Literatura – Bran Morrighan https://branmorrighan.com Literatura, Leitura, Música e Quotidiano Sat, 06 Apr 2024 12:36:42 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.8.2 https://branmorrighan.com/wp-content/uploads/2020/12/cropped-Preto-32x32.png Literatura – Bran Morrighan https://branmorrighan.com 32 32 [Opinião] Nocturnes, Kazuo Ishiguro https://branmorrighan.com/2024/04/opiniao-nocturnes-kazuo-ishiguro.html https://branmorrighan.com/2024/04/opiniao-nocturnes-kazuo-ishiguro.html#respond Sat, 06 Apr 2024 12:36:39 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25518

Nocturnes
Kazuo Ishiguro

Editora: Faber & Faber

Nocturnes foi a minha estreia a ler o prémio nobel Kazuo Ishiguro. Um risco em duas vertentes: já não lia um livro de contos há bastante tempo (anos) e não sei se um livro de contos é a melhor entrada para conhecer o universo de um Prémio Nobel, mais conhecido pelo seu romance The Remains of the Day. Este foi também o seu primeiro livro de contos, após seis romances publicados. No entanto, numa das minhas viagem no início deste ano, enquanto esperava pelo meu vôo no aeroporto, vi o Nocturnes em destaque e quando reparei que eram contos envolvendo música, Itália e Inglaterra, pensei — “Porque não?”.

Estes cinco contos são caracterizados por apresentarem histórias atípicas, personagens que vivem num tumulto interior, enredos insólitos e uma aura a roçar um pouco o lunático. Talvez devido a essa combinação de elementos tão atípicos, mas ao mesmo tempo tão humanos, embora tenha achado alguns dos contos algo inesperados na sua loucura, também fiquei curiosa sobre que fim é que estes pequenos contos teriam. E se existe um tema comum a todos eles, é uma espécie de desencantamento profundo pela vida e pelo amor, aos mesmo tempo que os personagens tentam resgatar esse encantamento através de atitudes e decisões a roçar o absurdo.

Apesar de cada conto quase merecer ser um romance por si só, a verdade é que este registo breve, onde muito fica no ar, onde tanto é deixado à imaginação do leitor, reflecte na perfeição os encontros casuais que temos nas nossas vidas, as informações parciais e como lidamos com elas, as expectativas que nunca saberemos se se irão concretizar ou não. Temos desde actos de amor desesperado a uma resignação profunda de que as nossas emoções são tão transitórias como uma estadia num hotel ou uma viagem às montanhas.

A música, nas suas mais variadas formas — de serenatas, concertos em piazzas, a vinis em pano de fundo ou apenas um sonho pelo qual se está disposto a desfigurar-se a si mesmo (!!!!) — liga os pontos que ficam no ar. Uma espécie de homenagem a uma arte que tem tanto o poder de nos resgatar quanto de nos enfeitiçar com esperanças e sonhos.

Fica a curiosidade de agora ler um romance do autor. Se recomendo Nocturnes? Diria que acho necessário ter uma ligação com a música para além do ouvinte ocasional e estar aberto a uma viagem que nem sempre fará o maior dos sentidos e que beneficiará da nossa compreensão e quase perdão nos momentos mais absurdos. Ainda assim, uma leitura que desfrutei.

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[Diário de Bordo] Redescobrindo o Fantástico https://branmorrighan.com/2023/12/diario-de-bordo-redescobrindo-o-fantastico.html https://branmorrighan.com/2023/12/diario-de-bordo-redescobrindo-o-fantastico.html#comments Sat, 02 Dec 2023 19:30:54 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25488

Deixem-me começar pelo óbvio — desde o COVID-19 que nunca mais nada foi exactamente o mesmo. E se por um lado para algumas pessoas as mudanças deveram-se precisamente à doença, no meu caso as coisas foram um pouco mais estranhas. Quando em 2022 estava tudo a voltar um pouco ao normal, voltei eu para casa em modo cyborg (não sabiam que sou um cyborg? pois leiam aqui) e desde então que isto tem sido uma montanha russa. O último ano também foi cheio de eventos inesperados. Alguns muito bons, outros muito maus, incluindo o falecimento da minha querida avó (post para outro dia) e um conjunto de factores/doenças dos quais ainda estou a recuperar.

Provavelmente vocês são mais inteligentes do que eu e não fazem o que eu faço — que é virar-me para não ficção e tentar compreender as entranhas do universo, os mecanismos dos elementos microscópicos, o entrelaçado entre corpo e mente ao ponto de não ver mais nada à frente… Enquanto que por curiosidade tudo isto é muito positivo, quando a coisa se torna uma pequena obsessão, nem tanto assim. Felizmente, tal como tenho vindo a dizer a mim mesma cada vez mais, tudo é passageiro. E sim, tudo, incluindo o bom e o mau, e por isso quando a maré está brava, tento lembrar-me que eventualmente acalmará.

