Disclaimer: Esta reportagem foi escrita de madrugada para ser entregue à SAPO MAG. Perdoem-me alguma falta de coerência, mas o deslumbramento era tanto como o cansaço. Melhor concerto! Obrigada SAPO MAG pela oportunidade.
Esta reportagem não pode começar de outra maneira a não ser a dizer que os Arcade Fire deram um concerto absolutamente incrível. Com um Campo Pequeno esgotadíssimo, era palpável no ar a ansiedade que se fazia sentir para receber a banda canadiana.
Já com uma mão cheia de discos no reportório, “Infinite Content” é o nome da tour que tem como mote “Everything Now”, o último disco, uma digressão que ficará certamente marcada pela sua grandiosidade e produção notáveis.
Desde o início do concerto que todos os pormenores se revelaram preciosos e cheios de significado. O cenário montado é diferente do tradicional, uma espécie de arena quadrada no meio da sala do Campo Pequeno, incluindo as redes de uma arena de luta. No entanto, a única luta que houve dentro daquele quadrado foi em forma de dança, de expressividade e de explosão de emoções.
O palco continha ecrãs superiores que tanto transmitiam em direto vários pontos do palco, como transmitiam um misto de manipulação e sobreposição de planos ou até de outros materiais gráficos da banda, como vídeos dos singles.
Ao vivo, os Arcade Fire são um exemplo de competência feliz. Cada elemento é multifacetado, rodando nos inúmeros instrumentos que entram e saem de palco, e as vozes de Win Butler e de Régine Chassagne nunca nos deixam ficar mal. A energia com que percorrem o palco e se entregam a cada canção é invejável. Tudo isto aliado à produção de luz e vídeo com que se apresentaram, fez com que o concerto tomasse contornos e dimensão soberbos.
“Everything Now”, tema homónimo ao mais recente disco, abriu as hostes e a euforia instalou-se. O ambiente foi electrizante e os próprios elementos da banda não se fizeram rogados em trepar postes de apoio ou aproximarem-se do público. E voltando aos pormenores, neste tema, por exemplo, os ecrãs passavam a mensagem “TUDO AGORA”. Muitas das letras de Arcade Fire incentivam ou provocam, e essa comoção e empatia com os seus fãs notou-se principalmente pelo respeito e manifestação entusiasta que foi constante ao longo do concerto.
Mesmo quando Régine ou Butler percorriam o público vindos de um pequeno palco lateral, tudo aconteceu de forma perfeitamente fluída e sem atropelamentos ou confusões. Mas não se enganem, isto não quer dizer que o público estivesse calmo ou apático. Houve alturas em que as paredes do Campo Pequeno devem ter estremecido com a força dos cânticos dos fãs que se fizeram ouvir fortemente.
Há um sério caso de amor entre o público português e os Arcade Fire. Na bancada não havia ninguém sentado durante o concerto todo e até nas canções mais recentes a plateia se fazia ouvir. O encore viria a ser obrigatório com Butler num inicialmente calmo “We Don’t Deserve Love”. Foi um momento bonito do espectáculo, que contrastou com a intensidade que temas como “Ready to Start” ou “Creature Comfort” impuseram durante o restante concerto. Foram quase duas horas e meia, mas podiam ter sido mais. O público certamente agradeceria.
Para fechar, os Preservation Hall Jazz Band juntaram-se à banda em palco e com pompa e circunstância, sempre com o carinho do público, lá regressaram aos camarins, mas não sem antes pararem à porta para mais um reforço em coro. Este foi, para mim, um dos melhores concertos que alguma vez vi.
ALINHAMENTO:
Everything Now
Rebellion (Lies)
Here Comes the Night Time
Haïti
No Cars Go
Electric Blue
Put Your Money on Me
It’s Never Over (Oh Orpheus)
Neighborhood #4 (7 Kettles)
Neighborhood #2 (Laika)
Neighborhood #1 (Tunnels)
The Suburbs
The Suburbs (Continued)
Ready to Start (Damien Taylor Remix outro)
Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)
Reflektor
Afterlife
Creature Comfort
Neighborhood #3 (Power Out) (com snippet de ‘I Give You Power’)
Encore:
We Don’t Deserve Love
Everything Now (Continued) (com Preservation Hall Jazz Band)
Wake Up (com Preservation Hall Jazz Band)
Fotografias NUNO CAPELA