O Grito do Corvo – Crónicas da Terra e do Mar – Livro III
Sandra Carvalho
Editora: Editorial Presença
Sinopse: Os piratas do Rouxinol veem-se cada vez mais longe de saquear o ouro da galé castelhana Niña del Mar devido aos estragos causados pela violenta tempestade que se abateu sobre o barinel. A descoberta da identidade de Leonor faz com que Corvo queira regressar de imediato aos Açores, para entregá -la à guarda do pai. Porém, a tripulação discorda e o caos instala-se a bordo. O que Leonor mais deseja é lutar ao lado dos companheiros e recuperar a confiança de Corvo. No entanto, Tomás Rebelo continua a precisar dela para alcançar o propósito funesto que o levou a assenhorear-se de Águas Santas. Conseguirá Leonor chegar incólume à misteriosa ilha das Flores, conhecer o Açor e abraçar a irmã, ou acabará abandonada por Corvo, à mercê dos caprichos do abominável Tomás Rebelo?
OPINIÃO: Esta é uma série muito especial para mim. Podem não acreditar, mas pensava até que já tinha publicado a opinião deste livro. Afinal li-o antes do lançamento, não tivesse tido eu a honra de ser a apresentadora convidada do fecho da trilogia, naquele belo dia da Feira do Livro de Lisboa. Porém, ainda bem que ainda não tinha publicado, pois hoje deu-me uma certa nostalgia (a distância tem destas coisas) e deu-me vontade de rever o meu percurso nas Crónicas da Terra e do Mar, da nossa encantadora Sandra Carvalho. Quem esteve presente na FLL naquele dia, sabe que houve momentos muito especiais, muito emotivos, em que os corações se abriram e partilham tanto alegrias como tristezas. Neste momento, é com um grande sorriso nos lábios que me recordo desses momentos e me consciencializo do quão sortudo somos por termos a Sandra como escritora portuguesa.
É de senso comum que ler um livro escrito por um português tem sempre um impacto muito diferente de ler um livro traduzido para português. Perde-se parte da personalidade do autor nas traduções (sem tirar mérito algum aos excelentes tradutores que temos, mas as idiossincrasias de cada língua nem sempre são traduzíveis literalmente, e acho que aqui ganhamos muitos pontos por podermos usufruir da escrita de alguém que utiliza a sua língua materna com um carinho e um romantismo ímpares. A escrita da Sandra é bonita e encantadora, não estou a dar novidade nenhuma, eu sei, mas sinto que a ligação que criamos com os seus protagonistas advém de um talento muito característico que, a ser traduzido, provavelmente também perderá o seu quê de mágico.
Depois de O Olhar do Açor e de Filhos do Vento e do Mar, O Grito do Corvo vem fechar um capítulo, mas também vem abrir a imaginação do leitor para novos universos. O percurso de Leonor e Corvo é tudo menos linear, o fio que os une tanto parece inquebrável como cheia de nós que impossibilitam a harmonia de fluir livremente. Com os seus passados a perseguirem-nos, os pontos em que se cruzam tornam-nos mais fortes. Sandra Carvalho criou inúmeros protagonistas e todos eles tiveram o seu tempo e espaço para brilhar. Findo este capítulo, foi bom testemunhar que a autora continua com a sua visão romântica e firme, por muito difíceis que sejam os obstáculos pelo meio. Existe sempre uma vertigem de incerteza, mas de alguma maneira vamo-nos apaziguando com o que possa estar para chegar. Foi maravilhoso navegar estes mares, redescobrir os Açores e apaixonar-me por cada pormenor. Estou muito curiosa com o que está para vir, pois o fim deixa-nos de olhos esbugalhados com um tremendo “E AGORA?! Isto não se faz!”. Resumindo, leiam, leiam muito a nossa Sandra, o vosso coração vai ficar sempre mais quentinho depois disso.