Acordei às 10 da manhã ainda todo rebentado da garganta, estava completamente afónico, mal conseguia proferir uma palavra. Aos poucos todos se levantaram e, entretanto, descobrimos que o Cirrose não tinha ido trabalhar, decidiu tirar folga e queria aproveitar para me levar ao médico para ver o que afinal tinha. Não podia continuar a tour se não conseguisse cantar e por isso tínhamos de resolver o problema o mais cedo possível. Já tinha cancelado o concerto do dia anterior na perspectiva de melhorar no dia seguinte e não podíamos dar seguimento a essa maré de azar.
A boa notícia é que não era nada de grave, um vírus que apanhei por algum motivo e que dentro de uns dias já ficaria melhor. A má notícia é que muito provavelmente contagiei toda a malta que está na tour comigo. Bela merda.
O truque é descansar, segundo a médica, dormir o máximo de horas possível, sem falar muito, sem fumar, sem beber álcool. Que treta. Fui à Holanda e não pude fumar um “joint” e fui à Bélgica e não bebi uma cerveja que fosse… Que mal aproveitado. O que vale é que na Polónia a Vodka é barata e até lá já devo estar bom. Ainda por cima a Vodka que eles lá têm é de “matar bicho”.
O resto do dia foi mais relaxado, ficamos a trocar impressões sobre música e festivais com o Cirrose, a mostrar alguma música que conhecíamos e ele a nós. Ainda tivemos uma sessão de Netflix e depois fomos todos dormir.
Toca a ir para a Germânia. Tudo a pé de manhã cedinho. Nem 8 da manhã eram e já estávamos a caminho de Chemnitz, terra que teve o nome de Karl Marx Stadt durante a divisão da Alemanha pós-segunda guerra mundial, a poucos quilómetros da cidade de Leipzig. Eu estava a sentir-me melhor, mas sabia que ainda não estava a 100% para o concerto da noite. Tivemos que fazer algumas alterações à setlist de modo a tirar todas as músicas que estou a esforçar demasiado a voz. E mesmo assim vi-me grego para cantar direito. A voz falhava-me como se de um puto de 13 anos com a voz em transformação se tratasse.
Foi uma noite muito porreira. Para além do dono do bar ser um gajo mesmo simpático e muitas canecas de cerveja alemã nos serviu (das quais eu não bebi devido à medicação), a casa estava cheia, um calor de morte, e alguns portugueses a ver o concerto. Os Whales puseram o pessoal a abanar o capacete, fizeram o aquecimento e depois quando tocámos, já estavam uns alemães em tronco nu a rebolar no chão de entusiasmo. Foi o que valeu, porque eu não consegui cantar em muitos dos momentos, mas ao menos o pessoal estava a fazer festa na mesma. Ainda me vieram chamar Dave Grohl no final do concerto, que é sempre um bom elogio.
O Simões entretanto, começou a demonstrar sinais de estar a ceder ao vírus que eu espalhei por toda a gente. Fui levá-lo à cama e ele espetou um brufen na goela e foi dormir. Vamos lá ver se amanhã não acorda toda a gente doente.
Jimmy (Pedro Feio)