(e como diz o Galo:
o amor é um abismo ismo, ismo, ismo. e faz eco.
As Mil e Uma Noites: Volume 1, O Inquieto (2015) – Miguel Gomes)
é sentada à beira-rio que te escrevo estas linhas
numa folha em branco. sem linhas. sem pontos de interrogação.
sem quadrículas para pintares os quatros ângulos sublimes.
escrevo-te sobre a mudança, sobre o amor e o desamor.
escrevo-te sobre o que quiseres ler, sobre o que quiseres interpretar.
sobre o que quiseres sentir. mas o que sentes tu?
confesso-te, com todas as palavras, que o meu coração encontra-se dividido em várias cidades: com o Barreiro pela família, com Lisboa pelo crescimento, com Coimbra pelo sentimento desentendido e com o Porto pelo desenvolvimento.
há um ninho em cada uma delas, um lado selvagem de quem quer um abrigo e, ao mesmo tempo, escapar dele para apenas ficar com as vivências locais.
no meio de tantas divisões, qual circunferência, estás tu.
no centro.
a crescer, aos poucos.
o teu ‘eu’ e uma paixão tímida, escondida, não aprovada, incompreendido pelo meu cérebro.
e nesta fase de mudança em modo nómada, olho para uma fotografia que te tirei.
sorridente. do lado de lá da lente. com o rosto a definir uma certa timidez.
do lado de cá da lente. observo. crio o meu cenário e sinto o meu coração a acelerar.
entretanto páro. contemplo o dourado das águas que seguem até à Foz.
volto a lembrar-me de ti. a imaginar-te aqui. ali. a olhar para o céu.
a exibir o sorriso e de mãos nos bolsos.
aonde pára o atrevimento?
onde está aquele fervor emocional?
está dentro de uma caixinha de médio formato que um dia te entregarei dentro de um envelope.
e, na verdade, o que desejo, é poder continuar a escutar-te e sussurrar para dentro do teu peito:”tenho saudades de estar contigo”.
Vila Nova de Gaia, 9 de Fevereiro de 2016.
A fotografia foi tirada na ribeira do Porto, no dia 4 de Fevereiro de 2016, por uma Pentax K1000 e com a película Kodak Double-X.
Ana Cláudia Silva