Eu bem comprei um carrinho de livros, uma estante nova, etc. etc., mas enquanto os livros me passeavam pelas mãos, ainda assim não me estavam a tocar. Comprei alguns livros novos, uma série de e-books no Kindle, mas acabava sempre a cair na não-ficção. Mais uma vez, não sou contra quem só lê não-ficção, mas se vocês são leitores do blogue há algum tempo, sabem muito bem que por aqui se costumava ler de tudo, incluindo poesia e literatura meia esquisita, mas brilhante, como por exemplo I Love Dick ou Uma Rapariga é Uma Coisa Inacabada.

No entanto, se vocês são leitores há pelo menos uma década ou mais (e sei que alguns de vocês são — estou tão surpreendida pelas mais de 200 reacções no facebook ao último post!!) sabem muito bem que a minha paixão de adolescência e início da idade adulta foi sempre a literatura fantástica. Alguns também saberão que Juliet Marillier é uma das minhas autoras preferidas, cujo nome Bran deste blogue e do meu cão se deve a’O Filho das Sombras. Ainda tentei pegar num dos seus livros, mas a questão é que o meu coração não estava preparado para um romance e uma história que me comovesse demasiado. O luto é um bicho estranho.

No meio dos livros meios perdidos das mudanças para onde estou agora, encontrei o Lugar Nenhum do Neil Gaiman. Já li alguns livros do escritor, como Deuses Americanos ou O Oceano no Fim do Caminho, mas já fazia uns anos que não lia nada seu. E então pensei “porque não?”, provavelmente vai acontecer o mesmo que aconteceu com todos os últimos livros de ficção que tentei pegar até agora — leio uma ou duas páginas e pouso o livro sem voltar a pegar nele. Não sei se também passam por estas crises existenciais em que mesmo que os livros sejam os melhores, pura e simplesmente não pegam connosco. Acontece. A vida acontece.

O que também acontece é que como quem não quer as coisa, Richard e Door (dois dos personagens principais) lá se enfiaram na minha mente e já vou a mais de meio do livro. Eu que já tinha desistido de andar com livros atrás de mim, agora tenho o deja vú de há uns anos que é trazer o livro comigo mesmo que não tenha a certeza de haver oportunidade para o ler. E o que é que isto tem a ver com o redescobrir o fantástico? Tem tudo a ver. Porque na verdade, e não é a primeira vez, o fantástico tem o poder de nos tirar um pouco deste mundo e dar-nos espaço para respirarmos e processarmos as nossas próprias coisas.

Então mas Juliet Marillier não é fantástico? Claro que sim. Só que no meu caso eu precisava de algo mais “rijo”, mais “bruto”, mas ao mesmo tempo com um toque de sensibilidade e curiosidade que me prendesse na mesma, mas não me atirasse para lugares comuns do luto que tenho andado a processar nos últimos dois meses. O que — se já leram o livro — acaba por ser irónico dada a condição inicial de Door… E sim, por vezes ler coisas com situações semelhantes ajudam, mas eu já tenho os podcasts (ainda não vos falei do meu vício em podcasts, pois não?) e afins…

Não vou escrever nada em concreto sobre a leitura, porque vou guardar para quando publicar em específico sobre o mesmo, mas queria partilhar convosco, incluindo com aqueles que não lêem fantástico (e sim, tenho quem quase lhe dê um treco só de pensar em ler fantástico), que a fantasia também traz consigo um poder que às vezes o romance normal não consegue, por muito bom que seja. E o que mais me fascina é precisamente a capacidade de imaginação, de enredo intrincado, de personagens cheias de camadas e não lineares que nos deixam ali presos à espera do que vem a seguir.

E acabei a escrever bem bem mais do que aquilo que tinha planeado! Espero que tenham conseguido chegar ao fim! E se chegaram, não se esqueçam de subscrever a minha newsletter que vai voltar muito brevemente às vossas caixas de correio! Um abraço e deixem um comentário caso vos apeteça, caso concordem ou discordem de algo. Estou sempre curiosa com as vossas opiniões!

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[Opinião] A Boa Sorte, de Rosa Montero https://branmorrighan.com/2022/10/opiniao-a-boa-sorte-de-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2022/10/opiniao-a-boa-sorte-de-rosa-montero.html#respond Sun, 09 Oct 2022 18:19:27 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25407
A Boa Sorte

A Boa Sorte
Rosa Montero

Porto Editora

Porque a beleza ajuda a sarar a dor do mundo. Esta é uma das últimas passagens do livro, e tão bem que o resume. Mais do que sobre beleza e dor, A Boa Sorte é um romance cuja dicotomia, entre o bem e o mal, é a verdadeira protagonista.

