Leva-me Contigo
Afonso Reis Cabral
176 págs
16,60 euros
Dom Quixote
Um livro que relata uma viagem, na primeira pessoa, ganhando contornos de obra de comunhão das formas mais inesperadas: «continuação de boa viagem, amanhã ficas em Abrantes???? É que eu vou fazer um bolo para te oferecer…», lemos num dos vários posts de facebook que são reproduzidos nas páginas deste diário de viagem. E sentimos rapidamente como a viagem de Afonso Reis Cabral foi, não apenas seguida, mas partilhada, na mais ampla acepção da palavra, por mais gente que os seus leitores regulares. Os encontros ao longo do percurso, as paisagens e o que suscitam, o cansaço e a alegria retemperadora da conquista, tudo contribui para este percurso ganhar vida a cada passada.
Afonso Reis Cabral conta com dois romances publicados, O Meu Irmão (Prémio Leya 2014) e Pão de Açúcar (Prémio José Saramago 2019). Este novo livro, Leva-me Contigo – Portugal a Pé Pela Estrada Nacional 2, testemunha o percurso iniciado em Chaves – no célebre Quilómetro Zero, marco distintivo do início da mais longa estrada portuguesa, que cruza o país de alto a baixo, até Faro. O formato do livro surpreende e cativa imediatamente, repleto de imagens e transpondo as mensagens enviadas por telemóvel, tal qual como surgem no visor do aparelho. As opções de paginação deste livro são um dos elementos decisivos para o seu sucesso, ao mesmo tempo que acentuam a datação do seu conteúdo – um bom exemplo da transformação de uma experiência, primeiro em relato regular nas redes sociais, depois, no tradicional livro, dinamizado por um olhar contemporâneo.
O estilo descontraído e a noção de proximidade constante com o leitor – que começou por ser cada um dos seguidores da página de facebook do autor – acentuam a partilha, enquanto garantem o ritmo deste diário de viagens.
O corpo todo ajudou a escrever este livro, com o desgaste que se imagina e descreve. Mas outras compensações nasceram dessa contingência, como em Santa Comba: «Depois fui ao Centro de Saúde zelar pelos músculos. A enfermeira aconselhou descanso, coisa que não tenho para me dar, mas achou que os pés até estavam a sobreviver. Para lá, uma família deu-me boleia. Para cá, a taxista recusou-se a receber».
João Morales