Em diferentes pontos no tempo, alguns leitores têm-me perguntado isto. Os livros de auto-ajuda ajudam mesmo? Volta e meia tenho um ou outro amigo que, vendo-me com um desses livros na algibeira, me pergunta o mesmo. E a verdade é que a resposta é simples: depende tanto do livro como da abertura do leitor ao tópico. A maior parte dos livros considerados auto-ajuda que leio estão relacionados com gestão da mente e das emoções. A saúde psicológica é algo que me preocupa, não sou imune a crises de ansiedade e sou uma daquelas pessoas que, embora utilize imensas tecnologias do século XXI, não se importava de em algumas coisas ainda estar atrás no tempo. Esta cultura de trabalho até cair para o lado para se tenta provar algo a terceiros, de estar constantemente ligado para não se perder pitada do que se passa e ser-se visto, o facto de muitas vezes o primeiro impulso de manhã ser verificar a caixa de correio electrónico… Pura e simplesmente não é saudável. E é mais fácil de dizer do que fazer, mas uma pessoa tem de começar por algum lado.
Tenho-me cruzado com todo o tipo de livros de auto-ajuda e, sendo a cientista que sou, prefiro sempre aqueles que têm como base estudos em Neurociência e Ciência Cognitiva. Claro que tendo também um lado espiritual, gosto de ler livros que possam estar ligados ao bem estar emocional e espiritual. Recorro muitas vezes a literatura ligada a vários estilos de yoga e, recentemente, aventurei-me também a ler mais sobre a componente emocional do budismo (não sobre a parte religiosa). Por norma procuro este tipo de literatura quando o meu dia-a-dia me faz sentir mais sufocada do que o desejável. É uma espécie de técnica de por ordem na casa. Não é que ande a aprender a cada livro que leia, mas há técnicas que são transversais a qualquer estilo/abordagem ao bem-estar físico e emocional e, portanto, acaba por ser uma forma de me relembrar que, por exemplo: i) é bom tirarmos um tempo para nós, de manhã cedo ou antes de dormir, para alinharmos a nossa motivação e disposição e sentirmo-nos gratos por tudo o que vamos alcançando; ii) é bom tirarmos algum tempo para nos dedicarmos a ouvir as necessidades do nosso corpo, o que inclui exercício físico, seja yoga, uma corrida ou outro desporto, alongamentos, ou algo mais exigente como musculação; iii) nunca esquecer que a tonalidade dos nossos pensamentos molda o nosso dia-a-dia, querendo dizer que se nos sentirmos mais cinzentos, o nosso dia vai correr de forma cinzenta também, mas se tivermos a capacidade de dar uma oportunidade a que o dia corra bem, tudo se pode revelar muito mais leve e quente do que previsto.
Tudo isto que eu disse é minimalista, mas são princípios básicos de auto-ajuda que só dependem de nós e não de nenhum livro. Claro que, dependendo do estado mental de cada um, há técnicas que podem ser aprendidas, terapias que podem ser feitas, etc. Dos livros que li recentemente, de forma muito prática, posso aconselhar os seguintes:
- Comportamento: A Biologia Humana No Nosso Melhor e Pior, de Robert M. Sapolsky. Confesso, ainda não terminei esta leitura (o livro é uma espécie de Bíblia), mas já é um dos meus preferidos. Com este livro tenho revisto e aprendido muito sobre todo o mecanismo funcional do nosso cérebro. Da parte psicológica à fisiológica, passando pelo sistema endócrino, é fascinante como até o ambiente em que estamos inseridos é capaz de moldar tudo isto, conjugando num tipo de comportamento difícil de prever sem ter tudo em conta. Uma leitura fascinante.
- Gestão da Mente, de Andy Gibson, editado pela Pergaminho. É um livro muito prático que pode ser interpretado de forma ajustada à personalidade de cada um. Dá ferramentas e estratégias para se lidar com os mais diferentes aspectos da rotina diária.
- Why Buddhism is True: The Science and Philosophy of Meditation and Enlightenment, de Robert Wright. Este é um livro muito interessante porque faz o paralelismo em como a nossa mente foi evoluindo ao longo dos milénios e em como o cérebro não está biologicamente preparado para os desafios do nosso século. Apresenta como solução a meditação e baseia-se na filosofia e psicologia budista, levantando muitas perguntas sobre como chegar ao desapego e à liberdade pessoal apregoada pelo budismo, mas também dando respostas com base na sua experiência pessoal. Um livro muito interessante.
- Yoga-me, de Filipa Veiga e Alma Feliz – Good Vibes, de Grace Kelly. Dois livros tão bonitos e tão inspiradores! São bastante completos no que toca à prática espiritual e física do Yoga. Mais, dão também conselhos sobre uma alimentação mais saudável e equilibrada, com receitas e tudo. Estas informações são complementada com uma explicação acessível sobre os chakras e técnicas para os equilibrar. Também sugerem algumas sequências de posições yoga, cada uma com o seu propósito. Hoje em dia ainda sigo algumas todas as manhãs 🙂
- Retox – Ioga – Alimentação – Atitude, de Lauren Imparato. Chego à última sugestão com um livro super prático que pode ajudar a mudar as vossas rotinas muito rapidamente. Consoante o que vos possa estar a incomodar, a autora sugere desde sequências de yoga e alimentos, fornecendo receitas, para que possam desbloquear e melhorar a vossas qualidade de vida. É daqueles livros que lido uma vez, utilizamos depois como consulta sempre que identificamos algo que está mais desequilibrado. Atenção, de espiritual tem muito pouco. Arrisco a dizer que é um livro puramente prático e extremamente útil.
Bem, apelidei o post de “Curtas” e este já vai longe. Decidi adicionar “Parte I” ao título porque penso que é um tema ao qual poderei voltar brevemente. Não mencionei aqui os que não gostei de ler, mas se por acaso quiserem a minha opinião sobre algum que achem que já possa ter lido (podem consultar o meu Goodreads – https://www.goodreads.com/BranMorrighan) é só escreverem-me um mail ou deixarem mensagem na página do blogue no Facebook. Resumindo e concluindo, a minha opinião sobre os livros de auto-ajuda é que devemos manter uma mente aberta, mas também devemos ter um espírito crítico sobre aquilo que funciona para nós. É importante arranjar um ponto intermédio em que não decidimos seguir cegamente só porque a publicidade diz que vai mudar a vossa vida, mas também não devemos ser cépticos ao ponto de iniciarmos a leitura já de cabeça feita que não vai funcionar connosco. Com o tempo vão começar a perceber o que funciona convosco e, depois, será fácil escolher a vossa “bengala” quando precisarem dela.