Jazz no Parque ao Sábado, em Serralves (com entrevista a Rodrigo Amado, programador)

Jazz no Parque

Arranca hoje a 31ª edição de Jazz no Parque, a iniciativa que leva a improvisação musical a Serralves. Três datas, três sábados, 2, 9 e 16 de Julho, com curadoria do mais internacional saxofonista português, Rodrigo Amado (que também nos deixa algumas pistas).

João Morales

A edição deste ano do Jazz no Parque sublinha o perfil da instituição que o acolhe, aglomerando propostas variadas com um carácter contemporâneo em comum, bem como uma evidente intenção de ultrapassar as fronteiras previsíveis para um festival assim designado, de Jazz.

Maria da Rocha @ Pedro Sadio

O certame arranca esta tarde, às 16h, na casa de Serralves, com a violinista Maria da Rocha, viajante que se move num experimentalismo electro-acústico, malgrado a sua experiência com orquestras clássicas, executando Beethoven, Hindemith, Hoffmeister ou Telemann.

Com um interessante percurso internacional, que passa pela apresentação de peças suas no Reino Unido, Alemanha, Suécia, Bélgica ou Polónia, deixou já registos gravados, como a presença no álbum Pink (em duo com Maria W. Horn;Creative Sources; 2015) ou o impactante registo a solo Beetroot and Other Stories (Shhpuma Records; 2021).

Luís Vicente @ Cees van de Ven

Pelas 18h será a vez do Luís Vicente 4tet se apresentar no Ténis do Parque de Serralves. Reconhecido como uma das mais carismáticas presenças na nova vaga de improvisadores portugueses o trompetista, que já gravou com Michael Moore, William Parker, Hamid Drake, Roger Turner, Gabriel Ferrandini ou Gonçalo Almeida, apresenta-se acompanhado de uma secção rítmica composta por Luke Stuart (contrabaixo) e Pedro Melo Alves (bateria), emparelhando os sopros com o saxofonista americano John Dikeman (com quem gravou, entre outros, o extraordinário Goes Without Saying, But it’s Got to Be Sad (com os referidos Parker e Drake; JACC Records; 2020).

Mette Rasmussen @ Francesco Saggio

A música regressa dia 9 ao Ténis do Parque de Serralves, pelas 18h, desta vez com o Mette Rasmussen Trio North. A saxofonista dinamarquesa, figura marcante que já trabalhou com Chris Corsano, Joe McPhee ou Ken Vandermark, mas arriscou igualmente apresentar-se a solo ao longo de toda uma tournée da banda de pós-rock Godspeed You! Black Emperor, surgirá em palco acompanhada de dois noruegueses, o contrabaixista Ingebrigt Håker Flaten, membro da Exploding Star Orchestra e dos nórdicos Atomic, bem como do baterista Olaf Olsen, membro da banda rock Bigbang.

Sara Serpa @ Ebru Yildiz

Uma das grandes incógnitas, expectativas, surpresas (escolher adjectivo a gosto) foi deixada para o final. O terceiro e último Sábado do festival, dia 16, abre com um espectáculo onde a palavra estará no centro das atenções, com o projecto Intimate Strangers, liderado pela cantora Sara Serpa. Inserida na cena nova-iorquina desde 2008, conta com uma lista impressionante de colaborações artísticas no seu percurso, incluindo nomes como John Zorn, Ingrid Laubrock, Erik Friedlander, Nicole Mitchell, Kris Davis, Angelica Sanchez, Matt Mitchell, Zeena Parkins, Mark Turner ou Ashley Fure.

Na prestação preparada para o Jazz no Parque 2022 surgirá acompanhada de duas outras cantoras, Sofía Rei e Aubrey Johnson; de Erin Pettigrew, cuja intervenção se deverá prestar no âmbito da chamada spoken word, e dois outros músicos: Fabian Almazan, jovem pianista cubano, e Qasim Naqvi, mais conhecido como baterista, ou compositor de música para filmes, dança ou teatro. Contudo, em Serralves terá nas mãos um sintetizador modular.