Ao conhecermos Pablo, o personagem principal, conhecemos as vísceras da mente humana. É como que se através da sua história nos servíssemos dela para fazer paralelos em que as nossas reacções se assemelham, procurando algum refúgio na solidão dos nossos pensamentos. Para nos ajudar nessa viagem, temos Raluca, uma personagem que simboliza o extraordinário que é manter a alegria de viver após uma vida de trauma, a começar pela sua infância.

Confesso que nem sempre achei o livro ligeiro de se ler. Depois de já ter livro outros livros de Rosa Montero, A Boa Sorte, surgiu-me de início como algo que eu não compreendia bem. Misterioso, sim. Intrigante, sem dúvida. Porém, talvez tenha sido impaciente em querer perceber que trama rodeava Pablo. Se por um lado estava curiosa com aquele homem que a caminho de uma conferência decide sair numa paragem, voltar atrás para um piadeiro completamente escabroso, comprar um apartamento e ali ficar no meio da sujidade… Por outro senti falta de um diálogo interior que nos mostrasse um pouco mais.

Rosa Montero é uma escritora de pormenores e estes saltam à vida. Os personagens que rodeiam Pablo e Raluca são incarnações tão humanas de contrastes entre a avareza e a bondade, a violência surda e a velhice impotente. Há coisas difíceis de aceitar ao longo de A Boa Sorte. Temos descrições de relações familiares falhadas, de amor que deveria ser visceral, inexistente, de maldade patológica e da surpresa da ausência de carinho quando talvez fosse a reacção natural.

Ainda assim, há quem considere este livro uma história de amor. Penso que sim, que talvez o seja. Mais do que isso, penso que é um livro que despe a psique humana, expondo a necessidade que temos de amar e sermos amados, com tudo o que não conseguimos controlar pelo meio. Com mais ou menos suspense pelo meio, é este o percurso que vamos fazendo.

E se há coisa que Rosa Montero conseguiu neste romance foi semear esperança ao longo do mesmo. Nem sempre uma tarefa fácil, quando tudo parece antever um possível fim trágico. No entanto, e talvez por a vida real já poder ser tão trágica, a autora quis-nos deixar de sorriso nos lábios, mostrando um respeito pelo carinho que devemos ter pela vida e pelas segundas e terceiras oportunidades.

Tudo está bem quando acaba bem, e não há melhor consolo que uma boa história de redenção, mesmo que não seja pelo mesmo, mas só como uma tentativa de equilibrar o mal que já paira no mundo e que tantas vezes se aproxima de forma assustadora de nós. A Boa Sorte talvez não fique como uma história memorável, mas sem dúvida ajuda na construção da impressão digital que Rosa Montero deixa nos seus leitores: que o ser humano é imperfeito, complexo, mas ainda assim fascinante.

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O prazer em conhecer Rosa Montero https://branmorrighan.com/2022/09/o-prazer-em-conhecer-rosa-montero.html https://branmorrighan.com/2022/09/o-prazer-em-conhecer-rosa-montero.html#comments Fri, 02 Sep 2022 16:33:47 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25399
Rosa Montero, Feira do Livro Lisboa 2022, Fotografia da Maria João Covas

Desde que há uns anos li A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te que guardo um fascínio e um carinho enormes por Rosa Montero. Nunca a tinha conhecido pessoalmente até ao fim-de-semana passado, no Domingo na Feira do Livro de Lisboa. Se visitarem a tag Rosa Montero aqui no blogue, rapidamente se apercebem do porquê desse meu fascínio. Nos dois livros que li da autora, encontrei uma empatia e uma ressonância que é tão fascinante como um pouco aterrorizadora.

A autora, imiscuindo a sua vida com a de outras personalidades ou personagens criadas por si aborda temas como a dor, a loucura, o luto, a solidão, o amor, a criatividade, entre outros. Tanto no A Ridícula Ideia de Não Voltar a Ver-te como no A Louca da Casa, Rosa Montero construiu duas obras literárias que nos trazem conforto e segurança pelo simples facto de nos transmitirem – não estás sozinha!

Mal a vi no Domingo o meu sorriso abriu-se! Estava acompanhada da querida Maria João Covas, que nos tirou a foto deste post, e partilhava com ela o meu absoluto fascínio pela escritora espanhola. Quando chegou a minha vez de assinar os dois livros, juro-vos que parecia uma adolescente em frente a um ídolo quase que meia a gaguejar do entusiasmo e algum embaraço de me sentir tão fangirl naquele momento. E Rosa Montero não desiludiu, pelo contrário! Tanto que trouxe o Boa Sorte comigo e que quero ler até ao final do ano. Foi uma querida, agradeceu as minhas palavras e ainda assinou com uma dedicatória com grande carinho.

