Esboço
A resposta chegou uma semana e meia depois. Tinha estudado, tomara notas, delineara histórias, urdira intrigas e até cedera à tentação infantil de enviar um segundo e-mail. Estava ansioso, certamente, mas a verdade é que não tinha um plano B. Aquele contacto era tudo ou nada para mim.
Li o texto com um nó na garganta, sempre à espera do pior. Mas dei por mim de punho cerrado a celebrar, a festejar a minha pequena vitória. Ele tinha dito que sim. O diretor de coleção da Academia Real das Artes de Londres estava disposto a falar comigo.
Aquilo que ao início me parecera um tiro no escuro, transformou-se numa oportunidade rara. O impasse inicial, uma vez ultrapassado o primeiro obstáculo, desfez-se rapidamente, à medida que começámos a trocar mensagens a um ritmo diário.
Sim, poderíamos agendar uma pequena entrevista, uma breve conversa. Não, as medidas de segurança existentes na academia não seriam abordadas. Se eu queria escrever o meu livro, então, teria de respeitar as suas condições. Aliás, era apenas uma: falaríamos somente acerca do quadro.
Destemido, aceitei. E foi aí que deitei mãos ao meu desenho, o meu plano sumário, ou a minha declaração de intenções. A primeira coisa que eu tinha de fazer era estudar ainda mais, esforçar-me arduamente por aprofundar a pesquisa que começara, não ter medo de ousar, de fazer aquilo que desde o início me motivara a entrar neste mundo. A segunda era algo mais simples. Bastava-me comprar um bilhete de avião. Eu ia a Londres.
Há momentos de sorte, sabem? Costumava acreditar que nunca vivera nenhum. Ouço frequentemente que tenho uma vida de sonho, que alcancei e que usufruo de coisas com as quais apenas alguns sonham e que, na realidade, nunca chegam a alcançar.
A verdade não é bem assim. Diria mesmo que discordo. Sinto que tudo, mas mesmo tudo, tem sido sempre mais difícil para mim.
Não foi o caso da viagem a Londres, apesar de, curiosamente, ter começado com esse sentimento — de desnorte, confusão, frustração e imenso azar. Depois de chegar à cidade, a primeira coisa que fiz foi deitar tudo por terra, destruir o meu pequeno esboço. Comecei por apanhar o comboio errado.
Nuno Nepomuceno