a confusão tremenda entre política, religião, terrorismo e valores morais resulta num daqueles daqueles batidos todos trendy com péssimo aspecto, Silence é um copo de água – limpo, um regresso ao básico. Talvez não tenha nada para quem rejeita qualquer noção espiritual/religiosa ou pertença à cientologia (não sei, teria de confirmar), mas a composição é de uma sensibilidade fenomenal e a letra de uma humildade tremenda. “Crush my fantasies of how this life is supposed to be” e “Your silence kills me; I wouldn’t have it any other way”.
One More – Elliphant feat. MØ
Este é um excelente exemplo de um vídeo que amplia a música que ilustra. Elliphant dá voz a uma geração sem rumo com a ajuda de MØ, cujo LP No Mythologies to Follow dá a entender que partilha a mesma opinião. O giro é que em vez de se queixarem, tanto Elliphant como Mo abraçam esse fatalismo da decadência e do consumismo (quase sinónimos) e encontram conforto naquele espaço entre a moca e a ressaca.
Hereditário – Sam the Kid
Há algo de bastante especial em Sam the Kid e, na minha opinião, Hereditário é um exemplo perfeito disso. Não há “bling bling” nem “Pimp my Ride” nem “MTV Cribs”, Sam é Sam e é isso que está patente em todos os álbuns que lançou, tenham sido gravados no quarto mágico em Chelas ou num estúdio. É rap honesto, Sam de casa para a rua para os ouvidos de quem os tenha atentos. Apesar dos pontapés na gramática, que o próprio admite dar (sem preocupação maior), guarda uma cultura e uma sensibilidade invejáveis que o tornam capaz de criar gemas na forma de beats com samples de José Cid. Sam the Man!
Sr. Presidente – Dillaz
Incluo Dillaz em jeito de menção honrosa. Longe vão os tempos em que rap e Hip-Hop eram coisa de morador do gueto lisboeta ou da Invicta. Há mais bairros por esse Portugal fora e muita mais malta com a queda para a rima. Dillaz é um exemplo, um bom exemplo. Por norma inclina-se para os beats mais melancólicos (ao jeito de 8 Mile), mas quando muda o registo consegue descatar-se com grande estilo. Sr. Presidente é um tal momento desses, em que evita cair na facilidade de despejar ofensas corriqueiras, optando por apresentar argumentos.
Wishing It Was You – K.Flay
Há desgostos amorosos e há desgostos amorosos. A primeira versão é Adele, que reflecte sobre os erros de uma parte e de outra, embora a existência de três álbuns sobre o assunto nos possa levar a imaginar que alguma coisa está a fazer de errado; a segunda é K. Flay, que só faz asneiras, bebe whiskey da garrafa, e acaba numa “friend zone” com benefícios, quando já não há paixão nem amor só aquela obsessão frustrante. É depressão com ginga.
The Cops – K.Flay
Ainda no tema de amor de cão, K.Flay leva-nos até ao lugar comum que todos conhecemos (quem diz que não ou está a mentir ou não viveu o suficiente). A verdade é que toda a gente já passou pela situação de The Cops, em que do outro lado existe uma pessoa que não tem pudor em aproveitar-se da paixoneta alheia para aliviar a carga sexual. “You’re making my will weak, you fuck with my head; Say you wanted me but you never wanted me, you wanted my hunger instead”. Por esta altura estou a passar a imagem de um tipo com queda para a depressão, ou então passo a pinta de sádico. Fica no ar…
Animals – Mountain man
Nascido e criado em Lisboa, tenho uma necessidade imensa de campo. À falta de um monte alentejano ou de uma casa perdida nos montes do Alto Minho ou do Alto Douro, é a músicas como esta que recorro. Basta fechar os olhos e sinto o bom frio do Inverno, aquele ar leve sem o peso do monóxido de carbono e nada nem ninguém à volta. As Mountain Man acabam por ser uma espécie de vozes do bosque.
Lippy Kids – Elbow
Tudo o que me encanta nos Elbow está presente em Lippy Kids: o aconchego das composições, o sotaque honesto, a poesia genuína, o arranque imediatamente contido e o romantismo incurável de um idealismo quase melancólico. Esta receita funciona surpreendentemente bem em qualquer altura do ano, seja com manhãs de Primavera, sonhos de Verão, tardes de Outono ou com o espírito do Natal.
Strangers – The Kinks
Do tempo em que as plateias dos concertos se acendiam com isqueiros em vez de luzes eléctricas de telemóvel, Strangers é, para mim, o prenúncio do fim do movimento hippie, talvez sem o saber. A letra aponta para um fim de um caminho e a necessidade de escolha de outro que é ainda uma incógnita e sem qualquer guia (pelo que a nota inicial dos isqueiros e dos telemóveis até se adequa). Podia dissecar aqui a letra de uma ponta à outra, mas basta deixar o belíssimo verso “if I live too long I’m afraid I’ll die”.
Cicadas And Gulls – Feist
Feist canta e, de repente, tudo está bem. Cicadas and Gulls, tanto quanto percebo, é sobre Leslie Feist a nu com a sua cara metade, e eu imagino a lareira acesa numa casa de campo, mas isso já sou eu. O que me faz escolher Cicadas and Gulls não é tanto o assunto, ou a elegência com que expõe uma relação sexual, mas o jogo de vozes. Feist tem letras mágicas, faz arranjos e composições instrumentais raramente previsíveis, mas é a voz (que desconfio ser na verdade um instrumento de sopro feito de madeira) que me deixa rendido e me alimenta esta paixão platónica.
Águas de Março – Tom Jobim
Na minha opinião, a melhor versão é a que Tom Jobim canta sozinho (embora Elis Regina não faça má figura). Para dificultar as coisas, há versões ao pontapé desta música e não faço ideia a que álbum pertence a minha predilecta. Para, quem como eu, nunca foi às terras do Corcuvado, a bossa de Jobim é o Brasil, num português que canta sozinho, malandro e intelectual.