Já antes neste blogue falei de Saúde Mental. E a verdade é que há tanta subtileza na expressão destes assuntos nos livros de Rosa Montero, principalmente no que diz respeito às emoções fortes, ansiedade e ataques de pânico, que juro-vos que é um conforto abrir os meus livros, todos sublinhados, e encontrar lá escrito aquilo que eu nunca conseguiria colocar tão bem em palavras. Dito isto, é claro que só posso recomendar que leiam a autora. Confesso que não li mais da autora porque gostei tanto, tanto destes livros, que tenho receio que os outros não acompanhem! Eheh, mas até ao final do ano vai haver mais uma opinião quase de certeza! Fiquem desse lado 🙂

Se já leram a autora, por favor deixem nos comentários a vossa experiência! Estou curiosa se é um sentimento generalizado ou se na verdade é algo mais pessoal.

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Voltar à Feira do Livro Lisboa com o Trio Fantástico https://branmorrighan.com/2022/08/voltar-a-feira-do-livro-lisboa-com-o-trio-fantastico.html https://branmorrighan.com/2022/08/voltar-a-feira-do-livro-lisboa-com-o-trio-fantastico.html#comments Sun, 28 Aug 2022 20:36:59 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25389

Quando publiquei a entrada de Já ninguém lê blogues, não sabia que a palavra se ia espalhar tão rapidamente. Ao que parece alguns ainda lêem, ou pelo menos têm visitado o BranMorrighan, o que muito me alegra! E porque é que falo nisto? Porque foi graças ao blogue que há mais de 10 anos atrás, na Feira do Livro Lisboa, comecei a conhecer escritores portugueses — para quem não se lembra, ou não sabe, o blogue sempre teve uma atenção especial autores portugueses — e hoje em dia ainda tenho o maior privilégio em ter alguns como meus amigos.

É o caso do trio fantástico — Filipe Faria, Sandra Carvalho e Rafael Loureiro. No que diz respeito à literatura fantástica em Portugal sempre foram das maiores referências e tenho tido o prazer de fazer parte das suas trajectórias, volta e meia apresentado os seus livros em eventos públicos. Foram uns quantos anos, no auge do blogue, quando a Presença ainda tinha uns sofás na feira do livro onde os autores se sentavam a assinar, que me sentei com eles durante horas em conversa entre autógrafos. Tristezas e alegrias, frustrações e euforias, foi assim durante muito tempo.

Nos últimos cinco anos as coisas tornaram-se mais irregulares. Se contarmos com os últimos 3 de pandemia, não é difícil encontrar explicação. Fui encontrando-os em separado, às vezes de corrida, mas ainda hoje fico fascinada com a ligação especial que sinto com eles e sei ser recíproca. E agora que penso nisto, penso que este ano foi a primeira vez, de sempre, que conseguimos uma fotografia os quatro juntos! Por serem um trio fantástico, por norma têm filas bem grandes de leitores para dar autógrafos.

Foi tão especial vê-los novamente, os três ao mesmo tempo, poder conversar um bocadinho que fosse com cada um e largar umas boas gargalhadas. Enquanto estava com eles, reencontrei também o Rogério Ribeiro, o grande por trás do Fórum Fantástico, que já entrevistei pela primeira vez, imaginem, em 2013! Foi tão bom revê-lo e termos uma pequena walk on memory lane e como as nossas vidas se vão aproximando e distanciando, mas com a paixão dos livros e do fantástico sempre em comum!

Claro que a Feira não foi só este espaço da Editorial Presença, mas 12 anos de convivência com estes três merecem o seu post. Claro que não perdi a a oportunidade de visitar Afonso Cruz, João Tordo, Nuno Nepomuceno, algumas das pessoas que já conheço há tantos anos da comunicação das editoras com o blogue, e… Hoje fui a maior fangirl a visitar a Rosa Montero! Mas deixem-me aproveitar o entusiasmo que tenho sentido em voltar a escrever e depois faço outro post sobre isso. Deixo-vos com pequenas relíquias, de hoje e de anos anteriores. Eu sei que já me ri muito a olhar para elas!

Filipe, Sandra e Rafael, adoro-vos e que maravilha foi termo-nos encontrado nesta altura especial também para o regresso do blogue!

Esta já é de 2014! Tantos autores que visitei naquele dia! Post aqui.
Quando apresentei O Olhar do Açor e Filhos do Vento e do Mar da querida Sandra Carvalho em 2017! Post aqui.

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[Opinião] A Erva das Noites, de Patrick Modiano https://branmorrighan.com/2022/08/opiniao-a-erva-das-noites-de-patrick-modiano.html https://branmorrighan.com/2022/08/opiniao-a-erva-das-noites-de-patrick-modiano.html#respond Wed, 24 Aug 2022 09:34:28 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25384
A Erva das Noites

A Erva das Noites
Patrick Modiano

Porto Editora

Há alguns anos que tenho este livro. Por vezes cheguei a levá-lo em viagens comigo com a intenção de o ler. No entanto, o clichê é verdadeiro e os livros só são lidos quando querem ser lidos. Se forçamos… E ainda não percebi bem se forcei a leitura ou se apenas tive dificuldade em aceitar a personalidade de Jean, o nosso protagonista de A Erva das Noites. Foi a primeira vez que li Patrick Modiano e as referências eram as melhores. Não sei se começar por este pequeno romance em particular foi a melhor escolha, li algures que este livro é melhor compreendido à luz da familiaridade com a sua escrita, mas ainda assim não resisti.

