“Permite-me que faça aqui um ligeiro desvio para cantar louvores aos #Excêntricos, aos diferentes, aos monstros, que costumam ser as pessoas que mais me interessam. Por acréscimo, descobri com o tempo que a normalidade não existe; que não vem da palavra «normal», como sinónimo do que é mais comum, mais abundante, mais habitual, mas de «norma», de regulação e mandato.
A normalidade é um marco convencional que pretende a homogeneização dos humanos, como ovelhas fechadas num redil; mas, se olhares bem de perto, somos todos diferentes. Quem nunca se sentiu um monstro alguma vez? Além do mais, ser diferente pode ter algumas vantagens. Em 2009, a universidade húngara de Semmelweis publicou um estudo fascinante efectuado pelo seu Departamento de Psiquiatria.
Pegaram em trezentos e vinte e oito indivíduos sãos e sem antecedentes de doenças neuropsiquiátricas e fizeram-lhes um teste de criatividade. Depois verificaram se os sujeitos revelavam uma determinada mutação num gene do cérebro chamado, espirituosamente, «neuregulin 1». Calcula-se que cinquenta por cento dos europeus sãos possui uma cópia deste gene alterado, quinze por cento duas cópias e os restantes trinta e cinco, nenhuma. Acontece que o gene de nome inverosímil apresenta ter uma relação directa com a criatividade: os mais criativos teriam precisamente duas cópias e os menos criativos, nenhuma.
Segue-se a parte melhor: possuir a mutação também implica um aumento do risco de contrair transtornos psíquicos, como uma memória pior e… uma sensibilidade disparatada às críticas! Não te parece ser o perfeito retrato-robô do artista? Doido e pateticamente inseguro? O reverso da medalha é que essas pessoas um pouco excêntricas, bastante neuróticas e possivelmente fragilizadas parecem ser as mais imaginativas, o que não é nada mau. O estudo poderia explicar, aliás, a existência dos génios.”
Rosa Montero, A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te