Sarah Affonso – Os Dias das pequenas Coisas
Emília Ferreira (apresentação)
Tinta-da-China
208 págs
32,90 euros
Este álbum ilustrado, publicado em conjunto com a exposição homónima, patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea até 22 de Março de 2020, lança uma luz que tardava sobre a figura de uma artista que abdicou de o ser, deixando-se permanecer na sombra avassaladora do seu marido, José de Almada Negreiros.
Em comum com o autor de “Cena do Ódio”, a variedade de suportes a que recorreu para registar a sua criatividade. Quer seja no desenho, na pintura, nos bordados, na ilustração, nas suas peças em azulejo, a fixação e decomposição da tradição, aliadas a cenas da vida familiar, permitiram-lhe explorar os seus dons, chegando até a aventurar-se em outros domínios, como a arquitectura paisagista e o design de interiores, áreas que foi desenvolvendo na sua própria casa de Bicesse.
«As circunstâncias da sua vida e o facto de nunca ter tido uma única encomenda de pintura (conhecido desabafo de fim de vida) levaram-na ao abandono desta área da criação, o que sempre lamentou, mas que assumiu conscientemente, optando por uma vida de cuidadora», como escreve Emília Ferreira, directora do Museu Nacional de Arte Contemporânea.
A linguagem de Sarah Affonso acompanha a modernidade na qual estava inserida, executando técnicas e materiais modernos, embora no âmago do seu imaginário, ao nível dos motivos, da figuração, do simbolismo, prevaleça uma cultura tradicional que transporta consigo mesma a memória viva das raízes da artista e, simultaneamente, a carga telúrica que a evocação de padrões, elementos cénicos ou personagens pode conter.
Uma elucidativa fotobiografia, preenche a parte final deste livro, acompanhando as imagens com diversas referências elencadas cronologicamente, tornando-se num auxílio fundamental para melhor compreendermos o percurso, as opções e a evolução do enquadramento desta artista.
João Morales