A Erva das Noites, através de apontamentos num caderno preto do protagonista e através dele mesmo, leva-nos a caminhar, literalmente, com Jean por ruas de França, através de um misto entre memórias e estado onírico. Na sua juventude, Jean conheceu um grupo de jovens que habitavam no Hotel Unic, em Montparnasse, e que levavam uma vida de segredos e mistérios, com personalidades um tanto quanto voláteis. Entre esses jovens, encontrava-se Dannie, por quem nunca assume uma paixão, mas a qual se sente pelo deslumbramento e silêncios, por vezes calculados outras vezes ingénuos, descritos na primeira pessoa.

É através da sua relação com Dannie que conhecemos estes outros, os seus comportamentos, e que vamos navegando por uma investigação policial que foi feita aos mesmos ainda durante a sua juventude. Mas os dois grandes pontos centrais nesta walk on memory lane, na minha opinião, são a forma como passados quase cinquenta anos se percepciona o passado e as opções tomadas, e depois a relação com Dannie e o quanto Jean não sabia sobre ela, mas ainda assim transportava consigo um nível de adoração que ainda faz ecos no presente.

Tendo sido a primeira vez que li Patrick Modiano, e dadas algumas expectativas altas, penso que fiquei com a sensação de saber a pouco. Não se trata da qualidade da sua escrita, que realmente tem um tom poético, saudosista, romântico e ao mesmo tempo quase indiferente, como se o distanciamento pudesse ainda magoar, mas sobretudo proteger. Estou convencida que foi a história em si, mais propriamente a relação de Jean com Dannie, que acaba por ser a força motriz do livro. Dito isto, penso que o gosto por esta narrativa será sempre algo muito pessoal. Se a vossa decisão em lê-lo for baseada na qualidade da sua escrita, então sim, vale muito a pena.

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[Opinião] Princípio de Karenina, de Afonso Cruz https://branmorrighan.com/2022/08/opiniao-principio-de-karenina-de-afonso-cruz.html https://branmorrighan.com/2022/08/opiniao-principio-de-karenina-de-afonso-cruz.html#respond Wed, 17 Aug 2022 10:58:25 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25374
Princípio de Karenina

Princípio de Karenina
Afonso Cruz

Companhia das Letras

O amor corrige o mundo. Mas será a presença do amor suficiente para corrigir o mundo, ou será necessário uma certa intensidade, uma certa proximidade com o desastre e o desespero, para agir? Princípio de Karenina é o primeiro livro da série Geografias de Afonso Cruz, já publicado em 2018. Há uma série de anos que não escrevo sobre os livros do Afonso. Não que não o leia, porque tenho lido todos, mas porque receio sempre cair nos lugares comuns, de me repetir, de não ter nada de novo para dizer. Li o Princípio de Karenina, pela primeira vez, pouco depois de ter sido publicado. Esta semana, decidi relê-lo.

Acho que nunca me vou cansar de me sentir fascinada com o efeito de reler um livro, constatando que a nossa posição no mundo, o nosso estado de espírito quando lemos um livro, tem um efeito tremendo na forma como o lemos, como o interpretamos. E talvez por Princípio de Karenina evocar precisamente esse sentido de viagem, ao mesmo tempo de imobilização, dei conta de vários efeitos muito subtis que não tinha sentido na primeira leitura.

E o primeiro efeito, e talvez o mais surpreendente para mim, foi a empatia ampliada pelo protagonista. E, talvez, se já leram o livro, vocês vão pensar: como é que é possível? Por tantas razões. Comecemos pelos deimos e phobos, unidades do medo. Apesar do nosso protagonista ter sofrido um condicionamento brutal por parte do pai, estes deimos e phobos não deixam de existir para quem sofre de uma certa ansiedade espacial. A forma como se mede o desconforto e o risco ou a confiança numa determinada acção poderia certamente usar estas medidas.

Enquanto este pai escreve esta carta de amor à sua filha (porque não deixa de ser uma carta de amor), vivemos com ele uma viagem de aproximações e afastamentos, um medo irracional do desconhecido à distância da porta de entrada da casa, que só começa a ser desconstruído quando um agente estrangeiro entra precisamente por aquela mesma porta. Se até então as janelas deviam estar sempre fechadas, há uma janela que se abre e que se torna impossível de fechar. E se por um lado esta janela representa esperança, a mesma não é capaz, com toda a sua luz, de afastar o medo da mudança e o comodismo.

