[Diário de Bordo] Montanha russa cognitiva

Meus queridos leitores,

Que tal estão? Ando para vos escrever há algum tempo, mas quando fico muito tempo sem escrever depois parece que não sei por onde começar, dado que tanto acontece num dia, quanto mais numa semana ou num mês (ultimamente a minha pontualidade aqui é mais mensal que outra coisa!). No entanto, quase todos os dias penso em algo para vos contar. Desta vez, vem um post estilo checking-in com o estado actual das coisas.

Começando com a minha pessoa, felizmente estou bem e está tudo bem. Uma grande diferença em relação há um ano atrás em que as coisas estavam negras a muitos mais níveis do que “apenas” estar no meio de uma pandemia. A minha posição académica da altura não corria bem — ainda não é desta que falo sobre este assunto, apesar de achar que seria útil para mais pessoas — e o facto de estar isolada de família, amigos e lugares comuns nos EUA também não estava a ajudar. Claro que nem tudo foi mau e ainda hoje tenho as maiores saudades da Two Sticks Bakery com a sua crew maravilhosa que me deixava doces à porta do apartamento quando eu estava doente 🙂

Portanto, 2021, mesmo com a pandemia a dar connosco em loucos, tem sido um ano bem mais positivo do que o anterior. Têm aparecido uns quantos desafios, mas felizmente, respirando fundo, lá se têm resolvido. A nível profissional corre tudo bem. Na verdade, corre tão bem que acho que tenho guardado para mim falar sobre isto só no espírito de saborear um pouco a maré e não atrair qualquer tipo de agoiro. Eu sei, eu sei, superstições, mas a verdade é que nos sentimos sempre mais confortáveis quando parece existir uma menor probabilidade de haver interferências menos bem intencionadas. Vale o que vale.

E um dos pontos altos de 2021 tem sido o interesse num trabalho que desenvolvi com outros colegas (Szymon, Trevor and Massimo) sobre tentar revelar a estrutura semântica e cognitiva expressa em cartas de suicídio. Existe um pré-print que podem ler aqui. Já apresentei este trabalho em pelo menos 4 ou 5 eventos internacionais este ano e até o ano terminar devo apresentar pelo menos mais um par de vezes. Este é um tema que me é muito próximo e é também um fenómeno sobre o qual não sabemos assim tanto a nível de configuração cognitiva antes do momento acontecer. Esta é uma primeira tentativa de compreender isso.

Para além de inúmeras palestras como oradora convidada, tenho estado envolvida na Women in Network Science, uma sociedade que pretende apoiar mulheres e pessoas não binárias dentro da comunidade de Network Science. Tem sido muito gratificante. Numa das iniciativas, criámos um clube de leitura no qual estamos agora a ler Invisible Women. Penso que em Portugal está traduzido literalmente como Mulheres Invisíveis. Ainda vou a meio do livro (a cada duas semanas discutimos dois capítulos na sessão do clube de leitura), mas honestamente penso que é um livro que todos deveríamos ler, independente do género, profissão, o que quer que seja. Ainda mais quem faz investigação aplicada.

Vou querer falar sobre este livro num post dedicado o que me traz ao seguinte assunto: estou a tentar tornar-me mais disciplinada a ler e quero muito brevemente voltar, com a regularidade possível, a escrever sobre as minhas leituras e a dar-vos das melhores sugestões. Estou a ler também outros dois livros em paralelo, mas provavelmente não falei sobre todos aqui – farei uma selecção dos que mais gostar. A verdade é que no início de 2021 propus-me a ler 40 livros e se terminar com metade lidos, vou fazer a maior festa!

Tenho ainda tanto para partilhar convosco, mas vou tentar cortar caminho. Para quem tem acesso a um device Apple ou Apple TV, há uma nova série documental pela Oprah Winfrey e o Prince Harry chamada – The Me You Can’t See. Já antes falei sobre saúde mental (mais para vir brevemente, espero eu) e acho que esta série documental acaba por abordar uma série de desordens cognitivas e psicológicas que faz com que ganhemos uma maior consciência da diversidade e da dificuldade que é lidar com doenças mentais – sejamos nós a pessoa com essa doença ou alguém que nos é próximo.

Este ano não fiz um post sobre isso, mas no dia 1 de Junho comemorei os meus 33 aninhos! Uma bela capicua que se reflectiu num dia diferente, mas também belíssimo. Tirei um par de dias nessa semana, reservei um local para o qual nunca tinha ido, mas que ficava entre as montanhas e o mar, e foi delicioso. A manhã começou com uma massagem relaxante/terapeutica (a minha cervical continua a matar-me), um almoço calminho em frente ao mar com céu ainda cinzento, uma sessão de meditação e pelas 16h o sol decidiu agraciar-nos com a sua presença e ainda estive um par de horas na praia. Ao jantar o meu melhor amigo e a sua companheira fizeram-me a surpresa de irem ter comigo e a noite terminou com muitas gargalhadas (e honestamente demasiado álcool, ahah, já não vou para nova no que toca a aguentá-lo!).

A verdade é que apesar de todos estes bons momentos, ainda me sinto muito cansada. O cansaço que acumulei nos últimos dois anos, mais todas as responsabilidades que tenho, mais o que ainda está para vir (contarei quando chegar a altura), faz com que por vezes a minha cabeça ande um autêntico turbilhão. Acho que foi por isso que ao pensar neste post, gostei tanto do quadro de Ashvin Harrison, artista australiano. Uma mente hiperactiva, uma espécie de montanha russa cognitiva, cheia de ideias e iniciativas que tentam fazer a diferença, mas também um toque de sombra. Embora a pintura tenha sido desenvolvida com a expressão de movimento e vida em mente, a verdade é que quando uma peça de arte está cá fora, ela torna-se um pouco do espectador também.

Última coisa! Prometo 🙂 No final de Maio e agora em Junho voltei a assistir a um par de concertos (Linda Martini e Sean Riley and the Slowriders) e as saudades que eu tinha de estar num ambiente em que 100% da energia vem do palco! Dadas as regras de segurança, a experiência não é bem a mesma… Não se pode esperar o mesmo envolvimento cognitivo quando existe liberdade de movimentos e uma espécie de dança conjunta com os artistas em palco, mas ainda assim é melhor do que sermos privados na totalidade destes estímulos sensoriais. Ambos os concertos correram bastante bem, por isso agora é ver quando consigo assistir ao próximo!

Não se esqueçam: cuidem-se bem, protejam-se e sejam conscientes uns com os outros. Lembrem-se também que os níveis de ansiedade andam ao rubro em quase toda a gente, por isso sejam tolerantes. Se antes já era difícil imaginar experiências que outros possam estar a viver, hoje em dia com o recolhimento natural do constante isolamento corremos o risco de fazer ainda menos ideia do que se possa fazer. Acima de tudo, se têm alguém em quem confiam, conversem, riam, deixem sair um pouco de vós cá para fora. Aos poucos, todos juntos, criamos um novo normal. Até breve 🙂

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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