Opinião: A Miúda da Banda, de Kim Gordon (Sonic Youth)

A Miúda da Banda

Kim Gordon (Sonic Youth)

Editora: Bertrand

Sinopse: Kim Gordon, membro fundador dos Sonic Youth, símbolo feminino de uma geração, conta-nos a sua história – uma memória de vida focada na música, no casamento, na maternidade, na independência e, naturalmente, na sua condição de pioneira entre as mulheres do rock. Uma narrativa marcada pela beleza e pela sensibilidade visceral.

Considerada por muitos reservada, em A Miúda da Banda apresenta-se de forma inédita. Conta-nos a sua história de família, a infância e juventude na Califórnia dos anos 60 e 70, o percurso nas artes visuais, a mudança para Nova Iorque, os homens da sua vida, o casamento, a sua relação com a filha, a música, a banda.

Gordon faz-nos regressar à Nova Iorque perdida, dos anos 80 e 90, de onde brotaram os Sonic Youth e a revolução alternativa na música popular. Um tempo em que a banda ajudou a edificar um novo léxico musical – que abriu caminho aos Nirvana, Hole, Smashing Pumpkins e muitos outros grupos.

Uma crónica emotiva e contemporânea particularmente rica em imagens e sons de um mundo em mudança e de uma vida transformadora, A Miúda da Banda é a história fascinante de um percurso notável e de uma artista extraordinária.

Opinião: Mal acabei de ler este livro, há umas semanas atrás, não resisti em escrever automaticamente um Diário de Bordo em que realçava o quanto esta leitura tinha sido qualquer coisa. Uma coisa é quando conhecemos os artistas de nome e os vemos em fotografias e vídeos ou até espectáculos, outra coisa é quando mergulhamos nas suas vidas e encontramos histórias que nos tocam e comovem, mas também nos inspiram. O discurso de Kim Gordon é simples, directo, pragmático, mas também espelha a sensibilidade que a artista diz sempre ter tido, aproximando-a do leitor e tornando-a real, desmistificando aquele pedestal em que tantas vezes colocamos quem admiramos. 

O livro está dividido em pequenos capítulos, todos eles ilustrados de alguma maneira por um registo fotográfico relacionado com Kim Gordon, e não seguem propriamente uma estrutura temporal linear. Na verdade, os pequenos saltos que se vão dando de vez em quando ajudam a compreendermos melhor as suas emoções. Vinda de uma família em que na sua infância pouco ou nada à vontade se sentia para se expressar, com um irmão que, veio mais tarde a constatar, desenvolvia uma doença mental, ter alcançado o que alcançou é admirável. 

Penso, mesmo tendo gostado tanto, que este não será um livro consensual. Existe muito com que nos podemos identificar com Kim, principalmente as mulheres que atravessaram uma adolescência atribulada seja por alguma espécie de repressão familiar ou crise de identidade, mas também é verdade que ter ultrapassado todos esses eventos da sua vida a tornou mais forte, mais dura, e com perspectivas e opiniões que poderão levantar uma ou outra questão. Acima de tudo acho que é uma escrita sincera, pessoal, e que mostra como foi para Kim passar de uma rapariga insegura a uma mulher que ousou assumir o protagonismo em palco e fora dele. 

Enquanto fã de Sonic Youth, gostei particularmente dos capítulos dedicados a certas músicas de alguns dos discos. Saber como surgiram, as circunstâncias, o que despoletou a que ganhassem vida e como ganharam vida fez-me recuar umas boas décadas e voltar a ouvir em loop alguns dos temas. Existe sempre este aspecto curioso quando nos predispomos a ler sobre a vida de alguém que procura esta intimidade com quem está a partilhar as suas experiências. Feminista assumida, Kim Gordon publicou assim um livro autobiográfico que nos mostra muito da mulher que é por trás da cara que representa parte dos Sonic Youth, revelando todas as suas outras facetas artística mais desconhecidas pelo público. Uma leitura que não me admiro nada se repetir daqui a uns anos. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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