Até ao dia em que contratámos a tua mãe, eu vivia uma rotina amável, a meia-luz, sem sobressaltos, cego às dores alheias. A partir desse instante, a solidez da minha rotina começou a abrir uma brecha por onde entrava luz. A presença dela haveria de perturbar o tédio nosso de cada dia, abrindo uma janela por onde quer que passasse.

Princípio de Karenina é uma ode à fragilidade e à força humana. Dois pesos que se tentam equilibrar de forma constante, mas muitas vezes de forma muito precária. Quem é que termina este livro e não fica a pensar também no Dois Metros e na cegueira (in)consciente? Quantos Dois Metros temos nós nas nossas vidas? Quem é que não fica a pensar na forma cega como às vezes se fica obcecado com um amor para depois, depois de tantos actos potencialmente irreflectidos e irracionais, se aperceber que afinal era algo oco? Também a finitude, a morte, tem um papel importante tanto na nossa coragem como na nossa cobardia.

Mas aliviemos a seriedade deste texto, que já vai longo, e passemos à leveza dos pormenores belíssimos da escrita de Afonso Cruz. É aqui que provavelmente me vou repetir, mas depois de tanto tempo sem o fazer, tenho a certeza que vocês me perdoam. Como já nos foi habituando, também Princípio de Karenina é rico não só em referências literárias (penso que o título fala por si mesmo) como também é encantador na forma como mistura e reinventa conceitos científicos e filosóficos.

Dado que esta obra resulta também de uma viagem do autor ao Vietname e ao Camboja, não será de estranhar a referência à Cochinchina e a forma como o autor entrelaça a forma como usamos a expressão à sua referência espacial. A certa altura do livro, o protagonista tem uma guia turística, a Sun — thank you so much — e eu só me ria a imaginar o próprio autor a interagir com esta pessoa e a trocar aqueles diálogos. E há sempre algo de especial quando sentimos uma experiência real no meio de um romance.

Quando ouvi a palavra Cochinchina, sem me aperceber de que era o amor que eu temia e não o monstro da minha infância, levantei-me e disse gravemente, tal como teria feito o meu pai num a situação idêntica se fosse ameaçado pelo estrangeiro ou pelo amor: fechem as janelas.

No geral, Princípio de Karenina irá tocar cada um de nós nos nossos nervos mais sensíveis. Apesar da minha empatia acrescida pelo protagonista, não posso dizer que seja um personagem fácil de gostar e se talvez nem seja suposto. No entanto, a sua evolução ao longo da estória culmina numa espécie de redenção que atenua as infinitas formas de imperfeição que é a vida humana.

Como esta dissertação já vai mais que longa, deixo uma última referência ao papel da deformidade, da música, de todas as imperfeições que nos acompanham, que nos salvam e nos condenam e como ainda assim está sempre do nosso lado a dúvida sobre se a felicidade é um caminho ou um destino.

É certo que: Existem infinitos lugares para estar errado, apenas um para estar certo, dois e dois tem um resultado correcto e infinitos resultados errados. É assim que funciona a entropia e os copos partidos/inteiros. Existem inúmeras configurações para os cacos de vidros partidos, mas apenas uma para ter o copo original. Todos os quadrados perfeitos, se nos abstrairmos das suas dimensões, são iguais. São as mazelas, as imperfeições, que fazem ‘quadrados’ diferentes, imperfeitos.
Porém, a felicidade não obedece a essas regras. Estar no lugar errado pode ser fonte de felicidade. Matar-me pode ser fonte de felicidade. Não há condições certas para ser feliz. Existem condições propícias para se estar contente, ou momentaneamente feliz, mas não para ser feliz. Todas as disposições de cacos de vidro podem ser modelos de felicidade. Disposições imperfeitas, cada uma à sua maneira, mas felizes, cada uma à sua maneira.

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[Opinião] A Tentação de Sermos Felizes, de Lorenzo Marone https://branmorrighan.com/2022/08/opiniao-a-tentacao-de-sermos-felizes-de-lorenzo-marone.html https://branmorrighan.com/2022/08/opiniao-a-tentacao-de-sermos-felizes-de-lorenzo-marone.html#comments Sun, 14 Aug 2022 10:26:50 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25366
A Tentação de Sermos Felizes, de Lorenzo Marone
Porto Editora

A Tentação de Sermos Felizes engana-nos logo pela capa e pelo título. O que é que quero dizer com isto? Quero dizer que, se forem como eu, à primeira vista parece um romance de algibeira e, novamente, se forem como eu, isso pode fazer com que não seja muito atraente à primeira vista. No entanto, este livro foi-me oferecido por uma grande querida amiga minha e isso fez com que pegasse nele mais cedo ou mais tarde. A surpresa boa é que podia ter pegado nele mais cedo!

