Branco
Alberto Silva
Editora: Chiado Editora
Sinopse: Viaja-se aos desígnios da mente humana, sem propósito de as desbravar, mas antes espreitar, como quem vigia o buraco da fechadura.
Daí até ao fim da classe política foi um pequeno passo.
Fazem- se contas no final, entre dementes passagens carregadas de emoção, em ambientes mágicos, trágicos – talvez.
Talvez seja assim, este livro.
Ou talvez não.
“Estou rodeado de branco. Paredes brancas, cama branca, lençóis brancos. Tudo é branco. Perfeitamente branco. Não de um branco qualquer. De branco branco.”
“Sinto-me vazio, seco de mim. Empresto-me memórias passadas, minhas, vividas. Relembro episódios idos de tempos mortos. Encosto-me, velho, na lateral desta cama, esquecendo o lugar, olvidando o presente. Enfio, em mim mesmo, vontades de fuga, de escape. Ternura não tenho, nem jeitos de carinho. Se os tivesse, não teria a quem os deixar.”
Opinião: Após me ter estreado com Alberto Silva através da sua poesia em Labirinto de Nós, eis que com Branco descobri a sua prosa. Esta é, sem dúvida, uma obra com uma carga emocional e psicológica muito forte; faz-nos navegar pelos locais mais sombrios da nossa mente levando-nos às nossas próprias divagações enquanto assistimos aos episódios do personagem principal.
Branco começa com um homem que se vê de repente sem consciência de onde se encontra ou do que o rodeia e porquê. Aos poucos, vai entrando em estados de alguma inconsciência onde delira com o seu passado e com as decisões que o levaram àquele lugar inóspito.
Penso que a sinopse dá um belo cheirinho do tipo de temáticas que encontramos neste livro. A escrita do autor é impiedosa e confesso que por vezes me perdi, eu mesma, nos meus próprios devaneios. Nessas alturas, foi engraçado, tinha que obrigar-me a focar-me novamente na leitura.
Achei o fim um pouco surpreendente. Gostei bastante da forma como toda a acção se desenrolou, mas o final feliz deixou-me um travo amargo na boca. Não sei bem porquê; normalmente o leitor gosta de finais felizes, mas dada a intensidade emocional ao longo da história, achei que se tivesse acabado sem aquelas duas últimas páginas de narrativa, tinha acabado bem. Mas e daí, é apenas a minha opinião.
A cereja no topo do bolo nesta obra é o facto de após termos terminado a narrativa o autor nos presentear com alguns poemas que acabam por reflectir bastante do que foi a leitura.Deixo-vos aqui um pequeno excerto que fotografei do livro do autor e de que gostei particularmente: