Matt Haig tornou-se um autor bestseller com Razões para Viver e O Mundo à Beira de um Ataque de Nervos. Entretanto lançou um romance e mais recentemente a Porto Editora lançou O Livro do Conforto. Este último é um livro dividido em quatro partes, cada uma das partes compostas por textos curtos, poemas, aforismos, citações e reflexões. Decidi criar uma entrada Diário de Bordo em vez de uma entrada de opinião, porque a verdade é que a minha opinião sobre este livro é mesmo muito pessoal.
A Sofia que leu Razões para Viver é uma Sofia um bocadinho diferente desta que agora pegou no Livro do Conforto (os meus dedos teimam em escrever desconforto e depois lá tenho eu de corrigir a tempo…). E digo isto porque a Sofia de hoje, eu mesma, apesar de não ter passado por nenhuma depressão profunda passou pela experiência de ter ataques de pânico de tal forma limitadores que começar a fazer psicoterapia se tornou na melhor decisão de sempre.
Passando agora para a primeira pessoa, acho que a minha dificuldade com este livro tem precisamente a ver com isso, com o facto de na minha experiência pessoal não me identificar com a forma como algumas coisas foram expostas ou abordadas. E porque isto é um dar e receber, quero também relembrar que já antes partilhei aqui parte da minha experiência com Saúde Mental, tópico que é importantíssimo que se fale cada vez mais sem preconceitos.
Também acho crucial fazer este disclaimer – cada experiência é uma experiência e o consolo que funciona para uns não tem de ser o mesmo que funciona para todos os outros. Com isto quero salvaguardar que não desprezo nem desvalorizo a experiência do autor, mas antes que o que ele considera motivacional para mim foi, por vezes, alienador ou redutor. Claro que nem todas as entradas provocaram este efeito. Gostei particularmente das entradas em que Matt Haig foi buscar personagens históricas, filósofos, o imperador Marco Aurélio ou a grandiosa Maya Angelou.
Talvez seja eu a ver uma leveza demasiado grande neste Livro do Conforto para o propósito proposto. Tendo-me já encontrado em situações completamente desconfortáveis, penso ter sentido que não seria a ler este livro que me iria sentir melhor. No entanto, não descarto a hipótese de ser um livro de bolso razoável para volta e meia o consultarmos e nos lembrarmos, então de forma leve, que a vida é mais que o ruído que criamos nas nossas próprias cabeças.
Ou seja, não há nada de errado com o conteúdo deste livro. Talvez seja apenas mais um livro de auto-ajuda, de alguém que realmente já partilhou a sua experiência e de quem sabemos ter legitimidade para expressar o que o ajuda a não estar no escuro. Confesso que talvez a tradução não me ajude a sentir mais empatia. Depois de passar tanto tempo a ler só em inglês, e sabendo as diferenças e o impacto que pode ter na expressão da língua, ler em português não só foi estranho como quase que parece reduzir um bocadinho a importância do conteúdo.
Dito isto, queria partilhar na mesma esta experiência de leitura para que caso um de vocês passe pelo mesmo não se sinta sozinho. Às vezes quando lemos autores bestseller, ainda para mais se gostámos de livros anteriores, existe a pressão de termos de gostar de todos e se dissermos o contrário que vamos parecer esquisitos. Mas hey, se há coisa em que concordo com Matt Haig é que cada um é como cada qual e não lhe tiro mérito nenhum.