Ricardo Toscano @ Miguel Estima

E o festival encerra às 18h, com um trio constituído por três músicos portugueses, incluindo uma das confirmações da última década, o jovem saxofonista Ricardo Toscano (n. 1993) que, entre outras aventuras, tem demonstrado as suas potencialidades com The Mingus Project ou Lisbon Underground Music Ensemble. Ao seu lado, estarão o acordeonista João Barradas (com Mark Turner, Avishai Cohen, Jim Black ou Frank Mobus num curriculum com espaço para acompanhamento regular em algumas formações recentes de Jorge Palma) e o baterista João Pereira, músico com um percurso internacional onde se cruzou com nomes como Mário Laginha, Jeffery Davis, John Ellis, Matt Pavolka, Perico Sambeat, Maria João ou Peter Bernstein.

Entrevista Rápida a Rodrigo Amado, Programador da edição Jazz no Parque 2022

Rodrigo Amado @ Luis Lopes

Em cinco questões, Rodrigo Amado, programador desta edição do Jazz no Parque, músico português internacionalmente reconhecido, explica-nos as escolhas.

Quais foram os critérios para a composição deste programa?

Antes de mais, queria dar continuidade ao excelente trabalho feito pelo Rui Eduardo Paes, o meu antecessor na programação do ciclo. Talvez procurando agora dar um pouco mais de destaque à componente jazz do programa. Para mim, o ponto mais importante era sem dúvida apostar inequivocamente nos músicos e na cena jazz nacional. Somos já considerados uma das comunidades jazz mais vibrantes e activas da Europa e este apoio a nível interno é fundamental para dar continuidade a esse processo.

Por outro lado, queria também prestar particular atenção à representatividade de género. O número de mulheres a desenvolverem um trabalho interessante e consistente nas áreas do jazz e da música improvisada é cada vez maior, com algumas delas a atingirem já as linhas da frente. Este é, na minha opinião, um ponto fundamental. Por fim, quis também apostar em músicos que ultrapassam e desafiam as fronteiras do género, contribuindo para algo em que acredito – um jazz vivo, aberto a influências e contaminações exteriores. Um jazz profundamente de agora, onde a liberdade e criatividade não têm limites.

Sendo tu músico, de que forma isso pode influenciar as tuas escolhas como programador de um festival?

Penso que essa influência se dá a variadíssimos níveis, sendo talvez o mais importante o facto de que, como músico que se move no circuito Europeu, estou dentro da cena. Conheço pessoalmente muitos dos músicos e tenho uma visão privilegiada do que está a acontecer, num determinado momento, a nível internacional. Por outro lado, acredito também que as características principais que fazem de alguém um bom programador nesta área não estão ligadas ao facto de se ser músico. Isso não deve ser sobrevalorizado.

Pode haver músicos com quais te interesse, a título pessoal, mas que consideres inadequados ao programa que estás a preparar? Como se processa essa separação, digamos, na tua selecção?

Claro que sim. A actividade de programação envolve um fortíssimo exercício de contenção, análise e auto-crítica. Isto, no sentido de que o nosso próprio gosto é apenas um dos critérios de escolha. Essa é, aliás, a chave para esta disciplina, ou seja, o modo como equilibramos gosto pessoal, perfil do ciclo ou festival, prioridades sociológicas, preferências do público, tendência actuais, visões futuras… enfim, um sem número de factores que, combinados de uma determinada forma, fazem a personalidade do programador.

Tens tocado muito fora de Portugal, como comentas a presença de músicos portugueses, de gerações mais novas, além-fronteiras?

A internacionalização da nossa música é muito importante. Não para dizermos que vamos lá fora, mas porque esse movimento é essencial para o crescimento e desenvolvimento da própria música. É como viajar. Aquilo que aprendemos é enorme, importantíssimo. De qualquer forma estamos no bom caminho. Nunca houve tantos músicos nacionais a circular na Europa. Mas é preciso fazer mais.

E quanto ao nível dos festivais de jazz que se realizam no nosso país, podemos estar orgulhosos do percurso feito nestas décadas?

Portugal tem alguns festivais de jazz com enorme qualidade e alcance internacional. No entanto penso que os grandes festivais têm falhado de forma sistemática no espaço e destaque dado aos músicos portugueses. Parece que são eles os primeiros a não acreditar na nossa música. Acho que poderíamos estar mais orgulhosos.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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