Este romance é narrado por um idoso, Cesare, de 77 anos que vive agora sozinho num apartamento num prédio habitado por personalidades bastante singulares. A senhora dos gatos, o amigo velhote que já não sai de casa e agora um casal mais jovem cuja relação desperta curiosidade desde o início. Para além disso, tem dois filhos, Sveva e Dante, cujas personalidades são tão distintas e com quem se desleixou durante tanto tempo. A sua rotina diária vê laivos de chama quando interage com Rossana, a sua “enfermeira”. Ao mesmo tempo que o enredo se desenrola no presente, Cesare vai-nos contando sobre três mulheres inacessíveis que ficaram no seu passado.

A Tentação de Sermos Felizes é muito mais do que um romance, é uma dissertação sobre a velhice e a solidão, um relato cru e realista sobre o que as não decisões podem provocar a longo prazo. Também o tema da violência doméstica e do custo do silêncio, mesmo a pedido das vítimas, é brutalmente arrebatador. A homossexualidade dentro da família, os amores não vividos, os filhos a herdarem comportamento dos pais, o preconceito com outras classes sociais e conclusões tiradas antes do tempo, tudo narrado sem falinhas mansas, fazem desta obra e destas personagens uma pequena relíquia.

Lorenzo Marone constrói neste livro uma narrative inteligente, mordaz, sensível e comovente, ao mesmo tempo que nos provoca uma constante reflexão. Enquanto não se vive uma dor na primeira pessoa, não podemos entendê-la. E, no entanto, quantas pessoas usam impropriamente as palavras “como eu te entendo”. Não entendes mesmo a ponta de um corno, meu lindo, era o que devíamos responder-lhes. Sai daqui uma bela recomendação. Quem sabe para o final do vosso Verão. Podem comprar aqui.

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[Opinião] Spark: The Revolutionary New Science of Exercise and the Brain, de John J. Ratey, MD, com Eric Hagerman https://branmorrighan.com/2022/05/opiniao-spark-the-revolutionary-new-science-of-exercise-and-the-brain-de-john-j-ratey-md-com-eric-hagerman.html https://branmorrighan.com/2022/05/opiniao-spark-the-revolutionary-new-science-of-exercise-and-the-brain-de-john-j-ratey-md-com-eric-hagerman.html#respond Sun, 15 May 2022 16:05:55 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25268
Spark: The Revolutionary New Science of Exercise and the Brain

Spark: The Revolutionary New Science of Exercise and the Brain

John J. Ratey, MD
Eric Hagerman

Editora: Little, Brown Spark

Desde há uns anos para cá que o meu interesse pela forma como o nosso cérebro funciona tem aumentado exponencialmente. Tudo começou com uma pequena proposta de explorar uns dados de fMRI de pessoas com esquizofrenia, que me deixou com mais perguntas do que respostas. Spark não é sobre esquizofrenia, mas deu-me imensas respostas sobre tantas outras perguntas que já tinha feito, e até algumas em que nunca tinha pensado.

Fazer exercício e praticar desporto é tanto o maior aliado de muitas pessoas como também o grande Adamastor de outras tantas. Já tendo sido atleta de alta competição, lembro-me bastante bem da grande maravilha e adrenalina que era estar em pico de forma. No entanto, três cirurgias depois, também conheço a sensação de só de pensar em fazer exercício e querer ficar ainda mais quieta… Não é fácil começar, mesmo sabendo que a médio-longo prazo vai compensar.

Spark começa com John J. Ratey a contar-nos a história de uma escola americana que não costumava ter grandes resultados académicos até terem começado a abordar a educação física de uma forma diferente. O caso de estudo de Naperville, Illinois, é bem conhecido pelos familiares da área, mas parece-me pouco divulgado pelo mundo. Se correr com regularidade aumenta a capacidade cognitiva e performance escolar, porque é que esta reeducação não está a ser feita pelo mundo inteiro? Mais do que obrigar as crianças a correrem porque sim, porque não educar tanto alunos como professores de que forma é que o exercício físico pode fazer toda a diferente no presente e futuro tanto ao nível dos estudos como de saúde?

O que mais me agrada em Spark é precisamente a forma como está documentado e a sua acessibilidade mesmo para quem possa não ter grandes bases científicas. Começando com este exemplo da escola de Naperville, o autor leva-nos por uma série de capítulos em que aborda o impacto do exercício físico tanto a nível micro como macro. Stress, depressão, doenças neuro-degenerativas, motivação, bem-estar e ansiedade, são apenas alguns dos tópicos referenciados. Mais do que isso, os autores revelam mecanismos e ferramentas para optimizar a prática e os seus benefícios.

E para quem já está a levar as mãos à cabeça, a maior parte dos estudos que destacam os benefícios do exercício físico na saúde física e mental têm como referência caminhadas! E para nos ajudar, referenciam os intervalos do ritmo cardíaco a que devemos chegar e durante quanto tempo. Hoje em dia temos pulseiras e relógios a preços acessíveis que nos permitem rastrear o nosso ritmo cardíaco e a qualidade do sono. Podemos usar essa informação como guia para alterarmos o nosso dia e aumentarmos a nossa qualidade de vida. Não tem tanto a ver com o livro, mas por estas razões recentemente adquiri uma e se quiserem depois posso dar-vos o meu feedback.

Resumindo, a escrita deste livro está no tom certo (li esta versão em inglês, não encontrei tradução em português), a narrativa tem tanto dados científicos como exemplos reais e é impossível chegar ao fim sem pelo menos ficar com o bichinho de nos começarmos a mexer um pouco mais diariamente. Não só porque estarmos fit nos proporciona a oportunidade de nos sentirmos bem e confiantes na nossa pele, como também pelos efeitos a nível de rejuvenescimento e retardamento do envelhecimento a nível celular. Recomendo a leitura!

Outras Leituras

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[Opinião] Anna e o Homem Andorinha, de Gavriel Savit https://branmorrighan.com/2022/04/opiniao-anna-e-o-homem-andorinha-de-gavriel-savit.html https://branmorrighan.com/2022/04/opiniao-anna-e-o-homem-andorinha-de-gavriel-savit.html#respond Sat, 09 Apr 2022 11:54:41 +0000 https://branmorrighan.com/?p=25261
Anna e o Homem Andorinha

Anna e o Homem Andorinha
Gavriel Savit

Editora: Suma de Letras Portugal

Anna e o Homem Andorinha, de Gavriel Savit, foi uma das obras que repesquei enquanto movia os livros para um sítio novo. Lembro-me que quando saiu houve logo imensas opiniões positivas sobre o mesmo, mas entretanto a oportunidade de o ler perdeu-se para agora surgir novamente. Costumo dizer que são os livros que nos escolhem e não o contrário, e talvez influenciada pelos tempos que vivemos, da invasão da Rússia à Ucrânia, senti-me compelida a mergulhar nesta história.

Lida a última página, fiquei cheia de sentimentos mistos. Anna e o Homem Andorinha é passado na Segunda Guerra Mundial, enquanto a Polónia servia de palco de guerra. Entre ursos e leões, alemães e russos, Anna ficou sem o pai e fica praticamente entregue a si mesma até encontrar um completo desconhecido que acaba por cativá-la com uma espécie de fala com uma andorinha. Entre o primeiro momento, ficar sem o pai, e o segundo, encontrar o Homem Andorinha, conhecemos desde logo a capacidade descritiva e intensa da escrita do autor. A nossa protagonista tem apenas sete anos e é impossível ficar indiferente à forma inocente como tenta lidar com os acontecimentos à sua volta.

Com a chegada do Homem Andorinha, uma nova etapa começa. E há algo de profundamente perturbador, mesmo que não evidente, ao longo desta história toda. Anna, sendo filha de um professor, consegue falar várias línguas, tal como o Homem Andorinha. No entanto, para que esta relação funcione é preciso que algo fique claro desde o início — eles têm de se tornar ninguém. Um nome é muito poderoso e dá-lo de graça a alguém pode custar as suas vidas. Ainda para mais se forem judeus.

Enquanto Anna e o Homem Andorinha atravessam o país, às vezes com a sensação de andarem aos círculos, vão encontrando vários intervenientes com os quais muitas vezes têm de negociar certos elementos da sua sobrevivência. Porém, há algo que vai inquietando Anna, o não saber quase nada do Homem Andorinha e os medicamentos que ele toma, religiosamente, três vezes por dia. O percurso de Anna, que se inicia ainda num oceano de inocência e que termina num oceano já desperto para os reais perigos da vida, é descrito pelo autor de forma tão leve como desassossegante.

A evolução intríncada destes dois personagens, com tudo o que lhes vai acontecendo pelo caminho, remete-nos para pensamentos muito pessoais e para momentos de alguma ansiedade. Lembro-me de ler opiniões muito positivas sobre este livro em como a escrita é bela e a inocência retratada. Novamente, talvez por vivermos tempos de guerra, a proeza que o autor conseguiu comigo foi uma sentir uma revolta enorme por tudo aquilo a que os refugiados podem estar sujeitos enquanto fogem de uma guerra na qual perdem o direito da individualidade para se diluírem em qualquer coisa que os salve da brutalidade. E, ainda assim, nada está completamente garantido.

Gavriel Savit tem uma escrita bastante inteligente e até cinematográfica, embora no último quarto da obra me pareça algo perdido no rumo que queria seguir. O livro tem várias transições em termos de momentos na história e aquela última pareceu-me algo apressada. Se por um lado pode ter sido uma opção válida do autor, por outro lado o facto de tantas perguntas ficarem por obter resposta faz com que o final da leitura, na minha opinião, tenha sido algo agridoce. Resumindo, Anna e o Homem Andorinha é uma obra agradável e inquietante que se lê bastante bem num curto espaço de tempo.

Para outras opiniões podem visitar este link: https://branmorrighan.com/etiqueta/as-minhas-leituras

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